Anahi
Assim como Alfonso havia dito, Phillip concordou de imediato com minha ideia de levar Lindsay a um local mais descontraído, ao longe os dois nos vigiam enquanto caminho com ela em direção ao gramado próximo ao lago, não sei se todos os dias são tranquilos assim, mas agradeço mentalmente por estar praticamente vazio hoje.
Lindsay se senta sobre a grama e brinca com o bordado de seu vestido, ela parece estar muito mais tímida que o normal.
-Aqui é bonito, você não acha? - pergunto tentando puxar assunto.
-É diferente...
A resposta dela é simples, mas sei exatamente do que ela está falando. É sobre como tudo é tão diferente de nossa comunidade.
-O diferente também pode ser bom. As vezes, é até melhor.
Lndsay se volta para mim e posso sentir seu olhar me analisando, sua cabeça deve estar fervilhando com todas novas informações para assimilar e mesmo assim, ela tenta manter um ar sereno.
-Você está feliz aqui, Anahi? - ela volta a olhar para o gramado - Edward me disse que você encontrou alguém que ama de verdade e que ele não te castiga.
-Estou mais do que feliz, Lindsay. Como eu disse, algumas mudanças podem ser boas. - levanto seu rosto com minhas mãos para que possa me ver, quero que ela veja toda a sinceridade das minhas palavras, refletidas em meus olhos - Não vou negar que tive medo quando fugi da comunidade, mas eu não poderia mais suportar viver lá, sendo castigada pelo simples fato de ter falado sem autorização, ou ter que me casar com alguém que eu não amasse. Sair de lá, foi de longe, a melhor escolha que já fiz, Alfonso me ama e eu o amo, vou poder continuar meus estudos e vou poder trabalhar, eu não preciso da autorização dele para falar ou estar em algum lugar e ele não me castiga.
-Ouvindo isso, parece que aqui é tudo tão perfeito.
Ela suspira alto e eu sorrio, poderia deixar Lindsay pensando que aqui é um conto de fadas, mas sei que para chegar até ela, preciso ser totalmente sincera.
-Quando eu conheci o Alfonso, cheguei a acreditar que aqui era um paraíso, mas hoje eu sei que o perfeito não existe, mas diferente da comunidade, podemos fazer nossas escolhas e buscar apoio. Não estamos sozinhas.
-Eu sempre quis ser professora. Aqui eu vou poder ser? - vejo seus olhos brilharem em expectativa.
-Aqui você pode ser o que quiser, é só continuar sendo uma aluna aplicada e sei que você vai conseguir. - o sorriso dela aumenta, mas sei que preciso fazê-la falar sobre Mary - Lindsay, acho que Edward conversou com você sobre a Mary.
Ela confirma com a cabeça, mas permanece em silêncio.
-Você gostava dela?
-Mary fazia doces gostosos para mim e, as vezes, tomava os meus castigos para ela.
-E se houvesse uma oportunidade de ajudar a Mary, você faria?
-Quando Edward falou comigo, eu fiquei com medo. - me confidencia enquanto brinca nervosamente com seus dedos - Eu tenho medo que todos na comunidade me odeiem e me deixem sozinha.
-Eu tenho certeza que todos na comunidade me odeiam, inclusive meus pais. Mas o tipo de amor que eles ensinam, é do tipo que faz mal. Eu também tive medo, Lindsay, mas aí encontrei Alfonso, a mãe e a irmã dele e agora eu tenho uma nova família. - eu dou um leve sorriso e a chamo para mais perto com meu dedo indicador como se fosse contar um segredo - Se você nos ajudar e a Mary estiver viva, você pode formar uma nova família com ela e Edward. Você gostaria disso?
Esperança brilha em seus olhos e sei que toquei no ponto correto. Lindsay é uma garota carente e tudo o que ela precisa é de uma família que ofereça amor e apoio.
-Isso é possível?
-Edward ficará muito feliz com sua ajuda e se encontrarmos Mary, ela ficará feliz em te encontrar. E então, o que me diz?
Lindsay muda seu olhar para o lago e, por alguns minutos, ela parece perdida em um conflito interno. Eu deixo que ela tenha seu tempo, não quero pressioná-la e perder a confiança que já conquistei.
Olho para trás de nós e vejo, ao longe, Alfonso e Phillip sob uma árvore, parecem estr distraídos conversando e minha atenção está toda no homem maravilhoso que me resgatou.
-Anahi, - Lindsay me chama a atenção de volta para ela - eu quero ajudar a Mary e o Edward.
-Você não faz ideia do bem que está fazendo. - seguro suas mãos entre as minhas - Poderia começar contando o que viu na noite em que, supostamente, a Mary morreu? Edward disse que você sabe de algo que pode ajudar, seja o que for, qualquer coisa.
-As vezes, tenho dificuldade para dormir, na noite em que Mary morreu, eu estava na sala de costura, gostava de ficar lá e observar o céu. Papai não me viu porque deixei as luzes apagadas, mas eu vi quando ele desceu as escadas com Mary nos braços e entregou para um homem que eu nunca vi antes. - fechou os olhos como se buscasse lembrar de todos os detalhes - Ele tinha uma estrela no peito, usava um chapéu e uniforme, lembro que papai disse exatamente assim, "espero que mais essa mantenha seus homens longe da nossa comunidade e de mim".
-E o outro homem, o que ele fez?
-Ele deu uma risada e disse ao papai "por enquanto sim" e logo saiu levando Mary com ele.
-Mais alguém estava com eles? - era impossível qualquer forasteiro passar por nossas cercas sem ser identificado por algum vigia.
-Willian esperava perto da porta, ele não falou nada, não se moveu até papai dar a ordem. Isso é tudo o que eu sei, Anahi.
-Vou precisar contar tudo isso ao Alfonso, tenho certeza que ele vai saber o que fazer com toda essa informação. - eu a abraço e beijo sua testa - Você é uma garota incrível, Lindsay. Mary ficará orgulhosa de você.******** ******** ******** ********
-É como procurar uma agulha no palheiro. - Phillip suspira frustrado - A garota teve boas intenções, mas há muitos forasteiros que poderiam ajudar o Joe.
Ele tem razão, sou obrigada a reconhecer que a informação de Lindsay é muito vaga.
Depois de deixá-la aos cuidados de Edward, Phillip, Alfonso e eu fomos para sua sala e contei tudo, exatamente como Lindsay me confidenciou. Phillip parece cansado e desanimado, mas Alfonso mantém seu olhar distante, o dedo indicador sobre a boca, eu diria que é quase possível ver as engrenagens de seu cérebro funcionando.
-Pode repetir a história, Anahi, por favor. - é a primeira vez que ele fala desde que contei tudo - A parte que Lindsay descreveu o forasteiro.
-Ela disse que ele usava chapéu, uniforme e tinha uma estrela no peito.
Alfonso sorri de canto e puxa seu notebook digitando com uma rapidez que me deixa tonta. Phillip apenas o observa em silêncio, talvez porque não queira interromper o raciocínio de Alfonso e eu apenas sigo seu exemplo.
Minutos depois, Alfonso ergue seu punho dando um soco no ar e um sorriso nos lábios.
-Temos um nome. - ele diz como se Phillip e eu já soubéssemos das suas ideias - Lindsay disse que o homem usava chapéu, uniforme e tinha uma estrela no peito. Apenas xerifes de cidades pequenas ostentam essas estrelas. Não foi difícil encontrar um com antecedentes duvidosos, dispensado pela polícia de Nova York e que se escondeu em Libby.
-Merda, Alfonso! O que eu faria sem você? - Phillip aperta o ombro dele de maneira amigável - Como eu pude me esquecer disso?
-A primeira peça do quebra-cabeça nós já temos, agora é verificar as contas e as propriedades desse xerife, se ele estava pegando mulheres como forma de "pedágio", elas com certeza estão vivas.
Eu sou incapaz de dizer qualquer palavra, apenas agradecendo mentalmente à vida por trazer Alfonso para mim.
-Vou começar a coordenar uma nova ação na cidade de Libby, enquanto você arruma um jeitinho para que possamos conseguir um mandato para as propriedades desse xerife. - Phillip agora parece estar bem animado ao falar com Alfonso.
-Não vai ser difícil, ele tem algumas movimentações bancárias bem suspeitas, datas que cruzam exatamente com depósitos ou transferências da conta de Joe para aquela conta do paraíso fiscal.
-Ainda bem que você desistiu daquelas férias. - Phillip ri alto - Por hoje você está dispensado, Alfonso, vá para a casa e leve sua Anahi com você.
Alfonso se levanta e envolve um braço em minha cintura enquanto nos despedimos de Phillip e deixamos o prédio.
-Por que tão quietinha, meu anjo? - ele pergunta assim que entramos no carro.
Eu me viro para olhá-lo e meu peito se enche de orgulho e amor por esse homem tão especial.
-Ver você trabalhando, tão rápido, tão eficiente, tão inteligente...me sinto tão orgulhosa por você, acho que me apaixonei ainda mais, Alfonso.
Ele solta uma gargalhada tão gostosa que vibra em meu interior.
-Ah, Anahi, eu te amo. - as palavras são ditas carregadas de amor e alegria e me sinto tão afortunada.
-Também te amo, Alfonso.
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A Eleita
RomanceAnahi nasceu e foi criada dentro da Comunidade Crystal Lake, não havia contato com o mundo exterior exceto por um ou outro conselheiro tutelar que surgia muito raramente à procura de irregularidades e abusos. Mal sabiam eles das condições e regras. ...