Capítulo 9 - Walmart Soundcheck, 2006

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O show fora cansativo, mas esse não era exatamente o motivo do esgotamento de Alfonso. Haviam acabado de gravar o "Walmart Soundcheck", uma apresentação que perpetuaria na internet para sempre, e absolutamente ninguém seria capaz de editar aquele vídeo a ponto de apagar o comportamento insuportável de Anahí, muito menos retirar Poncho, rendido, tentando de todas as formas se aproximar dela.

            Se havia uma coisa que ele odiava era quando Ani, sem nenhuma explicação, se dispersava. Nenhum pudor, nenhuma hesitação em demonstrar o quão chateada ela estava. Isso era corriqueiro: se eles brigassem antes de uma apresentação, com certeza o público notaria. Ele ficava desajeitado, sentia falta do contato, da interação com ela. Esta, por sua vez, fazia questão de se afastar e até mesmo desfrutar de todas as tentativas sem efeito que ele fazia para se reaproximar dela. O pior era Alfonso sequer ter noção das razões que a levaram a ter tais atitudes na noite em questão.

            Talvez essas pirraças fossem capazes de mantê-los ligados, ávidos um pelo outro. Contudo, brigas, por menores que sejam, desgastam qualquer relação. Ainda mais a deles que não tinha nome, não tinha regras e se baseava apenas na incessante atração que eles tinham um pelo outro.

            Um olhar carente, e um sorriso se formaria. Um toque, e ambos não poderiam fugir: sempre acabariam entre os lençóis.

- Olha o que você esqueceu comigo. – Anahí havia entrado no quarto tão subitamente que Alfonso se assustou. Ainda encostada na porta fechada atrás de si, ela lançou o celular dele na cama. Por pouco, este não caiu.

- Vai lá, Ani, quebra! Você vai me dar outro. – Ele notou que ela estava com os lábios contraídos e a mão direita ajeitava o cabelo a todo instante. Ani claramente queria rir. – O que você veio fazer no meu quarto? Pedir desculpas?

- Eu?! – Em repulsa, Anahí franziu a testa e apontou para si mesma. Passou a se afastar da porta e caminhar pelo quarto, sentando-se, em seguida, na pontinha da cama dele. – Você está muito mal se acha que vou te pedir desculpas, até porque eu não fiz nada.

- Ani, sabe, você dificulta as coisas! Como você vai continuar negando que temos algo se vez ou outra você aparece super chateada comigo nas apresentações? Vai inventar o quê? Quais os motivos das nossas brigas? Você tem que...

- Eu não tenho que fazer nada! Você é que tem que se comportar. Se eu estiver chateada, não me toque, não se aproxime, não olhe pra mim, não me dirija a palavra! – O tom de voz dela se elevou.

- Não. Grita. – Alfonso falou pausadamente, de forma ameaçadora.

- Senão o quê?

- Vem cá, o que você quer? Eu não fui no seu quarto te procurar. Você é quem está aqui no meu, puta da vida sabe Deus por quê!

- Eu só vim devolver a porcaria do seu celular. – Anahí respondeu entredentes.

- Não. – Alfonso se aproximou dela, meneando o dedo indicador negativamente. Em seu rosto, um sorriso vitorioso acabara de se formar. – Você viu algo no meu celular. Um SMS, talvez? Você está com ciúmes, talvez?

- Ai, não te suporto! Você está louco! Eu não sinto ciúme nenhum de você, ok? Se enxerga! – Anahí ficou de pé, aviltada.

- Ah, é isso... – Alfonso mexia em algumas teclas do celular e acabara de chegar à caixa de entrada das mensagens. Havia um SMS, enviado naquele mesmo dia, de uma garota qualquer insinuando estar sentindo falta dele. A última resposta que ele deu a ela tinha acontecido há três meses. Ele sequer lembrava da imagem dela, o nome que constava no contato não lhe remetia a nada. – Você viu que a última vez que respondi foi há três meses, Anahí? Eu nem lembro dela! Um milhão de pessoas diferentes podem me mandar mensagem, não significa que eu respondo a todas.

Uma curva no destino (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora