Capítulo 26

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Complexo de Uranos – 9º 15' 17" S 55º 19' 15'' W

Tempo transcorrido após o primeiro contato: 61 dias.

Num primeiro instante, todos levam as mãos aos olhos, protegendo-os da rápida mudança de luminosidade. Mas assim que suas retinas se adaptam à luz, todos vislumbram o segredo mais bem guardado dos Estados Aliados do Sul.

- Senhores, lhes apresento o Armacell.

Terry finalmente deixa a retaguarda do grupo e caminha em direção à vanguarda. Desde que se embrenhou naqueles túneis passara a sentir uma sensação de déjà vu; Agora é como se ele tivesse voltado 15 anos no tempo. Do exato momento em que acordara de seu coma após ser resgatado do fundo do lago, frequentemente se encontrava com uma criatura cósmica vigiando-o em seus sonhos. Diversas vezes, quando sonhava que estava à beira de um abismo ou na beira de um prédio, prestes a cair, era essa criatura que aparecia e gentilmente o conduzia até a segurança do solo.

E agora, depois de tantos anos e tantos sonhos, Armacell lhe era revelado sendo mantido em estado criogênico, suspenso por seus braço por correntes que o erguem por mais de um metro do piso. Seus braços e dorso em forma de "Y" despertam a vaga lembrança de Jesus preso à sua cruz.

Um olhar de terror estampa a face de Terry quando ele baixa seus olhos em direção aos membros inferiores do alienígena e percebe que no local onde suas pernas e quadril deveriam estar agora há apenas restos de uma carne enegrecida e alguns órgãos internos da criatura pendurados.

- Mas... Mas o que houve com suas pernas? - O jovem se afasta alguns passos e agora também percebe que áreas do peito e braços de Armacell também foram cortadas.

Todos na comitiva se mantêm calados, apenas circundando e observando o alienígena pendurado no interior da câmara, como um pedaço de carne em um abatedouro.

- Ei! Você! - Um dos técnicos que se juntara ao grupo momentos antes, chama pelo Engenheiro, enquanto agachado, retira um dispositivo cromado de sua maleta. - Você é o representante do C.O.D.A. certo?

- Ahm... Isso, sou sim. - Terry continua paralisado com o estado atual de Armacell à sua frente e sua resposta sai dispersa.

- Quantos quilos de temblórium vamos extrair dessa vez? A mesma quantidade da última operação?

- Quantos quilos vamos... extrair? - Nesse momento tudo ficou muito claro para o jovem Snider.

- Sim, será a mesma quantidade? É para o abastecimento da Linha do Dragão, não é? - O técnico para ao lado de Terry e, após conectar uma mangueira na sua ferramenta, muito semelhante à uma motosserra, ele a liga, fazendo com que uma lâmina brilhante de plasma concentrado recubra toda a superfície cortante do instrumento. Um tom azulado passa a permear todo o interior.

Todos se afastam e o técnico começa a extrair partes do exoesqueleto de Armacell, na altura das costelas.

- Está tudo bem, jovem? - Cel. Rivera se aproxima de Terry. Todos já tinham digerido a informação e se encontravam conversando em pequenos grupos, com exceção dele, que ainda permanecia parado, muito próximo do alien.

- Quer dizer que toda a extração de temblórium que foi feita nesses últimos anos... todo o metal foi tirado do corpo de Armacell? Então o meteoro...?

- É isso mesmo. Nunca houve um meteoro. - O oficial brasileiro se vira para o corpo dependurado e passa a encarar os olhos sem vida da criatura, escondidos sob um capacete espacial. - Há 15 anos, esse alienígena se chocou contra um lago na Patagônia e afundou até seu leito. Em sua queda, ainda acabou derrubando uma pequena aeronave, matando dois dos três de seus passageiros. Para manter o segredo, os Países Aliados do Sul resolveram inventar essa história de meteoro para despistar a atenção internacional e justificar a descoberta de um novo elemento. Após trazê-lo para o interior dessa mina abandona, o governo começou a conduzir diversos estudos e experiências com o seu corpo. E, após descobrir as propriedades únicas do temblórium, começamos a fatiá-lo para extrair e aplicar o metal em nosso proveito próprio.

- Armacell está morto então?

Terry não consegue deixar de pensar no dia em que, junto de seu melhor amigo e seu pai, ao qual carinhosamente chamava de "tio", saíram para passear em seu avião, sobrevoando os lagos da região e, subitamente, foram atingidos em pleno voo e acabaram caindo. Seu amigo e seu pai morreram na hora, mas ele não. Armacell o salvara. De algum modo, o alienígena curou seu corpo e lhe deu forças suficientes para resistir submerso nas águas até que o resgate o achasse. Mas não era só isso. Após esse encontro, Terrance - que sempre fora um menino de saúde frágil e vivia doente - nunca mais adoeceu. Nem uma gripe, cárie ou osso quebrado.

"- Desde aquele dia... Mas o que ele veio fazer na Terra".

Apesar de saber que fora o próprio alienígena que se chocara contra o avião e causou a morte de seus outros ocupantes, Terrance não podia ignorar o sentimento de gratidão pelo alienígena que o manteve vivo no fundo daquele lago.

- Sim. Sempre esteve morto. Desde que entrou em nossa atmosfera. - Rivera, após perceber que a extração chegara ao fim, deixa Terry submerso em seus pensamentos e começa a deixar a câmara, acompanhado por todos. - Você não vem?

Com um sinal, o coronel indica para os operadores que fecham a câmara e reiniciem o resfriamento.

- Positivo, senhor. Iniciando bombeamento de... Ahm?!

Um alto estrondo, seguido de um tremor do complexo inteiro interrompe a comunicação. Pequenas rochas e poeira caem do teto, atingindo alguns membros da comitiva. Logo em seguida, vários outros estrondos são ouvidos, seguidos por mais tremores de terra. As lâmpadas piscam algumas vezes, como se a rede elétrica que alimenta toda a base sofresse uma desestabilizada.

Um alarme começa a soar. Todos se entreolham, esperando por uma resposta do coronel.

- Cel. Rivera? - A voz no rádio parte de alguém da superfície. Claramente desesperado, o soldado luta contra a estática, tentando contatar o oficial. - Cel. Rivera, estamos sendo atacados! Repito, estamos sendo atac...

A transmissão é encerrada e mais uma explosão chacoalha todo o complexo.

- Ele disse que o complexo está sendo atacado? - Marechal González, se levantando do chão, questionando o coronel Rivera. - Mas quem seria louco o suficiente para atacar um complexo militar dos Estados Aliados do Sul?

O coronel ignora a pergunta do marechal e com as costas da mão limpa seu sangue que escorre por sua têmpora direita, após uma pedra que se desprendera do teto acertá-lo, levantando seu rádio até a altura da boca.

- Atentos, o Complexo de Uranos está sendo atacado por um inimigo desconhecido! Todos aos seus postos, agora! E tentem avisar ao Comando! - Ele se vira para a comitiva e dispara, aos prantos. - Temos que sair daqui, agora! E tratem de lacrar a câmara.

A porta da câmara é acionada e inicia sua descida, mas a dezenas de metros acima, na superfície, onde uma intensa troca de tiros acontece, um míssil atinge a estação de energia do complexo, jogando toda a base no breu. A porta da câmara interrompe seu movimento, faltando metade do percurso para fechar.

- O que sabemos? - Rivera adentra a sala de controles e se dirige imediatamente para o painel onde estão localizados os monitores que projetam as imagens do exterior. - O quê? Mas são Unidades Táticas Avançadas!

O soldado responsável pela operação do elevador finalmente chega à sala, esbaforido por ter percorrido toda a extensão do corredor em pouco tempo. Ele retira uma pequena chave metálica do bolso e abre as portas de um pesado armário de metal, no fundo da sala, revelando um pequeno arsenal militar estocado. Prontamente ele, junto dos guardas costas dos generais e mais qualquer um com treinamento de combate começam a vestir coletes à prova de balas e a carregar todo tipo de arma de fogo, se preparando para o pior.

Iriam lutar por suas vidas, independente de quem fosse oinimigo.

Armacell - Primeiro ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora