Capítulo 39

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Anahi

Fechei a porta atrás de mim e me joguei contra o sofá, suspirei aliviada ao pensar que minha vida voltaria ao normal em três semanas. Retirei as sandálias, finalmente dando um descanso aos meus pés, depois de passar o dia todo correndo com os preparativos do casamento. Minha sogra e minha mãe não me deixavam um minuto sequer, aproveitando que Alfonso estava fora da cidade a trabalho. Havíamos nos despedido na manhã anterior e provavelmente Alfonso não voltaria antes do final de semana, o que deixava minha semana completamente vazia e livre para que nossas mães perdessem o controle e deixassem a euforia gritar mais alto.
-Eu realmente preciso de um banho e uma boa massagem. - resmungo me levantando do sofá - Eu realmente preciso de você, Alfonso! - digo choramingando, manhosa, torcendo para que os dias passem logo ou que o caso seja resolvido o mais rápido possível.
Os meses passaram tão rápido que eu mal consigo acreditar que logo me tornarei a senhora Anahi Herrera, tudo está indo tão bem, me formei na faculdade há duas semanas, tenho meu próprio estúdio fotográfico e vários pedidos de trabalho, meu vestido de noiva só precisa de alguns pequenos ajustes e já perdi a conta de quantas vezes revisei a decoração a pedido de Hillary e minha mãe.
Alfonso estava mais tranquilo tendo a certeza de que mantinham um olhar sobre o possível esconderijo de Willian, mas sei que no fundo ele tem uma certa desconfiança. Eu entendo ele, também acho difícil acreditar que Willian tenha deixado algo tão bobo passar despercebido, ele tem se mantido nas sombras por dois anos, esperando e espreitando e tenho certeza que em algum momento ele virá atrás de mim.
Sinto um arrepio em minha coluna só por pensar na possibilidade de que esse louco consiga colocar suas mãos sobre mim. Saio da banheira no exato momento em que meu celular toca e sorrio ao olhar o visor vendo o nome de Savanah na tela.
-Olá minha linda cunhadinha! - atendo feliz, detesto me sentir sozinha em casa.
-Olá, pequena Anahi! - ela parece bem animada - Eu estava pensando, agora que nossas mães finalmente te liberaram e você está sozinha na sua casa, que tal uma noite das garotas?
Meu cansaço desaparece e me animo na mesma hora, ter a noite das garotas com Sav, Judie e Rose é o que preciso agora, um bom jantar com minhas amigas, seguido de uma rodada de bebidas em um pub cairia muito bem.
-Eu realmente não vou negar a esse convite. - coloco uma roupa qualquer, enquanto respondo e olho para o relógio na mesa ao lado da cama - Agora são quatro, me dê até às oito. Preciso muito descansar um pouquinho antes de sair.
-O que você precisar, Anahi. - ela faz uma pequena pausa e sei que Sav quer me pedir algo - Ahn, Any, eu queria te pedir algo.
-O que você precisar, Sav. - repito a frase que ela usou, rindo.
-Rose e eu estávamos pensando em fazer um book de fotos, algo mais... - Sav faz uma nova pausa e me seguro para não rir, minha cunhada durona é tão tímida.
-Um book mais sensual? - completo por ela.
-Sim, algo picante, mas não vulgar e queria muito que você fosse nossa fotógrafa. Sei que não é o tipo de trabalho que costuma fazer, mas confio em você, por seu trabalho e por ser alguém que eu conheço.
-Me sinto honrada em fazer isso por vocês. - minha voz embargada, estou um verdadeiro poço emotivo - Prometo que farei o meu melhor nesse book para vocês.
Estou tão envolvida pela conversa que não percebi a sombra parada à porta do quarto, muito menos me lembrei que não havia ativado o alarme da casa quando cheguei, apenas senti o golpe em minha nuca e ouvi um grito, acho que é meu grito porque ouço Savanah chamar meu nome enquanto sou puxada para a escuridão.
-ANAHI!!!!!!

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Abro meus olhos e espero me acostumar com a luz que está a minha volta, tento mover meus braços só para constatar que estão amarrados, assim como minhas pernas, sentada em uma cadeira nada confortável. Minha cabeça dói e me lembro da pancada que tomei.
-Finalmente acordou, Bela Adormecida. - essa voz, a voz que eu não queria jamais ter ouvido novamente.
-Willian? - o nome sai com gosto de fel da minha boca.
-Fico feliz que não tenha me esquecido, Anahi, isso já conta como um ponto a seu favor. - ele se aproxima ficando no meu campo de visão - Sua lista de castigos diminuiu um pouquinho agora.
-Willian, pare com essa loucura, você precisa me soltar e seguir seu caminho. - tento soar confiante, mas sei que minha voz saiu mais frágil do que deveria.
-Mas eu estou seguindo meu caminho. - um sorriso sinistro brinca em seus lábios - Meu caminho é reerguer nossa comunidade, recriar nosso mundo e isso só será possível com a Eleita que meu pai deixou para mim. - ele ergue a mão e abaixo minha cabeça com medo de ser agredida.
Eu espero pelo tapa, mas Willian apenas acaricia meus cabelos. Não gosto desse estilo bonzinho, quando se trata desse filho do Joe, isso pode ser muito mais perigoso que uma agressão.
-Fique tranquila, minha Eleita, eu não posso de marcar antes da nossa união. Sabe como as regras funcionam, você ainda não me pertence para ser castigada.
Céus! Luto contra as lágrimas que querem cair desenfreadamente, não posso fraquejar agora.
-Há algumas regras que pretendo manter e outras que quero acrescentar. - ele se afasta indo em direção a porta - A primeira regra que quero acrescentar e modificar um pouco é sobre o casamento do guia. Achava um desperdício quando meu pai se livrava de uma esposa para adquirir outra, eu como guia decreto que posso ter quantas esposas quiser!
Willian só pode estar louco, muito louco e ele comprova isso com uma risada descontrolada e sinistra.
-Você vai ter que se contentar com o segundo lugar, Anahi. Afinal, Kaillah foi a primeira a ser Eleita, você eu só quero para mostrar meu poder.
-Kaillah? - então ela está mesmo com Willian. - Onde ela está?
-Preparando nosso jantar, como uma boa esposa deve fazer. Logo ela virá aqui para te alimentar.
Eu não consigo formular uma resposta antes que ele saia e me deixe sozinha novamente.

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Tenho a sensação de que faz horas que estou aqui sentada esperando Willian ou Kaillah aparecer, rezo baixinho para que Sav tenha ouvido algo e alertado Alfonso, mantenho a fé e esperança de que logo ele virá para me salvar, sei que ele vai descobrir onde estou. Não sei como, mas tenho certeza que vai.
Poucos minutos depois ouço um som de correntes arrastando vindo em minha direção e abaixo minha cabeça fazendo mil preces.
-Anahi, trouxe seu jantar. - ouço a voz de Kaillah, baixa e quebrada. - Por favor, me ajude.
Levanto meu olhar e encontro seu rosto lavado em lágrimas silenciosas, o olho esquerdo tem uma sombra roxa e aquela alegria e toda a arrogância da adolescente que eu conheci, desapareceram. Tudo o que vejo é uma garota aterrorizada.
-Kaillah. - é tudo o que consigo dizer a princípio - Por que não fugiu?
-Foi impossível fugir depois de receber a marca da Eleita pelo Joe, e mais difícil ainda quando Willian me tomou. - ela olha para baixo e acompanho seu olhar - Eu sou parte dessa casa agora.
Kaillah está literalmente acorrentada à parede pelo tornozelo, a corrente que prende seu pé está ligada a um corrimão preso na parede que parece seguir por toda extensão.
-Céus, Kaillah! Como ele foi capaz de fazer algo assim?! - em um impulso tento me levantar esquecendo que também estou presa e a cadeira cai de lado fazendo um barulho alto e me causando dor.
-Não esqueça que agora você faz parte disso também. - ela caminha em minha direção me soltando da cadeira e só então percebo a corrente no meu tornozelo.
Merda! Isso vai dificultar muito as coisas para mim, agora dependo totalmente do Alfonso, meu plano de tentar conseguir a ajuda de Kaillah para fugir vai ser impossível.
-O guia Willian está preparando seu ritual de purificação. - Kaillah me leva até a mesa e se senta ao meu lado - O primeiro passo do ritual vai ser transformar a marca J em sua nuca em um W, - sinto meu pescoço queimar com a sensação do ferro quente - depois um banho com água quente e ervas purificadoras para tirar a marca do outro homem do seu corpo e, por último, a cópula.
-NÃO! - eu grito em choque - Por favor não, Alfonso precisa me encontrar antes disso.
-Espero que ele consiga fazer isso até amanhã a noite, o guia Willian está se preparando, você sabe, o ritual de jejum e isolmento. Ele não fará nada antes disso.
-Pare de chamar aquele monstro de guia. - sinto a ira me consumir - Ele não é porra nenhuma!
Kaillah balança a cabeça em negativa e seus olhos enchem de lágrimas.
-Ele me deu um soco porque a colcha da cama estava desalinhada, não vou correr o risco de receber outro porque não o chamei adequadamente.
Estou tão consumida pela fúria e pelo medo que me esqueci das malditas regras.
-Perdão, Kaillah. Estou há tanto tempo vivendo fora daquela maldita comunidade que me esqueci das regras absurdas. - alcanço sua mão sobre a mesa e a acaricio - Alfonso vai nos salvar, não tem ninguém nesse mundo que eu confiaria plenamente a minha vida, como eu confio nele. - olho ao redor, eu preciso saber onde estamos - Que lugar é esse Kaillah?
-O guia Willian disse que era uma casa usada pelo meu pai, antes de deixarmos a comunidade, papai disse para o guia se manter seguro aqui até poder voltar para buscá-los para a nova comunidade.
-Maldito!
Eu sabia que ainda existiam alguns defensores do Joe e do Willian, espero que Alfonso chegue a essa conclusão.
-Pelo menos temos um elo de ligação, tenho certeza que meu Alfonso vai descobrir.
Esperança volta a me preencher.

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