Epílogo

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Erika deixa o banheiro e acende as luzes de sua suíte. Vapor de água escapa pela porta conforme ela avança no aposento. Vestindo apenas um roupão com o logo do hotel bordado, ela se senta na cama e com uma toalha enxuga o excesso de água de seus cabelos.

A televisão do quarto está sintonizada em um canal qualquer, mas o volume baixo torna impossível para qualquer um saber do que se trata a urgente notícia que não para de ser reprisada em todos os jornais.

Erika se dirige até a cômoda onde seu celular está carregando e abre suas mensagens. "Saudades, amor. Quando volta?". Antes de vir a Hong Kong, Erika tinha começado um relacionamento sério - segundo suas redes sociais. Mas, desde que chegara, com todos os acontecimentos, não tinha conseguido falar direito com ele.

Erika chega a discar o seu número no display, ia ligar para ele. Queria conversar, matar a saudade. Mas lembra-se, então, do fuso horário e, antes que a ligação seja completada, ela desliga.

A jovem Engenheira Chefe estava cansada. Já fazia sete dias desde os acontecimentos no Deserto de Gobi e desde lá, tudo que ela tinha feito era respondido perguntas e mais perguntas e preenchido relatórios. Muitos deles. Após responder mais alguns emails, Erika desliga o celular e se acomoda nos travesseiros. Ela aperta o botão de mudo do televisor e, então, finalmente escuta a jornalista reportando os últimos acontecimentos.

... O funeral foi fechado para a imprensa. Apenas pessoas da família e amigos próximos foram permitidos no enterro. Major Jake Philip Gale, filho do presidente americano e fuzileiro da Marinha dos Estados Unidos, foi morto durante um confronto no Oriente Médio, contra forças insurgentes de rebeldes. O corpo não foi recuperado e nenhum grupo local ainda assumiu a autoria do ataque. Seu irmão, Capitão Sage Theodore Gale, também integrante das forças armadas americanas, foi ferido durante a ação, mas conseguiu sobreviver em estado moderado de saúde. Após 2 semanas internado, recebeu alta para poder comparecer ao enterro de seu irmão...

...O Presidente Gale, assim como todos da família vestiam trajes pretos e apresentavam um semblante de tristeza e inconformidade. Durante toda a cerimônia, Sage, seu filho mais novo, ainda apresentando os ferimentos oriundos do ataque, com seu braço direito imobilizado em uma tipóia, o rosto coberto por cortes e escoriações e trajando o uniforme cerimonial dos fuzileiros navais, não deixou o lado de seu pai.

-... Após a cerimônia, o presidente americano falou aos repórteres - continuou a jornalista:

"- Mais uma vez o mundo nos dá provas que precisamos de mudanças, urgente. Meu filho, Major Jake P. Gale, era um excelente soldado, homem do bem e um ótimo menino. Morreu lutando por aquilo que acreditava. Morreu em busca da liberdade. Que sua morte sirva para abrirmos os nossos olhos. É chegada a hora de nos levantarmos e dizermos basta! Temos que recuperar o controle do nosso planeta. E isso, eu prometo. Vamos conduzir a humanidade para uma nova era de paz e justiça, sem barreiras e sem divisas. Mas, mais do que isso, eu prometo que os responsáveis pela morte de Jake, do meu primogênito, vão pagar muito caro pelos seus atos!..."

- ... O candidato à reeleição à presidência dos EUA seguiu direto com sua comitiva para o ginásio da Associação dos Veteranos de Guerra e discursou aos seus eleitores...

"- A humanidade atravessa um período conturbado. Estamos vivendo a verdadeira Idade das Trevas. A ambição e mesquinhez de alguns poucos indivíduos colocam a segurança de todos em risco. O que há de pior para uma mãe, ou para um pai, receber a notícia da morte de um filho em um ataque químico? Ou, até mesmo, que seu amado filho, cruzou oceanos de distância para proteger a nossa tão amada liberdade, teve suas duas pernas amputadas em um ataque terrorista? E é por isso que lhes digo; não! Por isso lhes prometo, não iremos parar de investir em nossa segurança. Seja ela dentro de nossas fronteiras geográficas, ou fora delas! Não iremos nos acovardar diante daqueles que querem nos derrubar."

Gale faz uma pausa para molhar a garganta. A multidão em sua frente permanece muda, hipnotizada por suas palavras e sua presença.

"- Eu juro, vamos construir um país e um planeta onde todos terão as mesmas oportunidades e direitos, sem discriminação, sem importar quantas portas e quantos muros teremos que derrubar. O futuro é nosso!"

Sentindo que todos se inspiravam com suas palavras, o Presidente se prepara para encerrar o discurso de sua campanha de reeleição. Emocionado e orgulhoso ao pronunciar as palavras que tem-no acompanhado a sua vida inteira e que o moldaram no o homem que é hoje, sob os olhares de todos, entre lágrimas de dor e fúria, professa o lema de sua campanha: Vitória ou oblívio!

Uma estrondosa salva de palmas, acompanhada de assobios e estridentes cornetas, toma conta do ginásio. Balões vermelhos, brancos e azuis são soltos e logo sobem no, se concentrando no teto do local, formando uma abóbada tricolor, dando ao interior da construção um ar muito mais surreal.

Gale ainda aperta algumas mãos e tira algumas selfies - sempre acompanhado por seus seguranças - antes de deixar o palanque. Assim que cruza a porta dupla que leva para a saída, ele afrouxa o nó da gravata e desabotua a camisa. Sua face muda drasticamente. Aquele sorriso carismático dá lugar a uma expressão de descaso e nojo.

- Achei que nunca ia terminar. - Ele se vira para um de seus assessores. - Eu não tinha pedido um discurso mais curto?

- Desculpe, Senhor Presidente. Mas é crucial para nós ganharmos as eleições nesse estado. As pesquisas indicam que...

- Está bem. Já chega. Eu já entendi.

Gale é escoltado até uma limusine que está estacionada bem em frente a saída. Ele entra e se serve de um copo de uísque. Escondido nas sombras, sentado na outra extremidade, um jovem de cabelos e roupas escuras o aguarda terminar de beber. Reluzente na lapela de seu paletó, o brasão da Máscara de Ferro reluz de forma imponente

- O que foi? O que você tem de tão importante para me dizer que não poderia ser dito por telefone?

- Gale, conseguimos as imagens da batalha entre Astral Pollux e Armacell.

Um brilho tão negro quanto o céu sob suas cabeças surge nos olhos de Gale. Um brilho de fúria e vingança.

- Ótimo. Me mostre.

Armacell - Primeiro ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora