Vigésimo Terceiro Capítulo

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- Tem certeza que eu não vou te atrapalhar? – Ivy questionou mais uma vez.

- Não, vai ser até bom. Eu preciso me distrair... – Fez uma pausa. – Eu tive uma perda seguida de uma decepção muito grande esses dias.

- E eu te perturbando, Gi... Por que você não me disse antes?


- Mas vocês não estão me perturbando... Se vocês não chegassem eu, sei lá... Estaria agora toda amuada por aí e eu precisava reagir, sabe? – Ivy fez um gesto afirmativo. – Então vocês ficam, eu ajudo vocês a se ajeitarem em São Paulo e vocês me ajudam também...

- A reagir...

- É... A reagir. – Gizelly concordou.


Ivy segurou na mão de Gizelly com afeto.


- Eu fico feliz em te ajudar... Sempre tive muito carinho com você, Gi... – Gizelly sorriu tímida. – Você quer contar o que aconteceu entre você e a doutora?


Gizelly arregalou os olhos um tanto surpresa.


- Como você sabe que tem a ver com a Marcela? A Manu te contou alguma coisa? – Aborrecida. – Porque a Manu tem mania de espalhar coisas sobre a minha vida por aí...


Ivy riu.


- Não foi a Manuzinha não, é que vocês são unha e carne, hoje eu achei que ia encontrar com ela quando fui na delegacia da mulher com você ou hoje à noite, mas pra ela não estar aqui, é que algo aconteceu. Não foi? – Gizelly ficou sem graça. – Pode falar, Gi... Tô aqui pra ajudar e isso inclui te ouvir também.


- É que eu não sou muito de me abrir para ninguém, sabe? Desde que minha mãe morreu e meu pai se mandou, sempre foi assim. Eu só tinha a Manu e eu não gostava de levar problemas para ela porque ela era muito nova...

- Mas as coisas mudaram, né, bem? Talvez você devesse procurar ajuda com isso. Profissional.

- Como assim?


- Terapia... – Gizelly deu uma risada, mas Ivy permaneceu séria. – É sério, Gi... Você sabe que eu achava maior besteira isso? Ai depois que eu engravidei, meio que eu tive depressão pós-parto... Tive que fazer terapia e menina... O trem que acontece com a gente é doido, mas é bom...


Gizelly tentou desconversar sobre assunto com a desculpa de que estava tarde e tinha que levantar cedo no dia seguinte. Ivy compreendeu que a policial precisava de espaço, despediu-se dela e foi para o quarto dormir na companhia de Miguel. Gizelly trouxe a muda de roupas que usaria no dia seguinte para a sala, bebeu água, foi ao banheiro e se deitou no sofá. Não dormiu de primeira. As palavras de Ivy rodeavam sua cabeça. Terapia. Não era a primeira vez que recebia aquele conselho. Manu, Marcela e Thelma faziam terapia, Babu também já havia frequentado um psicólogo e ela mesmo chegou a fazer algumas sessões. As vezes o trabalho na polícia era pesado e precisava de ajuda para conseguir seguir em frente. A morte do ex-namorado somado a decepção com Marcela talvez fossem bons motivos para procurar ajuda.


Adormeceu em meio aos pensamentos. Acordou um pouco antes do despertador tocar com uma chamada de Babu. Era uma situação bastante complexa. Um sujeito foi encontrado morto em uma lata de lixo dentro de um parque. Mais de quarenta facadas. Provavelmente um crime de ódio. Tudo se complicava quando chegavam no nome da vítima.

Perícia do Amor - GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora