Anahi abriu os olhos e o rosto de Alfonso ocupou todo o seu campo de visão, a respiração pesada dele batendo nas suas bochechas. Saiu da cama primeiro e o deixou dormir. Ele nem se moveu. Sabe-se lá no que havia pensado durante a noite, ou madrugada adentro, ou no que pensaria logo que acordasse... Mas ontem eles haviam tido um progresso e assim Anahi pôde encontrar um ponto seguro onde deixar seu próximo passo. Ela sabia exatamente onde podia ir, onde pisar, então as prováveis indagações de Alfonso ficaram em segundo plano.
Com Bella ainda dormindo e tendo a permissão que o casamento lhe concedia, Anahi se pôs a explorar a casa, curiosa, conhecendo os cômodos e tendo, portanto, que lidar com alguns empregados empenhados em deixá-la a vontade. Em geral, eles a cumprimentavam com formalidade e subserviência, se mostrando sempre solícitos e disponíveis a qualquer necessidade. No papel da esposa de Alfonso Herrera, era aquilo que lhe cabia. E ela o interpretou muito bem, sempre sorrindo com serenidade, tendo o caminho aberto e livre, aceitando biscoitos, recusando chá para pedir simplesmente água. Aparentemente, todos estavam a seu dispor.
Passou algum tempo observando os detalhes das paredes, das vidraças, dos lustres. A arquitetura tão mais ousada do que tudo que havia visto em Londres. Os móveis eram diferentes, as cores mais vibrantes, e até coisas minúsculas como as maçanetas das portas lhe pareciam peculiares. Ela estava justamente girando uma delas quando Ruth surgiu ao seu lado, radiante e alegre, como apenas ela - ou Maite - poderiam ser.
- Bom dia, querida! Como acorda cedo - cumprimentou, surpreendendo Anahi com um abraço afetuoso que ela logo retribuiu, um tanto constrangida - Poncho não está fazendo as honras?
- Bom dia, Ruth. Eu abri os olhos quase com o nascer do sol. Minha natureza londrina, suponho - comentou, divertida - Ele continua lá, dormindo e sonhando com sabe-se lá o quê.
- Possivelmente com a esposa e a filha linda que tem - a mais velha gracejou, simpática.
- E curiosa. Não me contive e sai em exploração desacompanhada. Peço desculpas.
- Ah, por favor, Anahi. Essa casa também é sua. Agora nós compartilhamos o mesmo lar. Eu posso apresentar tudo a você - Ruth disse, abrindo rapidamente a porta na qual as duas aguardavam - Aqui é nossa sala de estudos - apontou, dando espaço à passagem de Anahi, e logo emendou a falar outra vez: - Seria precipitado perguntar o que você está achando de Los Angeles?
O olhar de Annie percorreu o teto lentamente, como se estudasse cada centímetro. Ela se aproximou da estante e observou as ondas talhadas na madeira maciça, impressionada com a precisão do desenho.
- Fora do tradicional ao qual estou habituada - respondeu, por fim, e seu ar era de puro encantamento - Ainda não pude ver muito, mas já notei as diferenças. Especialmente nos vestidos que andei observando do porto até aqui - cochichou, cúmplice, e Ruth concordou com um aceno de cabeça teatral - Eu não quis chamar a atenção de Alfonso para esse fato, mas preciso de vestidos novos ou vou terminar em completa desvantagem.
Ruth gargalhou, contagiada pelo temperamento espirituoso de Anahi. Era mesmo uma sorte tremenda ser presenteada com mais uma pessoa para compartilhar momentos bons como aquele. As duas tomaram o corredor novamente, se direcionando a um outro cômodo. E assim outro e outro, até que estivessem aos pés da porta do escritório de Alfonso. Era uma porta dupla, enorme, de madeira escura, um tanto isolada dos demais compartimentos da casa. Sem dúvidas a porta de um local importante, onde Alfonso não gostaria de ser incomodado. De forma geral, Anahi também não gostava.
O que era muito compreensível para Ruth diante do nível de responsabilidades com as quais Alfonso tinha de lidar. E não que fosse do seu feitio entrar sem permissão, mas para a esposa do seu filho com certeza uma breve olhada não haveria de ser um problema.
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Depois do Inverno
Fiksi Penggemar:: Continuação de Ruas de Outono :: https://www.wattpad.com/story/47602388-ruas-de-outono