Depois do Inverno

Capítulo 31

O baile a que Ruth se referia não foi totalmente desastroso ou mesmo tedioso, como Alfonso previu. Óbvio, ainda era inconveniente e constrangedor lidar com tanta gente, sobretudo sendo agora um homem repentinamente casado. De repente, os mesmos negociantes que falavam sobre as fortunas que pretendiam alcançar estavam lhe perguntando sobre sua filha, sobre os próximos filhos, sobre onde pretendia enviá-los para estudar e qual carreira Alfonso gostaria que seguissem. Era um pouco estarrecedor, mas igualmente bom.

A vida havia mudado, afinal, as sensações também eram novas. Como o orgulho que ele provou ao imaginar a si mesmo de fato, dentro de alguns anos, enviando Bella para estudar e muito provavelmente conquistar o mundo.

É importante ressaltar mais uma vez: todos estavam satisfeitos, Alfonso principalmente. Foi muito fácil ignorar qualquer aborrecimento com o nariz de Anahi frequentemente se enroscando ao seu a cada nova dança que precisavam compartilhar. Ela, por sua vez, seguia conforme a música - em toda a abrangência do termo. Circulou com Ruth, conheceu pessoas, fez o que seu papel social pressupõe que seja feito, inclusive sentar e descansar ao lado do seu marido.

Era parecido a muito do que já haviam vivido e por isso constantemente uma sensação familiar rondava o peito de Anahi. Novamente, ela se viu como uma mulher recém-casada, se inserindo em um novo espaço social sob o olhar dos demais. A formalidade, a preocupação com os modos, com a opinião que as pessoas teriam dela e do seu casamento... Era basicamente igual a como foi em Londres. Ela tentou acessar o sentimento que tinha quando, inocentemente, Alfonso ainda era o homem virtuoso e encantador que amava. Mas não conseguiu alcançá-lo, havia muito pelo caminho; principalmente ela mesma, que já não era como anos atrás.

- O que será que Bella está fazendo agora? - Alfonso refletiu, fazendo o vinho da sua taça girar, pouco ou nada interessado na bebida. Anahi igualmente. Sentados à mesa, dessa vez eles apenas aguardavam o fim da festa. A menção à filha ganhou a atenção de Anahi.

- Não sei, mas acho que ela gostaria de estar aqui.

- Mesmo? Eu acho que não - Alfonso discordou e Annie ergueu uma sobrancelha, surpresa pela iniciativa da opinião - Na verdade, acho que ela gostaria de estar e acabaria descobrindo não ter sido uma boa ideia, enérgica como é - acrescentou, alheio ao olhar especulativo de Anahi - Exceto pelas músicas.

A loira levou um segundo absorvendo para depois sorrir levemente.

- As músicas são realmente boas - comentou, assentindo, e outra vez se surpreendeu ao ouvi-lo dizer, relapso:

- Eu também gostaria que ela estivesse aqui.

- Hum - a loira ponderou, pensando sobre - Acha que seria inapropriado sairmos antes da festa pelo menos ter começado a acabar?

- Começado a acabar? - ele riu, franzindo o cenho - O que quer dizer?

- Você sabe... Os velhos rituais de despedida - ela explicou, quase rolando os olhos - Os apertos de mãos tão fortes que poderiam quebrar ossos, as promessas de que voltarão a se encontrar: os homens para fechar algum negócio, as mulheres para tomar chá e comprar vestidos que possam mostrar o quão ricos seus maridos são.

- Não seja tão crítica. Seu vestido também mostra o quão rico seu marido é - Poncho provocou e Anahi simplesmente devolveu o desafio, aproximando o rosto do dele.

- Não - negou, contundente - Ele mostra o quão rica eu sou.

Alfonso riu mais alto, embalado pelo olhar firme da esposa.

- E de muito bom gosto - acrescentou, vendo-a agradecer com um gesto de mesura - Sair cedo seria inapropriado, sem dúvidas, mas ainda não tenho certeza se isso me impediria de fazê-lo, principalmente depois de ouvir sua sugestão. No que pensou?