Capítulo 02

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Sentada na carruagem, na entrada da vinícola, ela observava um pequeno aglomerado de homens a esperá-la. Esse foi o principal motivo que a fez titubear durante a semana e sobretudo na noite anterior. Não sabia como iriam reagir ao se dar conta de que ela estaria no comando da produção. Não seu marido, não seu pai, seu irmão ou qualquer outro homem. Ela não seria um apoio, não estaria em segundo plano. Seria o pilar principal.

Em certo ponto, lamentou não ter Alfonso ali, apenas naquele instante, mas logo em seguida o orgulho lhe consumiu de uma forma tão odiosa que, para não ceder aos seus próprios lamentos, decidiu enfrentar aquela situação independente do que lhe custasse. Ele não estava mais ali. Nunca mais estaria. Ela já não precisava dele para nada. Nunca mais precisaria.

Então para não se torturar por esses sentimentos, afundou-se em livros, lendo tudo que encontrava sobre o tema e, principalmente, absorveu conhecimento e aprendeu com a experiência do pai que, muito embora já não tivesse interesse em desempenhar aquela atividade, outrora havia levado a sua vinícola a ser a principal responsável pela produção de vinho do país.

Segundo Arthur, e segundo suas intensas horas de estudo, deu-se conta que isso não era um objetivo a curto e nem médio prazo, mas sim, longo. O produtor deve escolher, mais de um ano antes, qual produtividade vai querer e esperar que a natureza também faça sua parte. Era fim de inverno, a época ideal para começar o plantio. Com ciclos de colheita anuais, Anahi não podia esperar mais uma semana sequer. Como ela havia pensado, não tinha tanto tempo, mas dessa vez o tempo que tinha parecia finalmente a seu favor. E ela iria respeitá-lo.

Ela sentiu um toque firme em seu joelho, em forma de apoio, e virou-se. Ian, solícito como sempre, sorriu para ela.

- Podemos? - perguntou - Está pronta?

Anahi meneou a cabeça em afirmação, sentindo-se segura por tê-lo ao seu lado não somente como seu advogado, mas também como o grande amigo que vinha se mostrando ser.

Eles desceram da carruagem, aproximando-se, e os homens se arrumaram para recebê-los.

- Sra Herrera, como vai? - um deles se adiantou, reverenciando a loira. Então como se esperasse por algo a mais, olhou ao redor e imediatamente perguntou, como se fosse a única coisa importante: - Alfonso virá?

Anahi se sentiu vacilar. A insegurança voltou a preencher cada partícula do seu corpo, mas ela apenas limpou a garganta, antecipando os embates, as vezes não tão sutis, que enfrentaria naquela tarde.

- Não - respondeu, sucinta - Eu estou cuidando da propriedade agora. Esse é Ian Somerhalder, meu advogado.

O homem os cumprimentou com um aperto de mãos desconfortável. Parecia haver escutado um impropério sem sentido.

- Entendo - disse, franzindo o cenho - Nós e Herrera vínhamos tentando chegar a um acordo há um bom tempo, então creio que seria melhor que ele estivesse aqui.

A devolutiva de Anahi, frente a hesitação dele, foi:

- Você pode me atualizar sobre isso e tratar comigo de hoje em diante.

Ele soltou uma risada descrente, olhando-a de forma zombeteira, como se ela estivesse no meio de um delírio.

- Receio que não, Sra Herrera.

Ian abriu a boca para contestar, mas Anahi, ultrajada e, sobretudo, orgulhosa, foi mais rápida.

- Nesse caso, você pode ir embora - disse, simples. Não havia alteração na sua voz, no entanto a dureza do seu olhar foi o suficiente para fazer o homem amenizar as próprias expressões, constrangido. Ian ergueu uma sobrancelha - Se você não tem interesse em seguir adiante, tampouco eu tenho interesse em tê-lo aqui. Saia pelo mesmo caminho que tomou para entrar.

Depois do InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora