Capítulo 18 - Carro na garagem

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Aquilo poderia facilmente ter sido confeccionado à mão por Alfonso, mas ele não tinha esse tipo de dom. Contudo, fora de uma delicadeza inestimável presenteá-la com aquela luminária de fada. Era, na verdade, um pote de vidro que resguardava a sombra de uma fadinha, cercada por uma luz amarela intensa. Ao redor da tampa, fios de palha rafia com pequenas flores sintéticas decoravam-na. Um presente tão simples, mas totalmente de acordo com Anahí, provando mais uma vez o quanto Alfonso a conhecia.

            Anahí admirou o presente por horas antes de colocá-lo ao lado de sua cama. Abraçou as pernas e se encolheu sobre o colchão, em uma lamúria silenciosa. Ela estava tão sozinha, tão indefesa. Não conseguia sorrir, sair, se divertir, ver gente ou se empolgar com algo. Esteve no céu com Tom e em poucos dias, Alfonso a puxou para o inferno novamente.

              Não só ele, na verdade. Tom contribuiu com isso. Ambos colocaram Anahí no meio de uma disputa cada vez mais inescrupulosa, distante de qualquer justificativa como o amor; terrivelmente próxima à satisfação, única e exclusiva, dos egos deles.

            Uma gigantesca impotência se abateu sobre Anahí quando ela viu o Instagram pessoal de Lauren. Tom estava em tudo, em todas as fotos e sempre com um semblante infinitamente melhor do que o de uma pessoa que estava sofrendo por amor. Isso sempre fazia com que ela se sentisse boba, afinal, enquanto não conseguia seguir em frente, Tom parecia estar se divertindo ou se distraindo tanto quanto podia. E Lauren sempre lá, dedicada a ele de corpo e alma, levando Anahí a cogitar se a mesma, na verdade, não queria ir além da amizade com Tom.

            "E se já foram além da amizade"? – Tal pensamento completou o incômodo agudo de Anahí, que fora interrompido, apenas, por uma ligação nada tranquila.

- Você não entende que quando ignoramos quinze ligações da mesma pessoa significa que não queremos atendê-la? – Anahí perguntou, ríspida.

- Não quero importunar você. Só preciso devolver algo.

- Eu sei, Poncho. Mas não precisa vir devolver o anel de noivado. Não tem mais sentido. 

- Eu não posso ficar com isso. Daqui a pouco ele faz uma denúncia de furto contra mim.

- Então devolva para ele.

- É seu. Vou devolver para você e não se preocupe, sequer tocarei sua campainha. Deixarei na sua caixa de correio.

- Ok. Não precisa me avisar quando chegar.

            Anahí estava chateada com tudo. Com Tom, Alfonso e a própria vida. Esquecera até mesmo do quanto lhe doía rechaçar Poncho. Não gostava de vê-lo fragilizado, acuado como vinha acontecendo nos últimos meses. Contradizendo tudo o que dissera a ele no telefone, Anahí sentou-se no peitoril da janela, observando, através desta, a noite cair devagar enquanto esperava o carro de Alfonso estacionar em frente à sua casa.

            Passaram-se minutos, horas. As costas cansadas quase lhe fizeram desistir e o semblante amuado transparecia suas inúmeras dúvidas e tristezas. Depois de uma longa espera, Anahí viu o carro de Alfonso parar e ele descer, depressa, indo em direção à caixa de correios. Ela levantou, abriu a porta de sua casa em um ímpeto e olhou firmemente para o visitante, que acabara de se espantar com tamanha brutalidade de Anahí ao abrir a porta.

- Poncho! – Chamou, deixando-o sobressaltado. – Quero conversar com você. Entra, por favor.

            Alfonso, apesar de surpreso, não pensou duas vezes. A passos largos se dirigiu para dentro da sala de Anahí, aguardando-a fechar a porta, em seguida.

- Pode sentar. – Disse a anfitriã, sentando-se em uma poltrona diante de Poncho. – Não precisa ficar assim, que nem um cachorro amestrado. Não quero brigar como das últimas vezes tenho feito com você.

Uma curva no destino (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora