Capítulo 27

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Anahi


Fico parada na calçada vendo o carro de Alfonso se afastar e só me viro para entrar na faculdade quando o perco de vista. Daqui ele vai direto para o trabalho encontrar sua nova equipe e partir para Vancouver, a partir de hoje , serão quatro longas noites sem ter o meu amor ao meu lado.
Olho para meu dedo anelar e sorrio como uma boba admirando o anel de compromisso que ele me deu hoje antes de se despedir, Alfonso disse que essa era a melhar maneira de demonstrar que estamos juntos, mesmo que separados pela distância, isso soou tão lindo e fico tão feliz em poder, de alguma forma, exibir que somos um do outro.
Enquanto sigo em direção aos corredores vejo uma pequena aglomeração no pátio interno, Brad e Judie correm para o meu lado, seus olhos atônitos e sei imediatamente que algo está errado.
-O que está acontecendo? - inclino minha cabeça em direção ao tumulto quando eles estão próximos o suficiente para me ouvir.
-Só quero dizer em minha defesa que eu não sabia que eles fariam algo assim. -Brad tem suas mãos erguidas, em sinal de rendição.
Me viro para Judie e ela morde os lábios, ansiosa. Sei que nos conhecemos apenas por um dia, mas foi o suficiente para saber que Judie é uma pequena garota inteligente, comunicativa e doce e que Brad, apesar de fofoqueiro, é divertido e muito sincero.
-Se você está se defendendo, alguma besteira já fez. - eu digo brincando, tentando aliviar o clima que parece um pouco tenso.
-Dessa vez ele está fora, Any. - Judie lança um olhar hostil para o aglomerado de alunos que parecem divididos entre risos e exclamações indignadas - Parece que o capitão do time de basquete encontrou sua vítima desse ano.
Sem entender muito bem o que ela quer dizer, me aproximo e abro caminho entre os alunos e horrorizada vejo Taylor, o aluno que estava sem os sapatos ontem, amarrado sem camisa, sentado no chão, enquanto os rapazes do time de basquete gritam o chamando de macaco e gay.
Nos últimos dias antes de ingressar a faculdade, aprendi muito com Savanah e Alfonso sobre bullying, racismo, homofobia e machismo, eles fizeram questão que eu aprendesse o suficiente para não passar por nenhuma situação ruim ou que estivesse ignorante quanto aos fatos que, para a maioria, seria um assunto normal de se falar.
Então, quando ouço o que eles dizem se misturar as risadas e o fato de ninguém estar fazendo simplesmente nada, transformam o horror que eu sentia em raiva e me leva a empurrar cada um deles da minha frente até que eu esteja ajoelhada ao lado de Taylor. Eu começo a desamarrá-lo quando sinto uma mão agarrar meu braço, olho para cima e vejo um dos idiotas do time de basquete tentando me erguer e dizendo para eu me afastar.
-TIRE SUAS MÃOS IMUNDAS DE MIM! - eu sei que estou gritando e não dou a mínima - Eu juro, que se não me soltar agora, você vai se arrepender pelo resto da sua vida inútil!
-Jason, solta ela. - o capitão do time comanda - Essa é garota da coleira, você não sabe quem é o dono dela. - ele me dá um sorriso cínico.
Eu me levanto lentamente e sei que tenho uma platéia inteira me assistindo.
-Isso mesmo, vocês não fazem ideia de quem é o meu homem. - eu provoco um pouco mais - Jason, eu tenho o seu nome e seu rosto gravados em minha mente, é bom ter mais cuidado a partir de hoje. Quanto ao resto de vocês, - eu aponto para todos, não só os caras do time, mas para os outros alunos que viram tudo e não fizeram nada para ajudar o Taylor - deveriam se envergonhar. O que faz vocês pensarem que são melhores que ele? Bullying, racismo e homofobia são crimes e eu não vou permitir que isso aconteça na minha frente e se eu voltar a ver qualquer um de vocês importunando o Taylor novamente, estarão em uma prisão antes mesmo que possam pensar em como foram parar lá.
Mentalmente agradeço por Brad ter fofocado sobre minha gargantilha com o time e ter deixado no ar o quanto meu "senhor" deve ser poderoso para conseguir que eu ingressasse na faculdade no meio do ano letivo. Agradeço também um filme que Judie me explicou que transformou o BDSM em algo famoso e admirado, preciso mesmo assistir esse Cinquenta Tons de Cinza que me deu um status de garota descolada e misteriosa.
A multidão de alunos aos poucos se dispersa e os rapazes do time seguem seu capitão para o ginásio, Judie e Brad se aproximam e me ajudam com Taylor.
-Brad, precisamos de uma camisa para ele. - eu peço e ele logo tira seu casaco, me passando - Pronto, Taylor. Está tudo bem agora.
Ele é só um garoto de dezessete anos, muito tímido e inteligente que conseguiu entrar para a faculdade no meio do período, uns cinco centímetros mais alto que eu, sua pele é um tom marrom-dourado tão lindo que deveria ser admirado.
Judie me ajuda a colocá-lo de pé e o levamos para a coordenação, Taylor parece incapaz de falar, mas não vou deixar que Jason e os outros saiam impunes.
-Obrigado, Anahi. - Taylor fala pela primeira vez desde o ocorrido - Se não fosse você, ninguém teria me ajudado.
-Não me agradeça, não fiz mais do que qualquer pessoa decente deveria fazer. - eu o abraço e sinto sua tensão - Acho que você deveria ir para sua casa e, Taylor, a partir de hoje, se alguém te incomodar, me avisa tá.
Ele concorda com a cabeça sorrindo, mas seus olhos estão nadando em lágrimas lutando para serem derramadas.
Judie e Brad me seguem pelo corredor, Taylor está dispensado, mas nós três ainda temos aula.
-E como você fica nessa situação, Brad? - ele não está mais usando o moletom do time e dá de ombros.
-Eu nunca gostei de basquete mesmo, agora posso me concentrar nas aulas e participar da redação do jornal do Campus. - ele abraça Judie e acena para mim antes de se afastar.
-Ele está bem? - pergunto a Judie.
-Vai ficar bem, Brad não fazia ideia que os caras eram tão escrotos e desumanos. - ela suspira e começa a caminhar - Brad pode ser um bocudo, e as vezes muito bobo, mas ele não é ruim.
-Eu sei que não, convivi muito tempo com pessoas ruins, sei reconhecer uma quando a vejo. - eu a empurro com meu ombro - É por isso que não fiquei brava com ele por espalhar por aí que sou a submissa de algum senhor.
Judie me olha espantada, mas ao ver que estou rindo, ela me acompanha e pelo resto do dia tentamos esquecer o que ocorreu esta manhã.
Eu nunca realmente imaginei que presenciaria um ato tão desumano e não acredito que essa seja a última vez que eles vão perseguir o Taylor, mas eu estarei aqui para ajudá-lo e tenho certeza que Alfonso ficará ao meu lado.

A EleitaOnde histórias criam vida. Descubra agora