Capítulo 20

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Dois dias depois do episódio com Alfonso no corredor, Anahi ainda sentia os efeitos de tê-lo afastado. Sentia no corpo e na mente, sem saber ao certo qual deles lhe deixava mais atordoada. Mas algo diferente ocorreu na terceira noite... Uma noite em que ela jurava estar sozinha.

Ela sentiu beijos mornos no interior das coxas, subindo, e se revolveu na cama, inquieta. Sentiu o cheiro dele envolvê-la, o toque subindo pela barriga, alcançando os seios, massageando os mamilos devagar... A boca dele puxou a pele de seu pescoço e ela gemeu, excitada. Então ele refez o caminho de volta, passeando pela contorno da cintura, rodeou o umbigo, prendeu o clitóris entre os lábios e terminou mergulhando a língua nela, levando-a a um orgasmo intenso em pouco tempo.

Mas então Anahi acordou em um sobressalto assustado, ofegante. Ela olhou ao redor, tentando entender, e se viu em seu quarto, sozinha, com o corpo banhado em suor, sensível e pulsando em diversos pontos. Para seu completo choque, se deparou também com sua mão entre as pernas, pressionando em um ponto específico demais; a outra agarrava o vazio do colchão ao seu lado, espremendo o lençol entre os dedos. Não parava aí: seus joelhos se apertavam um contra o outro, como ela se lembrava de ter feito no sonho, quando era a cabeça de Alfonso entre suas pernas. Ela recolheu a mão num rompante, horrorizada consigo mesma. Cristo... Se tivesse realmente feito aquilo dormindo seria o caso de solicitar uma contenção psiquiátrica.

Ela sentou no colchão, ereta, tentando se acalmar, e seus olhos caíram na caixa de cartas sobre a sua penteadeira. Não as cartas dos seus pais - porque estas estavam guardadas em um lugar especial - mas as de Alfonso, que ela ainda não havia lido, porém tampouco havia se livrado. Durante duas noites seguintes à noite com Bella, Anahi repetiu um roteiro: se apoiava nos travesseiros antes de dormir e ficava encarando o objeto que descansava na sua penteadeira, tentando tomar a iniciativa de abri-lo e ler tudo que havia para ler. Mas o impulso nunca veio, nunca aconteceu, existiu apenas em pensamento. Inevitavelmente, Anahi caía no sono antes de criar coragem.

Naquela manhã acontecera exatamente igual; ela sacudiu a cabeça e recusou a ideia. O banho havia ajudado, mas não fora suficiente: Anahi continuava em plena atividade dos nervos. Ela se certificou de não cruzar Alfonso e chegou ao escritório para se deparar com Maite trazendo uma correspondência que não esperava receber: seu ofício para liberar o transporte da sua carga de vinhos negado. Mais uma vez. Novamente sob uma justificativa até plausível, mas agora com uma sugestão de resolução no mínimo insultante: que um trecho do trajeto fosse feito pela ferrovia pela qual Alfonso era responsável (nas palavras dele "o Senhor Herrera, seu marido") com um preço "mais acessível", o qual o comprador estava "disposto a negociar". Fazia sentido e era inteligente. O problema era que Anahi teria que pedir a Alfonso e contar com a generosidade dele depois do que ela havia feito estava absolutamente fora de cogitação.

- Deve ser o inferno - ela bufou, baixando o papel sobre a mesa com uma camada de indignação nos olhos.

- O que você está causando nas nossas vidas? - Maite perguntou, analisando as unhas, sentada diante de Anahi - Concordo.

Anahi dirigiu a ela um olhar de ameaça.

- Não é uma boa hora.

- É a melhor hora. Olha o seu estado, precisa espairecer, relaxar... - a morena sondou, apoiando os cotovelos na mesa - Que tal pensar na sua festa? Temos zilhões de coisas para fazer.

- E ainda isso - Anahi reclamou, jogando a cabeça para trás.

- Que horror. Você não está um único dia de bom humor. Não tem transado? - Maite criticou, se deleitando com a alfinetada, e a loira voltou a olhá-la com ódio - Vamos lá, você tem tempo. - incentivou - Para pensar na nossa festa, digo.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora