Capítulo 09

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Alfonso estava inclinado sobre a sua escrivaninha quando Claire entrou no escritório. Havia um mapa enorme estendido a sua frente mostrando cada trecho da ferrovia, cada comércio que passaria as suas margens, cada cidade ou povoado que cruzaria, cada rio, desvio, montanha, precipício, pontos críticos... Alfonso tinha todas as informações que precisava naquele papel, e exatamente por isso estava tão concentrado que não viu a morena entrar.

Ela pigarreou, levando-o o olhá-la. Claire sustentava nas mãos uma bandeja com uma generosa pilha de envelopes e seu sorriso de pesar a denunciou antes da hora.

- Não - disse ela quando o viu abrir a boca para protestar. Alfonso ergueu uma sobrancelha, surpreso, e ela se justificou: - Elas já viraram uma montanha. Precisa facilitar o meu trabalho também - implorou, completamente honesta, mas Herrera deu de ombros, voltando a olhar o mapa.

- O que era urgente já veio até mim - ele argumentou, referindo-se a todos os assuntos importantes que bateram a sua porta ao invés de enviar cartas - Se alguém está tentando contato por escrito com certeza é porque pode esperar.

- Tem que levar seus compromissos de forma paralela, Alfonso. Posso cuidar de muita coisa sozinha, mas não de tudo.

- Não tenho tempo para estes compromissos agora.

- A rotina exige - ela insistiu de forma totalmente plácida, mas não o suficiente para não tirar Alfonso do sério.

Ele se sustentou nos braços, com as mãos espalmadas sobre a mesa, e ergueu novamente o pescoço para olhá-la com impaciência, parecendo exasperado.

- Tem ideia que um trem descarrilhou na minha ferrovia? Que o conserto desse trecho está atrasando os demais e, consequentemente, a conclusão de toda ela? Tem ideia da repercussão negativa que isso está me causando?

Claire assentiu, frustrada, deixando os ombros caírem, e a expressão constrangida da moça levou Alfonso a se arrepender imediatamente da falta de tato. Ela estava simplesmente desempenhando seu papel de organizar e facilitar não somente seu trabalho, mas sua vida inteira. Ele deveria se lembrar que já não estava convivendo com uma mulher que tinha o costume de contrariá-lo e que, portanto, não merecia uma contra-argumentação tão ferrenha. Afinal Claire nunca o questionava. Nunca, sobre nada. Alfonso deveria admitir que já até havia perdido a prática.

- Desculpe - ela pediu, preparando-se para deixar o escritório - Não queria atrapalhá-lo.

- Claire - Alfonso chamou quando ela lhe deu as costas. Ela voltou, muda, e o viu esfregar a nuca para tentar desfazer um nó de tensão - Não estou realmente irritado com você. Estou estressado com toda a situação. Desculpe. Sei que está tentando me ajudar.

A morena assentiu, compreensiva, não querendo prolongar o assunto.

Mas Alfonso aparentemente sim, queria. Mais uma vez, logo que ela girou nos calcanhares para sair, ele a chamou novamente:

- Claire - ela tornou a olhá-lo, serena - Você tem razão. Fique.

A morena soltou o riso em um suspiro. Alfonso frequentemente também esquecia que ela não se aborrecia com quase nada, estava sempre compreendendo-o, apaziguando seu mau humor, contornando suas irritações. Apesar disso, era muito educada e sabia negociar quando achava que deveria. É claro que esse não seria um caso diferente.

- Tudo bem - ela concedeu, aproximando-se - Separei as essenciais e a partir disso você pode elencar suas prioridades.

- Onde estão?

- São essas - ela esclareceu, óbvia, apontando todos os envelopes que trazia - Todas essas.

Alfonso despencou em sua poltrona, bufando. Depois fez um gesto apressado para que Claire começasse então, já que tinha realmente de fazê-lo.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora