Capítulo 4

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Alfonso

Se eu não estivesse olhando pela janela naquele momento, teria perdido a pequena figura andando cambaleante próximo ao lago, vi o exato segundo em que perdeu suas forças e desabou sobre o chão coberto de neve.
Teria que ser um fodido maluco para andar numa noite fria como essa, seja lá quem for, poderia muito bem estar morto em algumas horas se não fosse pela minha insônia.
Vestindo meu casaco, calço as botas e pego minha Glock, certificando que está carregada, saio direto para a neve que cai sem parar, caminho atento a qualquer movimento ou barulho, tentando me aproximar com cautela do corpo estendido ao chão.
Assim que tenho certeza que não há perigo no local, guardo minha arma e me ajoelho ao lado do pequeno ser a minha frente, está com a barriga sobre a neve e um grande capuz sobre a cabeça, viro o corpo cuidadosamente e me deparo com o mais lindo e perfeito anjo sobre a neve. Uma única palavra toma a minha mente.
MINHA.
Oh sim, esse pequeno anjo ainda não sabe, mas todo o meu corpo grita que ela me pertence, despertando todo o meu lado mais possessivo e obssessivo, eu não tenho escolha a não ser me certificar que assim que ela acorde também concorde que me pertence.
Retirando a luva de uma das minhas mãos, verifico a pulsação em seu pescoço, alívio me bate quando sinto seus batimentos e sei que ela ainda está viva. Eu a pego em meu colo como se fosse uma boneca, tão leve e tão pequena, fico imaginando a cor de seus olhos. Deve ser azul. Sim, os lábios cheios, a pele clara, o longo cabelo castanho claro, tudo nela combina com olhos azuis como o céu. Não verdes, como os meus, mas azuis angelicais como ela.
Me movo rapidamente para a cabana e vou direto para o quarto, ela precisa ser aquecida e não ajuda que suas roupas estejam úmidas pelo tempo que deve ter passado caminhando sob a neve. Acendo a lareira do quarto e, com toda ternura e veneração, retiro sua mochila e suas roupas a deixando apenas de calcinha e sutiã.
Solto a respiração que não tinha percebido manter presa até então.
-Porra! - sussurro ao devorá-la com os olhos.
Sei que não deveria fazer isso, mas é impossível desviar meus olhos, essa garota elevou a palavra perfeição para um novo nível. Me forçando a mover minhas mãos ao lugar certo, puxo as cobertas e quando estou prestes a embrulhá-la nelas, posso ver o sangue agora seco em seu braço. Toco levemente e sei que o ferimento foi feito por uma bala.
Meu sangue ferve e sei que acabei de proferir todo o meu dicionário de palavrões. Assim que ela acordar, vou querer um nome porque pretendo matar o desgraçado que ousou profanar essa pele tão delicada.
Me obrigo a me afastar dela e pego o quite de primeiro socorros no banheiro, eu limpo o ferimento e dou graças aos céus que foi só de raspão, não a nenhuma bala e o ferimento não está muito aberto para precisar de pontos, coloco uma gase no local e a cubro com os cobertores, seu corpo ainda está frio e sei o que preciso fazer.
Tirando minha roupa e ficando apenas em minha cueca boxer, deslizo para baixo das cobertas e puxo o pequeno anjo para os meus braços, enrolando seu corpo ao meu, tomo todo o cuidado com o ferimento, apoio meu queixo em sua cabeça, dou-lhe um leve beijo na testa e fecho meus olhos. Me sinto em casa, não em Seattle, mas como se ela fosse a minha casa, ela é onde eu deveria estar, onde me sinto seguro e em paz, sinto amor fluir do corpo dela.
Ela se encaixa tão perfeitamente em mim, sou praticamente trinta centímetros mais alto, mas nada no mundo se encaixaria melhor no meu corpo do que ela, deve ter aproximadamente 1,60m contra meus 1,87m, o que me faz sentir ainda mais protetor sobre ela.
Fecho os meus olhos e me deixo levar pelo sono enquanto a abraço, tendo certeza que nunca deixarei ninguém mais feri-la.
Ela é meu tesouro para proteger. Ela é a única para minha vida.

Olho o relógio na cabeceira e vejo que são dez da manhã, não me lembro de ter dormido tanto e nem tão bem assim desde a morte de meus amigos. Sorrio sabendo que isso é obra do meu pequeno anjo. Ela ainda está aninhada ao meu peito como se tivesse medo de ser arrancada daqui, quando ela acordar vou me certificar que saiba que não deixarei ela ir, mesmo que ela queira, farei de tudo para convencê-la do contrário, até que perceba que ela é minha e eu sou totalmente dela.
Mesmo que contra a minha vontade, me afasto lentamente de seu corpo e visto minhas roupas, preciso preparar algo para que possamos comer, ela precisa muito mais que eu, então opto por uma sopa bem quente e reforçada, isso vai esquentá-la ainda mais.
Antes de sair do quarto, deixo uma camisa minha sobre a poltrona no canto para que ela tenha algo para vestir caso acorde antes que eu volte. A cabana não é muito grande, então vai me encontrar facilmente.
Enquanto coloco os legumes para cozinhar, me pego assoviando uma canção, algo que não fazia há muito tempo, sorrio com o pensamento de que devo agradecer ao meu superior por me forçar a tirar essas férias prolongadas.

Já passa das quatro da tarde e nada do anjo acordar, verifiquei tantas vezes sua respiração e temperatura que perdi as contas. Aparentemente ela está bem, deve só estar muito cansada, então procuro deixar que repouse, mesmo que minha vontade seja acordá-la, tomar em meus braços e beijar aquela boca tão rosada e suave quanto uma pétala de rosa. Estou sentado na poltrona só observando-a e pela milésima vez tento ajeitar meu pau que não desce desde o momento em que a vi pela primeira vez, mesmo de onde estou, posso sentir seu perfume, ela cheira a morango e isso me mantém sobre a borda.
Verifiquei sua mochila e encontrei um par de calças, duas blusas rosas e dois pares de lingerie rosas. Sorrio ao pensar que meu pequeno anjo parece gostar e muito da cor rosa.
Escuto um leve gemido e em um pulo estou ao lado da cama, sustentando sua delicada mão e acariciando seus cabelos.
-Anjo?! - a chamo baixinho e vejo seus olhos se abrirem.
Azuis, não um azul céu, mas um azul com pequenas faíscas de verde por trás. Eu sabia que seriam azuis.

A EleitaOnde histórias criam vida. Descubra agora