Capítulo 27

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De repente ninguém parecia ter ar nos pulmões. Houve uma movimentação intensa. Alfonso foi quem correu mais rápido; Anahi e Ian indo imediatamente atrás. Ninguém teve tempo de pensar, supor ou dizer qualquer coisa: o que haviam escutado bastava.

Eles só tinham uma fonte. Larga, alta, profunda para uma criança pequena... Um medo horroroso grudou a língua de Anahi no céu da boca, ameaçou paralisar seus joelhos, mas ela se manteve firme ainda assim, Deus sabe como. Alcançou Bella primeiro por puro desespero; sem pensar, sem enxergar ou ouvir. A menina emergiu mole nos braços da mãe, desacordada, branca em excesso. Mais uma vez, Anahi conteve o próprio pânico para conseguir ajudá-la. Alfonso a recolheu para acomodá-la no gramado e livrou o rosto da filha do excesso de água como se ela precisasse simplesmente respirar livremente. Ou pelo menos como ele tinha esperança que acontecesse. Mas não houve nada. Bella se manteve inerte.

Foi a vez de Ian tomar a frente. Havia bastante para tentar e, por sorte, ele sabia o que fazer. Havia estudado alguns tratados de anatomia, lido sobre circulação artificial... Checou sua respiração, seu pulso... Anahi e Alfonso, a partir daí, só conseguiram acompanhar, observando atentos. Foi um curtíssimo espaço de tempo; frações de segundos que os dois sentiam como uma eternidade enlouquecedora.

- Não respira - Somerhalder constatou - Mas tem pulsação - acrescentou, observando o olhar apavorado de Anahi - Isso é normal, mas você vai precisar ventilar.

- O quê?! - ela franziu o cenho, perdida. Não tinha a menor ideia do que ele estava dizendo.

Então ele começou a mostrá-la, escondendo o próprio nervosismo para conseguir transmitir a segurança necessária. Anahi apertou o nariz de Bella segurando o choro, sentindo a mão vacilar. Apanhou seu maxilar para mantê-la com a boca aberta e soprou até que o tórax da menina se expandiu. Alfonso começou a pedir a Deus que fosse o suficiente... Mas Bella continuou paralisada.

- Outra vez - Ian orientou, firme, e Anahi obedeceu, enchendo o peito de ar para oferecê-lo a filha. Ele voltou a checar o pulso e algo parecia ter mudado, pois a expressão em seu rosto também mudou.

- E então? - Anahi perguntou, ansiosa - E agora o quê?! Por que ela não acorda?!

- E agora eu vou precisar de um pouco mais de espaço. Você vai continuar soprando, mas só quando eu disser - ele avisou, espalmando uma mão para Anahi, que se posicionou alguns centímetros a mais de distância, sem entender.

Ela o viu se pôr de joelhos ao lado de Bella, viu quando ele posicionou um punho fechado bem no meio do peito da menina... E antes que ela pudesse processar, Ian começou a empurrar repetidamente, decididamente. Uma, duas, cinco, quinze vezes, sem parar. A cabeça de Anahi parecia esmagada pela cena. Não era possível. Não podia ser. Minutos atrás Bella estava correndo radiante no campo, rindo, os cabelos ondulando no vento...

O mundo, que já vinha girando em câmera lenta, quase parou quando Ian ordenou que ela soprasse como havia feito antes. A única opção de Anahi foi obedecê-lo, absolutamente estarrecida. Deu seu máximo e, ainda assim, ele teve que recorrer à uma segunda tentativa. Alfonso, ao lado, parecia nem ter mais vida. Mas então o cenho de Bella ameaçou se franzir, os olhos pestanejaram... E de repente ela começou a tossir água, afobada pela sensação.

Foi como descarregar o peso de uma montanha do peito dos três. Ian quase despencou de alívio, Alfonso agarrou os próprios cabelos, chocado, e Anahi finalmente conseguiu chorar.

- Meu amor - ela soluçou, se debruçando sobre a filha - A mamãe nunca mais vai te deixar sozinha. Nunca mais. Nunca mais.

Bella nem entendeu. Só sabia que estava se sentindo sufocada, zonza, que sua mãe estava chorando e seu pai parecia muito assustado, muito preocupado... Além disso, estava tremulando de frio. Tentou levantar, mas algo dentro da sua cabeça impediu, doeu muito forte. Sentiu vontade de chorar, mas Alfonso a recolheu nos braços e, apesar de ainda ser assustador e confuso, estar nos braços do pai acalentou seu medo.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora