Capítulo 8 - Para mim, para mais ninguém

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Às 6, o despertador tocou. Tom esticou o braço e apanhou o celular que estava na mesa de cabeceira, desativando-o. Deitado de bruços na cama, ele baixou o olhar para as cobertas quase intactas, sinalizando que não se mexera quase nada na noite passada. Dormira tranquilo, pacífico, enleado pelas lembranças confortadoras dos momentos mágicos que passara com Anahí. Ele havia esperado um ano para conhecê-la e percebeu que esperaria mais um, dois, quantos fossem... Tê-la em seus braços fora o melhor prêmio para atender qualquer expectativa.

A alguns quilômetros de distância, Anahí também já havia acordado. Antes do banho, passara alguns minutos velando o sono de Manu até que percebeu o relógio pontuando as horas como um alerta. Não podia, em hipótese alguma, se atrasar. Se o fizesse, se penalizaria o suficiente por ter encurtado a noite com Tom em função das gravações daquele dia.

Durante os poucos minutos que passara debaixo do chuveiro, Anahí permitiu-se lembrar de Tom. Os olhos pequenos, de um castanho escuro, compenetrados nela, admirando-a como a uma pintura. As ruguinhas ao redor deles só acentuavam sua sublimidade. Desde a primeira vez que o viu, ela se encantou por aquele rosto. Pelo nariz adunco acima dos lábios pequenos e desenhados que na noite passada lhe renderam beijos suaves, e outrora cálidos. Até da barba grisalha ela gostara. Tudo naquele homem parecia enfatizar algo que já estava latente em sua mente. Mesmo resistindo a formar aquela palavra, era inevitável cogitá-la depois de todas as esperanças que passaram a urgir dentro dela na noite anterior.

Apaixonada. Tão apaixonada a ponto de haver decidido, ao fim daquele banho, que investiria naquilo. Poderia estar se atirando em um completo vazio como fizera com Poncho e com tantos outros relacionamentos, mas não queria pensar. Talvez Tom fosse para ela e para mais ninguém, afinal.

- Não existe um motivo para não tentar. – De roupão em frente ao espelho do banheiro, ela concluiu.

Antes das 8:30 da manhã, Anahí estava prestes a atravessar a entrada do galpão da Warner Bros. Studios em Burbank, onde aconteceriam as gravações de "Lucifer" naquele dia. Ela estava empolgada, mas um tanto quanto receosa também. Nunca havia trabalhado como atriz em um estúdio tão hegemônico quanto os da Warner. Vivera muitas experiências grandiosas, no entanto, nunca estivera em produções hollywoodianas. E lá estava ela, depois de tantos anos parada, prestes a dar vida a uma personagem diferente de tudo que já fizera.

Quando colocou o primeiro pé dentro do estúdio, Anahí sentiu uma mão com dedos compridos alcançar-lhe o ombro. Ao virar para descobrir quem era, recebeu um selinho repentino nos lábios. Era Tom.

- Opa! – Ele ergueu as duas mãos para o alto, alegando inocência. – Eu ia beijar sua bochecha, mas você virou o rosto...

- Um selinho, grande novidade. – Anahí deu um sorriso sarcástico acompanhado por um revirar de olhos.

- É bem verdade... – Tom, que trajava calças jeans, camisa e boné pretos, ajustou este último antes de se aproximar de Anahí, envolvendo-a com um dos braços. – Que agora um beijo não é mais novidade entre a gente.

Sondando o local para se certificar que ninguém veria, Tom beijou Any com suavidade, tocando o queixo dela com os dedos. Alguém se aproximava deles, de modo que precisaram interromper o beijo, mas Tom continuou abraçado a ela.

- Bom dia, pombinhos! Tão conectados que chegaram juntos, hum?

- Não se preocupa, Any, ela sabe. Contei tudo no caminho para cá. Aliás, cadê minhas chaves, Lauren?

- Estão aqui. – Lauren as lançou para Tom, que agarrou prontamente. – Inclusive, acho que você vai precisar estacionar melhor depois. Ficou... meio torto. – Ela coçou a cabeça, sem jeito.

Uma curva no destino (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora