Capítulo 19

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E você me deixa pensando:
Oh, o que você quer de mim?
E eu tentei comprar o seu lindo coração
Mas o preço é alto demais

A modernidade, naquele instante, estava totalmente contra os dois. Os trajes vinham mudando, incluindo os de dormir, o que permitia agora que Alfonso usasse uma camisa aberta até o meio do peito, dando a Anahi mais visão do que ela gostaria de ter. Para compensá-la, o mesmo ocorria a Herrera. Ela usava uma camisola clara, longa e acetinada, com um decote muito mais acentuado do que ele se lembrava, um robe aberto, um perfume enlouquecedor... Mas seus olhos pararam de observar como o tecido se moldava aos quadris dela quando viu um papel familiar em suas mãos. Tornou a encará-la. E estava furiosa, definitivamente. Ele sabia que podia contar com mais uma longa discussão.

- Isso - ela grunhiu, espalmando a carta contra o peito de Alfonso - Não deveria ter feito isso.

- Bella escondeu na sua bolsa - ele disse, simples - Eu não pude fazer nada e depois você apareceu como uma rainha assassina censurando a todos nós.

- Não deveria ter deixado - Anahi recusou a piada, séria, andando para lá e para cá - Tive que ler para ela no lugar do livro que ela costuma pedir. Na verdade, Alfonso, vou reformular - ela girou de volta, os lábios apertados, os olhos tremendo de raiva. Apontou um dedo para ele e declarou: - Não deveria ter escrito. Nunca. Foi um lapso de estupidez para um homem que se crê tão inteligente. Isso nunca consertaria nada.

Querido, você me deixa pensando:
Oh, você ama quando eu desmorono
Assim você pode me erguer
E me atirar contra a parede

- Entendo - ele declarou, mas apesar de parecer tranquilo, seu tom soava a desafio - E o que você fez com elas?

- O mesmo que você tentou fazer com as de Arthur e não conseguiu.

- É exatamente isso, Anahi - Alfonso meneou a cabeça, ignorando a petulância das palavras dela - Não consegui. Elas me lembravam você e eu sabia que em algum momento precisaria me livrar da lembrança. Seria útil depois do que você havia feito, porque eu queria te machucar. Mas não consegui. Eu sabia que eram importantes para você.

- Então essa é a principal diferença em toda essa situação: as suas não eram importantes para mim - ela revidou sem hesitar - Eu as queimei sem sequer ler.

- Nunca leu? Nem antes? - ele sondou, surpreso. Anahi negou com a cabeça, irredutível - Por quê?

- Porque não quis - ela retrucou em um silvo furioso, encarando-o - Não queria me arriscar a sentir o que estou sentindo agora.

- E o que está sentindo, Anahi?

- Raiva.

- Raiva não é novo, você sabe lidar - ele deu de ombros, cruzando os braços - O que está sentindo que está deixando você assim?

Querido, você me deixa pensando:
Não pare de me amar
Não desista de me amar
Apenas comece a me amar

Anahi arfou, encarando-o de volta. Alfonso a observou, toda rígida, brava, exalando energia de uma boa briga. Ela estava com raiva, era óbvio, mas não era apenas aquilo. Raiva ela sentiu e nutriu desde o primeiro momento em que ele pisou naquela casa e não chegava perto daquela reação. A resposta de Anahi saiu sem que ela nem percebesse, como se vomitasse algo que sufocava sua garganta.

- Vontade de você - confessou, raivosa - Vontade de você inteiro em mim.

Alfonso piscou, surpreso. Não esperava por essa. E, definitivamente, não esperava também que ela se atirasse contra ele antes que ele fosse capaz de pelo menos processar. O fio que vinha impedindo Anahi se rompeu por completo. E, como sempre desde que voltou, felizmente Alfonso estava lá para amparar.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora