- Eu vos declaro marido e mulher. Podes beijar a noiva.
Esperara dias, meses, anos; mais de uma década por aquele contato. Isto porque beijos saciam desejos, mas somente um tipo deles pode trazer refrigério a um coração desolado.
O beijo com amor. O tipo de beijo que não desnorteia, mas que acalma. O tipo de beijo que ele quis dar a ela há tanto tempo; e o tempo passou, e o beijo não veio, então ela o esqueceu.
Quis ser menos infame. Tentou a duras penas não transformar aquele momento em uma necessidade real de tê-la em seus braços, porém não se sentiu capaz de fazê-lo. Acabou beijando-a profundamente. Deixou suas mãos perfilhadas no rosto dela, permitiu-se explorar cada minúsculo espaço naqueles lábios tão tenros que ela possuía. Então foi além. Ultrapassou qualquer limite ao invadi-los com a língua, esquecendo-se do porquê de estar em um altar de igreja, recebendo-a como esposa.
Logo algo o lançou de volta à realidade.
- Corta! – Exclamou o diretor, concluindo a cena e dispersando a equipe. – Tom Ellis há de conceder-me perdão, mas não consigo ignorar a química que vocês dois exalam em qualquer cena. Sinceramente, sou fã de Alfonso Herrera e Anahí Puente!
- Você diz isso porque até agora Tom e eu não fomos escalados para interpretarmos um par romântico. – Anahí desconversou, descendo do altar e arrastando a barra do vestido de noiva que trajava pelo mármore da igreja.
- O que você fez a ela, rapaz? Sua companheira de cena parece não suportá-lo. – O diretor fez tal indagação apenas depois de ver Anahí sumindo para trás dos bastidores.
- Beijei-a de língua. – Poncho declarou, plácido.
Era triste, deveras triste, voltar a trabalhar com Anahí. Já não tinham a sintonia de antes e ela o tratava com amargura, algo que despedaçava Alfonso.
Passaram a não dirigir a palavra um ao outro enquanto não estavam gravando. Ela, inclusive, só o cumprimentava se estivessem no meio de outras pessoas. Ele ficara invisível para ela e isso lhe doía mais do que ele conseguia lembrar.
Talvez não houvesse parâmetro de comparação, afinal. Em nenhum momento de seu passado, alguém havia tomado o coração de Anahí como Tom fizera. Alfonso não precisou disputar o amor dela antes, e na verdade, não podia fazer nada agora. Nada além de sentir arrependimentos inerentes a um homem que deixara passar o tempo perfeito com a garota dos seus sonhos.
Disperso, Alfonso passou mais algum tempo sentado em um dos bancos da igreja. Mirava o altar, as imagens, as flores e toda sorte de decorações que ornamentavam a cerimônia de um casamento fictício.
Para seu azar, sem que pudesse impedir, suposições lhe invadiram a mente. Pensou no que poderia ter sido se não tivesse se apartado de Anahí há alguns anos. Especulou, até mesmo, como teria sido se casar com ela.
"Por que tantas coisas nos tornaram impossíveis um para o outro? Por que eu fui o primeiro a não enxergar um futuro para nós dois"? – Todas estas perguntas e algumas outras mantinham Alfonso desconexo do mundo.
Ainda perdido em divagações, Poncho não notou uma presença em pé ao seu lado. Tampouco foi capaz de ouvir seu nome sendo chamado uma, duas ou três vezes. Apenas quando uma mão pequena lhe tocou o ombro, ele virou para notá-la.
Era Anahí, não mais vestida de noiva, mas ainda caracterizada. Ela trajava uma calça cintura alta, blazer (ambos pretos), além de uma boina beret vinho, de material aveludado. Uma típica francesa da década de 80, bem aos moldes da personagem que interpretaria no filme. Alfonso conteve-se para não elogiá-la.
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Uma curva no destino (FINALIZADA)
FanfictionCoincidências não existem. Elas são os desígnios do destino sendo cumpridos. O inexorável destino cujo caminho pode ser reto, mas como em toda estrada, as possibilidades de atalho se apresentam. São as curvas que quase sempre se manifestam como esco...