Vigésimo sexto capítulo

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Com receio a garota estendeu um papel sobre a mesa de madeira. Guardou aquele segredo a noite toda, já tinha relido a correspondência não sabia quantas vezes. Não tinha certeza se deveria passar para frente ou não, mas sempre ouviu dizer que qualquer detalhe pode ajudar na investigação. Gizelly pegou o papel. Inicialmente, não entendeu porque um papel podia ser o causador de uma briga, mas logo percebeu que se tratava de uma carta, começou a ler.


"As pessoas dizem que o amor e tempo são incapazes de se dar as mãos, mas isso não é verdade, pois chega os dias, as noites, mudam as luas e as estações e continuo te amando com a mesma paixão de quando te conheci há tantos outonos atrás. Nestes dizeres quero me entregar a você de corpo, alma e palavras. Nunca pertenci a outra pessoa, a dorzinha gostosa que forma no meu estômago quando você se aproxima, a saudade, o anseio de ter seu cheiro na minha pele, a vontade de te guardar em um pote para te proteger do resto do mundo e toda a doce pieguice dos amantes e amados só existe quando você está ao meu lado, disfarço com um sorriso amigo, hoje ineficaz... A distância é curta, mas devo te perguntar, sigo em frente?"


- Está escrito isso ai? – Bianca perguntou surpresa.


- Claro que está. – Gizelly retrucou, encarou Andressa. – Está inacabada?



A moça confirmou.



- Sim, fui procurar uma caneta no armário dela, caiu uma pasta de papéis e dentro de uma pasta tinha esse envelope endereçado a mim. – Andressa respirou fundo. – Tenho certeza que Gabi escreveu essa carta e me endereçou, se quiserem tenho cadernos dela para compararem a letra.


- Um grafólogo pode nos ajudar. – Bianca pegou a carta para ler, Gizelly sentiu pena da moça, algo dizia que aquele seria um caso mais complicado que os outros. Andressa voltou a chorar e precisou de amparo. – Isso só pode ser um pesadelo! É horrível! Ela morreu e eu nem pude falar para ela... Eu...



- Andressa, calma... – Gizelly estendeu o copo da água. – Sei que está passando por um momento inacreditável na vida, mas precisa me contar o que aconteceu para que eu possa pegar quem fez isso com Gabi. Vocês discutiram por que você não gostou do que estava escrito? É isso?



- Não, não foi isso. Vi a carta nas coisas da Gabi, não segurei a curiosidade e resolvi ler, pensei que era para mais uma das paqueras dela, confesso que no começo não soube o que dizer quando li a carta e nem consegui buscar palavras, pois Gabi entrou no quarto e me flagrou mexendo nas coisas dela. – Os olhos de Andressa se empoçaram. – Ela gritou comigo, dizendo que não tinha o direito de mexer nas coisas dela, que não era para eu ter lido. – Começou a chorar. – Ela nem me deixou dizer nada sobre a carta, me expulsou do quarto, disse que precisava ficar sozinha. Também precisava porque me assustei com tudo. Estava tentando algo com um rapaz da minha sala, mas nunca tive a mesma conexão que tenho com Gabi... – Ela teimava em conjugar os verbos no tempo presente, mesmo Gabi estando morta. – Não sei lidar com esses sentimentos que passei a ter por ela, por isso nunca tentei nada. Achei que ela ia pensar que era loucura e resolvi ficar com esse rapaz para esquecê-la. Aí veio isso... Não deveria ter saído do quarto, não deveria! Fui dormir com ele e ele concluiu que Gabi e eu nos desentendemos. Ele já tinha insinuado algo, mas me fiz de desentendida. Acabei me abrindo com ele que me fez companhia durante toda a noite. – Com remorso, lamentava bastante. – Eu não ter procurado por ele! Eu não devia sair do quarto!

Perícia do Amor - GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora