Capítulo 11 - Risque o fósforo

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- Estão namorando, então? – Mac Puente arqueara uma sobrancelha em um gesto inquisitivo. Estava encostada no balcão da cozinha, as mãos descascando uma laranja, mas o olhar quase não desviava da irmã.

- Ai, Mac! Primeiro a mamãe, agora você. O que isso? Um inquérito policial? – Anahí, que acabara de fechar a torneira, agora balançava as mãos na pia para retirar o excesso de água.

- Por que a indisposição, irmã? É só uma pergunta. E bem natural, inclusive, visto que as manchetes falavam de... como é mesmo? Você roubou o coração dele, é isso?

- Claro. Câmeras fotográficas, agora, capturam sentimentos em seus estados mais naturais. – Anahí sorriu, debochada.

- Eu não vejo mal nenhum em você se relacionar com ele. – Mac sentara-se à mesa no centro da cozinha. – Já a mamãe, ao contrário, acha cedo demais e sua escolha imprudente. Ela esperava alguém menos "famoso".

- Se depender da mamãe, Mac, eu devo me relacionar com alguém novamente só depois da morte do Velasco.

- Ela tem medo, Anahí. Não é tão difícil de entender.

- Medo de que, pelo amor Deus? Eu não vou contar nada para ele. Ou vocês acham que eu vou chegar para o Tom e dizer "olha, estou morrendo de vontade de te ver me odiando hoje. Quer saber sobre o lamaçal em que eu me meti"? – Anahí revirou os olhos, andando apressada de um lado para o outro, quase encenando a própria fala.

- Você já recebeu uma enxurrada de perguntas hoje, não é? – Mac lançou um olhar piedoso para a irmã.

- E olha que não fazem 24 horas que eu voltei para casa. – Anahí sentou-se à mesa, ao lado da irmã. Passou a cochichar para esta. – Nem 24 horas completas e eu já estou morrendo de saudades dele! – Confidenciou, segurando a mão de Mac.

- Anahí... se isso não é estar apaixonada, minha querida...

- Mas eu não nego. Falo para qualquer um que estou apaixonada por ele. O problema é se ele está por mim.

- O que quer dizer?

- Vivemos algo tão intenso nesses dois meses... E nos vimos pela primeira vez há mais de um ano. Quando penso no quão conectados parecemos estar, às vezes tenho certezas. Contudo, apesar do tratamento impecável que ele oferece a mim, o Tom não me diz nada. Você sabe, eu sei; e como eu sei da necessidade de declarar sentimentos! É tudo recente, mas certas vezes, deixar as palavras se expressarem por nós vale muito. Conjecturar é que não vale de nada. – Anahí fitou o chão. Um sombrio triste se apoderou de seus olhos.

- Você não pode achar que todo mundo que se aproxima de você quer agir da mesma forma que ele agiu. Vocês eram muito jovens, irmã.

- Mas eu tenho que me precaver, Mac. Se eu sinto, ele tem que sentir. Desta vez não posso sair ferida como com... – Anahí fez um gesto vago com a mão, dispersando lembranças. – Você sabe com quem.

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- Caralho!

- Poncho, que modos! Provavelmente o Dani ouviu!

- Eu me cortei, Diana, eu me cortei! Não se pode xingar nem depois de meter a faca no dedo? – Irritado, Alfonso tentava conter o filete de sangue que escorria da ponta de seu dedo indicador. Havia se ferido com a faca de cortar carne. Era um bom cozinheiro, mas naquele dia, em especial, toda e qualquer coisa que ele tentara fazer deu errado.

- Deixe-me fazer essa comida. Vá cuidar do seu dedo.

Alfonso se retirou da cozinha. Passou pela sala e quase nem olhou para o filho que brincava com alguns dinossauros de borracha. Abriu a porta para o jardim, saiu e fechou-a atrás de si. Pisou descalço na grama recém-cortada, sentindo o incômodo sob os seus pés, mas o ignorou. Ao elevar o dedo cortado até a boca, no intuito de conter o sangramento, aproveitou para sentar-se em um dos bancos de madeira afixados debaixo de uma sombra extensa. Estivera tão impaciente com tudo durante aquele dia. Sentia-se espetado por inúmeras agulhas sem propósito algum a não ser irritá-lo.

Uma curva no destino (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora