Capítulo 3 - Ofuscando

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O sol a pino daquela manhã de domingo não era capaz de impedir a brincadeira do garotinho, que corria atrás da bola de futebol de um lado para o outro, mesmo que na maioria das vezes não conseguisse dominá-la com os pés. Mas ele não desistia.

            Alfonso ria de seu pequeno Daniel em sua saga interminável por aquela bola. Na verdade, correra com ele também há pouco, mas cansou e sentou-se na cadeira de praia, restringindo-se a observá-lo.

- Já cansou, velhinho?

- Di! – Alfonso olhou para trás, esboçando um largo sorriso para a esposa que caminhava até ele com uma bandeja repleta de pães de queijo e uma jarra com suco de melancia.

- Ah, não fica aí parado! Me ajude aqui!

            Alfonso levantou depressa, dando uma pequena corridinha em direção à esposa, tomando dela a jarra de suco e os copos.  

            Após servirem o lanche, enquanto Dani comia depressa, Alfonso pegara um copo de suco para entregar à Diana, que observava o dia ensolarado de seu jardim, sentada confortavelmente na cadeira de praia. Quando Alfonso se aproximou, sentando em seguida sobre a grama, a esposa o observou, sorrindo:

- Então quer dizer que você não aguenta mais jogar bola por meia hora com seu filho? – Diana cruzou os dedos debaixo do queixo, estreitando os olhos para Alfonso, em tom de deboche.

- Mas você está implicante hoje, hein?

- Só estou observadora. – Diana ajustou os próprios óculos, abrindo um sorriso ainda maior para o marido.

- Com seus enormes óculos de tartaruga...

- Mas eu vou matar você, Alfonso Herrera!

            Diana esticou as mãos para acertá-lo, mas ele foi mais rápido e as segurou. Alfonso soltou uma gargalhada, e em seguida, beijou cada uma das costas das mãos da esposa. Os dois viviam constantemente assim: brincalhões na maior parte do tempo, e hora ou outra, cessavam as brincadeiras com carinhos sinceros.

- Eu adoro essa vida, Di. Não a trocaria por nada.

- Eu também. – Disse isso enquanto acariciava o rosto do marido. – Quer dizer, só trocaria você por um marido que tomasse mais banhos depois de jogar bola.

- Meu Deus, você é muito chata, sabia? – Alfonso levantou-se, observou a mulher assentir com a cabeça e lhe depositou um beijo na testa. – Pois vou tomar banho e passar no supermercado. E o marido que não toma banho aqui vai cozinhar algo delicioso para o almoço.

- Agora estamos falando a mesma língua. Vai lá, amor, vou cuidar do nosso filho porquinho que curiosamente está arrancando minhas plantas pela raiz... – Diana saiu correndo em direção ao filho, um tanto quanto desesperada. – DANI, MEU FILHO, PELO AMOR DE DEUS, ESSA PLANTINHA NÃO!

            Alfonso deixou as travessuras do filho ao encargo de Diana, e logo após o banho, preparou-se para ir ao supermercado. Mesmo este sendo bem próximo, não estava lá muito a fim de tomar sol novamente ou caminhar, então pegou as chaves do carro e dirigiu até lá.

            Durante o percurso, Alfonso se deu conta que esquecera o celular em casa e odiava dirigir sem música. Não lhe restou alternativa a não ser ouvir rádio. Passou por várias emissoras, até que em uma, certa canção lhe chamou atenção. Na verdade, não era a letra da música ou a sonoridade desta: era a voz que a entoava. Reconheceria aquela voz em um milhão de línguas e ritmos diferentes.

            A rua não era muito movimentada, então Alfonso pôde encostar o carro. Parado ali onde estava, aumentou o volume do rádio e se permitiu escutar aquela canção por um curto momento. Curto, mas com todas as lembranças que lhe surgiam, parecera bem longo.

Uma curva no destino (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora