Capítulo 31

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Erika e Janet adentram o quarto. Apenas o som dos equipamentos médicos que mantêm Dalmas vivo são ouvidos. As duas caminham e se posicionam aos pés da cama, entrando no campo de visão do pirata. Por alguns instantes nada é dito. Os olhos de Dalmas se cruzam com os de Erika e após, com os de Janet.

As duas colegas permanecem imóveis. Mesmo deitado e paralisado, a aura de medo que emana de Dalmas é impressionante. Os corações das jovens batem acelerados.

- Nossa, vocês são as chinesas mais lindas que eu já vi. - A voz de Dalmas é fraca e abafada. A máscara de oxigênio em seu rosto torna a simples tarefa de falar quase impossível para o somali.

Janet tenta segurar uma risada, mas não consegue. Erika a repreende apenas com um olhar.

- Sr. Dalmas, somos engenheiras do Comando de Operações e Defesa Aeroespacial dos Países Aliados do Sul. Gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas. - Enquanto Erika puxa uma cadeira e se posiciona na lateral da cama, Janet retira um aparelho de medição de seu bolso e começa a escanear o corpo do mercenário.

- É claro. Mais perguntas. E por que não? Vamos lá. Pergunte. Talvez você me pergunte algo que eu já não tenha respondido quatro ou cinco vezes.

- Está bem. Obrigada. - Erika muda de posição mais uma vez em poucos segundos, procurando uma forma de ficar menos desconfortável com aquela situação. - Então, Dalmas... Como você..., aonde....

A Dra. Barnett tinha listado e ensaiado por horas todas as perguntas para as quais gostaria de obter uma resposta, mas agora, estando frente a frente com o alienígena e seu hospedeiro, nada fazia sentido. Aquelas perguntas, em sua grande maioria, já haviam sido feitas. Na verdade, era só analisar cronologicamente todos os acontecimentos para se obter a maioria de suas respostas. Ela desliga seu tablet e retira os óculos.

- O que você sabe sobre esse alienígena? Quero dizer, obviamente quando Wade O'hara foi abduzido pelo alienígena, provavelmente sessenta anos atrás, foi o alien quem ficou no comando das ações. Wade era apenas uma parte necessária para a sua sobrevivência, de certo, mas com você é diferente. Está bastante claro que é você quem está tomando todas as decisões e usando o poder dessa criatura em proveito próprio. Como isso é possível?

Dalmas dá um leve sorriso. Ele olha fixamente para Erika. Então vira seus olhos e eles se cruzam com os de Janet, voltando em seguida para Erika. Saber o que se passava em sua cabeça era impossível.

- No momento da fusão, aquele que se encontrar em melhores condições vitais irá sobrepujar a consciência do outro e será o único a tomar as decisões. Na hora em que decidi me unir a esse alienígena, ele estava pendurado pelo peito por um gancho de aço, quase morrendo. Eu não estava em tão melhores condições, mas estava melhor, logo...

Erika se vira para Janet e em seguida para a janela de vidro atrás de si. Ela sabia que Dr. Zhao estaria acompanhando o interrogatório daquela sala. A engenheira se recompõe e retoma sua posição na cadeira.

- Dois seres vivos, duas consciências habitando o mesmo corpo. Como é possível?

Após uma longa inspirada, Dalmas responde.

- Duas consciências sim. Dois seres vivos, nem tanto. Essa raça de alienígenas é uma forma de vida fantasma. Etérea. Não possuem uma forma física. Eles vagaram pelo universo na forma de uma energia psiônica por milênios, à procura de alguma coisa que pudessem usar como receptáculo e assim adquirem sua forma física e interagir com o cosmos. Após eras explorando e viajando pelo espaço, eles encontram um metal capaz de absorver energia suficiente e lhes prover o corpo que tanto procuravam.

- O temblórium. - Janet, que terminara sua leitura, deixa escapar de seus lábios o nome do metal mais valioso do universo.

- Exato. A partir do temblórium, eles foram capazes de forjar corpos e acharam um meio de, após milhares de anos, interagir com o mundo físico. Mas nem tudo saiu como o esperado. Para mover e manter um corpo físico, é preciso muita energia. E não do tipo de energia que eles proviam.

- A energia bio-orgânica. - Erika troca olhares com Janet. - A energia que apenas os seres vivos conseguem produzir.

- Por isso é necessário um terceiro elemento nessa equação da evolução. O elemento da vida. O carbono. - Dalmas continua. - Novamente esses seres partiram em uma busca pelo universo atrás de uma raça que fosse compatível com suas necessidades e que fosse capaz de gerar energia suficiente para que eles pudessem, finalmente, obter sua forma física.

- E é aí que os humanos entram, estou certa?

- Certíssima, Sra. White. Outras formas de vida foram encontradas e abduzidas. Mas, com o passar do tempo, as consciências começam a se fundir em uma só e todo aquele brilhantismo e sabedoria dos alienígenas eram mesclados com a consciência de seres primitivos e desprovidos de qualquer intelecto avançado. Com o passar do tempo, eles passaram a se comportar e a pensar cada vez mais como uma ameba e menos como uma raça evoluída. Até que uma sonda espacial à deriva foi localizada por um dos exploradores alienígenas. Finalmente tinham achado uma forma de vida que, além de gerar energia vital suficiente para mover o seu exoesqueleto, também possuía um nível intelectual medianamente avançado.

Erika se joga para trás, encostando-se na cadeira e cruza suas mãos atrás da cabeça. Tudo que ela tinha acabado de ouvir... Era demais para absorver em tão pouco tempo. Dalmas, por dividir a consciência com esse alienígena, dividia também todas as suas memórias e pensamentos. Erika imaginava o quanto de informação e conhecimento esse homem não tinha acesso agora.

- Então existem mais desses aliens aí fora? - A voz é emitida por um alto falante dentro do quarto. Dr. Zhao que até então se mantinha calado, decide entrar na conversa.

- Dr. Zhao! Estava me perguntando quando o senhor viria me ver hoje. Você ainda me deve aquele cubano - Dalmas, mesmo nas condições em que estava, não perdia o seu sarcasmo. O que acabou arrancando mais um risinho de Janet. - Mas você está certo, Zhao. Existem muitos mais. Há quinze anos, um de nossos exploradores veio para a Terra a fim de conhecer melhor essa raça. Mas ele nunca retornou. Por isso, um segundo explorador foi enviado para cá.

- Você está falando de Armacell? - Para Erika, foi muito fácil ligar os pontos.

- Você sabe que sim.

- Devemos logo esperar mais exploradores espaciais, Sr. Dalmas?

- Oh, não. Exploradores não, Dr. Zhao. Dois já são o suficiente. - Um brilho sórdido é emitido pelos olhos de Dalmas. Erika e Janet percebem e seu sangue gela.

- Então, pelo o quê devemosesperar, Sr. Dalmas? - A voz que sai pela caixa de som é vacilante edesconfiada.

Armacell - Primeiro ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora