Capítulo 25

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Anahi


Da entrada da faculdade, vejo Alfonso se afastar e o medo começar a surgir. Eu evitei demonstrar qualquer tipo de receio na frente dele, não quero parecer uma covarde agora. Já passei por tanta coisa, enfrentei tantos problemas, então vou encarar a faculdade como uma escola normal, a parte mais difícil, que é ser aceita, eu já consegui, posso muito bem lidar com algumas pessoas.
Os alunos passam por mim, alguns em grupos, outros sozinhos, mas nenhum deles parece me notar. Respiro fundo e sigo direto para o prédio que me foi informado e busco pela minha sala.
-Olá, precisa de ajuda? - uma garota ruiva, um pouco mais alta que eu e muito sorridente se aproxima - Eu sou Judie.
-Olá, meu nome é Anahi. - sorrio de volta e aperto a mão que me é oferecida - Eu preciso muito de ajuda, é meu primeiro dia aqui, estou procurando a turma de Belas artes em Fotografia.
-Você está com sorte, Anahi, vamos ser colegas. - ela segura meu braço e praticamente me arrasta pelo corredor - Me diz, como conseguiu entrar no segundo semestre? Isso é praticamente impossível.
-A menos que ela seja filha ou conheça alguém importante. - um garoto alto, muito bem vestido e com os olhos azuis mais profundos que já vi, aparece por trás de nós - Bom dia, Judie. E então, novata, qual é a sua situação?
Nossa! O garoto nem sabe meu nome e já vem logo com esse tipo de pergunta? Bem que Savanah me avisou, a faculdade é cheia de caras que se acham os espertinhos.
-Brad, onde ficou a sua educação, deixou ela no dormitório? - Judie o repreende, mas sem deixar de sorrir - Não liga para ele, Anahi. Brad se acha um espertalhão, por sorte, não precisamos aturá-lo nas aulas, ele é do curso de Comunicação e Mídia.
-Precisa mesmo melhorar, e muito, a comunicação. - resmungo baixinho e como os dois não dizem nada, tenho certeza que não me ouviram.
-Fala aí, Anahi, qual o segredo para conseguir ingressar no segundo semestre da faculdade? Seus pais são muito ricos?
-Isso é meio invasivo, mas não. Meus pais vivem em uma pequena comunidade próximo a cidade de Libby e são praticamente produtores rurais, apenas dei sorte. - dou de ombros.
Não quero que todos aqui saibam que tive uma pequena ajuda de Phill e do Estado, e muito menos quero que saibam a profissão de Alfonso, ser agente do FBI requer cuidados e não vou contar para esse fofoqueiro espalhar minha história por todo o campus.
-MINHA NOSSA!!!! - Brad grita, assustando não só nós duas, mas parte dos alunos que andam pelo corredor - Garota, você é intensa!
Oh céus! Tudo o que menos precisava, o bocudo tem seus olhos presos ao meu pescoço.
-Brad, você nos assustou! - Judie lhe dá um soco no braço - As vezes você é tão escandoloso.
-Oh Judie, não vai me dizer que não reparou na gargantilha da sub aqui. - não contente em quase gritar novamente, ele aponta para o meu pescoço - O seu senhor existe mesmo ou você só quer ganhar mais atenção.
Nesse momento tudo o que eu desejo, é que o chão se abra e me engula. Eu deveria ter ouvido o Alfonso e a Savanah, eu ainda não estou pronta para certas situações, sinceramente não esperava que alguém aqui fosse reconhecer essa gargantilha.
-Brad, pelos céus, seja mais discreto! Isso não é da minha conta e muito menos da sua. - Judie parece um anjo pronta para me salvar desse pequeno demônio.
-Espera só até eu contar para os caras do time de basquete, você vai ser a sensação aqui na faculdade! - ele estala os dedos e solta uma gargalhada - Foi seu senhor que te ajudou com a faculdade, não foi?
-Pare com isso! - eu rosno de volta - Eu não tenho um senhor e se meu namorado ouvisse você falando algo assim, ele quebraria sua mandíbula! E para sua informação, o reitor me aceitou porque ficou encantado com meu portfólio de apresentação, nem todo mundo precisa ser um riquinho ou um babaca como você para entrar na faculdade!
Ok, acho que me exaltei, Judie me encara sem piscar e Brad não consegue fechar sua boca, tão abismado que está. Tudo o que eu menos precisava era arrumar uma discussão no meu primeiro dia.
Quando estou prestes a sair correndo e nunca maos voltar aqui, Judie e Brad disparam em uma gargalhada e me deixam sem entender nada. Absolutamente nada!
-Garota, isso foi demais. - Judie diz assim que deixa de rir - Acho melhor você e os caras do basquete ficarem longe dela, Anahi sabe se defender sozinha.
Brad dá de ombros e coloca as mãos nos bolsos da calça.
-Nem queria atormentar ela mesmo. - ele olha para o relógio pendurado na parede - Foi ótimo conversar com vocês garotas, mas tenho que correr para o meu prédio.
Vejo Brad correr para fora e Judie o admira, até mesmo chega a suspirar.
-Vocês... - eu aponta dele para ela e vice versa.
-Oh não...não. Eu bem que gostaria, mas ele só me considera como amiga.
-Brad não tem cara de quem cultiva amizades femininas.
-E não cultiva mesmo, sou a única azarada na friendzone. - ela solta mais um suspiro e me empurra para dentro da próxima sala - Chegamos, Anahi.

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-Como foi o primeiro dia, meu amor? - Alfonso me pergunta todo sorridente, assim que entro no carro.
-Foi bom, diferente do que pensei que seria.
Tirando o incidente com Brad e o modo como alguns alunos me olhavam, por causa da gargantilha, até que foi bom. Mas essa parte não vou contar ao Alfonso, não quero que ele se estresse com tão pouca coisa.
-Diferente como? O que você estava esperando?
-Acho que esperava pessoas mais maduras, parece que voltei para o colegial. - ele me oha e ri, não um riso comum, é quase uma gargalhada - O que é?! Estou falando sério! É como se eu estivesse em um daqueles filmes de comédia romântica que sua mãe assiste.
-Ah, meu anjo! O problema é que você se acostumou a estar perto de pessoas mais velhas, eles são jovens, todos com dezoito, vinte anos de idade.
-Não, eu me recuso a aceitar que pessoas da minha idade sejam todas como eles. Um dos garotos simplesmente apareceu na sala sem os sapatos!
-Ele é novo, assim como você?
-Sim, pelo que entendi ele tem um QI bem alto e por isso conseguiu ingressar no segundo semestre. Mas para alguém com QI alto, isso foi ridículo.
-É um trote, meu amor. - Alfonso parece aborrecido - Trotes desse tipo deveriam ser denunciados, provavelmente algum veterano o obrigou a ficar sem os sapatos para poder passar pelo ritual de entrada.
-Isso é...isso é monstruoso!
-Fique atenta, não faça nada constrangedor, nada que te obriguem e se precisar, me ligue. Eu virei no mesmo instante.
-Eu não fazia ideia que a faculdade poderia ser assustadora assim. - sinto um calafrio perpassar meu corpo.
-Vamos para casa, você precisa relaxar.
Alfonso aperta levemente minha coxa e eu sorrio. Oh, eu vou gostar muito de relaxar.

A EleitaOnde histórias criam vida. Descubra agora