Alfonso
Sentado no sofá ao canto, eu observo minha Anahi impor sua opinião sobre tudo o que a vendedora tenta lhe empurrar. Tenho certeza que mesmo que ela não corresse o risco de ser a Eleita, ela teria fugido daquela comunidade, Anahi não nasceu para obedecer de cabeça baixa, apesar de toda sua inocência e doçura, ela é forte e decidida.
Vejo ela caminhar em minha direção, seu olhar descontente e um beicinho zangado já se formou em sua boca.
-Alfonso, quando você disse que eu poderia escolher minhas próprias roupas, você estava falando a verdade?
A vendedora aparece atrás, tão descontente quanto Anahi, mas o que ela sente pouco me importa, eu só quero ver o meu anjo feliz.
-Claro que sim, você pode escolher o que quiser.
-Então por que essa mulher insiste em querer mandar em mim como se fosse minha mãe, empurrando um monte de coisas que eu não quero?
Ouço a vendedora arquejar indignada e seguro minha vontade de rir, seguro as mãos de Anahi a puxando para o meu colo para explicar a função da vendedora.
-Meu anjo, esse é o trabalho dela. Como vendedora, ela te oferece várias coisas que tem na loja e você decide se quer ou não.
-Eu tentei explicar isso a ela, senhor.
Agora ela tem um olhar petulante e isso me irrita, provavelmente entendeu errado que eu a estou defendendo e contrariando minha Anahi. Antes que eu possa dizer algo, Anahi já está revirando os olhos e falando.
-Ela não está me oferecendo nada, a não ser que ela geralmente diga a todas as clientes que elas não sabem escolher lingeries que agradem os homens.
Eu olho para a vendedora que afasta seu olhar e parece constrangida, provavelmente pensou que Anahi fosse tola demais para repetir as mesmas palavras para mim.
-Eu não quis dizer isso... - ela tenta mostrar arrependimento quando olha de Anahi para mim.
-Oh, você quis dizer exatamente isso. Disse que eu não sei como agradar aos homens e deveria aprender com você, só porque escolhi esse sutiã.
Finalmente olho para as mãos da vendedora e vejo um sutiã simples de seda bordado com pequenas rosas. Isso realmente ficaria doce e sensual em minha pequena.
-Você não tem que agradar homens. - sei que minha voz soou áspera e o olhar frio que lanço para a vendedora a faz dar um passo para trás.
-Foi o que eu disse a ela, eu não tenho que agradar homens, eu tenho que agradar somente um homem. E é você!
Anahi tem um sorriso tão lindo quando olha para mim, que por um instante esqueço que estamos em um local cheio de pessoas.
-Não meu pequeno anjo, você tem que se agradar em primeiro lugar. Se você não estiver confortável e segura, eu vou sentir isso. Esqueça tudo o que você aprendeu no passado, e enquanto estivermos fazendo compras, escolha o que você quer.
-Oh céus! Ele é tão lindo, não é?! - Anahi olha para a vendedora e de volta para mim - Sou muito sortuda por ter conseguido escapar daquele lugar direto para a sua vida.
Seus olhos estão radiantes outra vez e ela sai saltitante pela loja, sendo seguida por uma vendedora silenciosa.
A próxima meia hora eu observo Anahi ir e vir pela loja, escolhendo e devolvendo acessórios, até que a vejo passar em frente a uma porta que leva a uma sala de paredes vermelhas. Me levanto, indo direto para lá, nenhuma mulher parece interessada em entrar e minha curiosidade aumenta.
As paredes estão cheias de algemas, chicotes e muitos outros acessórios que não tenho conhecimento. Há também uma vitrine com coleiras e gargantilhas e uma em especial me chama a atenção, ela é de ouro e tem um cadeado em forma de coração e duas chaves. Ficaria tão lindo no pescoço da minha Anahi.
Sinto uma mão tocar minhas costas e por instinto me afasto, mas volto a relaxar ao ver que é ela.
-É tão bonito... - ela diz olhando para a mesma gargantilha que eu admirava segundos antes.
-É uma coleira BDSM, para o dominador marcar sua submissa. - a vendedora esclarece.
-Não sei o que é isso, mas eu achei linda.
Anahi morde o lábio inferior e sei que estou totalmente perdido.
-Isso seria para marcar que você é minha, Anahi.
-Eu não me importaria. - Anahi sorri e beija meu rosto antes de sair da sala.
Meu pequeno anjo parece ser, na verdade, uma pequena diabinha.
-Eu vou levar esse. - indico a outra vendedora que se aproximou.
-Como quiser, senhor.
É impossível não sorrir, eu pensaria em comprar alianças, mas Anahi...bem, Anahi vira meus conceitos de cabeça para baixo.Passamos o dia no shopping e a euforia da Anahi é contagiante, quero que seja um dia especial e por isso não falo sobre a ligação de Phill na noite anterior.
Ele já estava com a equipe pronta para ir a comunidade e me pediu para ficar atento ao celular para receber atualizações. Logo pela manhã a mensagem que me enviou não era nada boa, minha cabana tinha sido arrombada e não me lembro se deixei para trás algo que identificasse onde moro.
Agora mantenho minha mão no bolso, apertando meu celular, esperando uma mensagem ou ligação dizendo que prenderam o filha da puta. Eu pessoalmente prefiro ele morto.
-O que você tem, Alfonso? - Anahi me olha curiosa.
-Nada. - dou de ombros e continuo a andar para fora do shopping.
-E esse nada te fez apertar minha mão tão forte assim?
Olho para nossas mãos unidas e percebo que tenho um aperto mais forte, nada que a machuque, mas o suficiente para que ela note.
-Só confirmando que você está realmente aqui.
Ela sorri e isso me tranquiliza, sei que acreditou em mim e que não vai fazer mais perguntas, Anahi não precisa se preocupar com nada mais que envolva aquela comunidade, eu cuidarei para que esteja sempre segura.
-O que acha de ir conhecer minha mãe e minha irmã?
-Eu adoraria! Mas precisamos ir para sua casa primeiro, tenho que me trocar. Preciso estar apresentável e ser motivo de orgulho para você.
-Nossa casa. E você já é motivo de orgulho para mim, fugiu de uma comunidade abusiva e a denunciou. Tem ideia de quantas vidas você salvou?
Anahi nega com a cabeça e vejo seu rosto corar, minha doce menina é tão forte e ainda assim tão frágil.
-Tenho certeza que minha mãe e minha irmã vão amá-la.
Eu só espero que minha mãe seja discreta e Savanah não venha com um interrogatório digno de tribunal, ela costuma ser bem exagerada, mas nunca erra ao julgar o caráter de uma pessoa. Ela acertou sobre Eve e eu ignorei, agora a pimentinha não perde a chance de jogar isso na minha cara.
Bom, dessa vez ela não vai ter como me criticar.
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A Eleita
RomanceAnahi nasceu e foi criada dentro da Comunidade Crystal Lake, não havia contato com o mundo exterior exceto por um ou outro conselheiro tutelar que surgia muito raramente à procura de irregularidades e abusos. Mal sabiam eles das condições e regras. ...