O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)

O CASAMENTO (CAPÍTULO EXTRA - PARTE 1)

GUILHERME

PARTE 1

É difícil explicar o que você sente quando sua vida vira de pernas para o ar, principalmente quando isso acontece não só uma, mas várias vezes durante toda sua vida. A minha, nos últimos anos, vinha sendo como uma montanha russa que não parava nunca. Às vezes achava que nunca saberia como lidar com essas voltas que tenho dado, mas isso acabou se tornando algo tão comum que, estranhamente, aquela foi a primeira vez que não estava tendo uma crise de pânico ou ansiedade pelo o que estava prestes a fazer.

- Tem certeza que devemos fazer isso agora? – Felipe perguntou, sem deixar esconder o seu nervosismo. Nós dois estávamos parados diante da minha casa, na calçada. Encarei a faixada e pensei no quão estranho seria quando eu saísse dali, mas antes que qualquer sensação de tristeza me invadisse, me virei rapidamente para Felipe.

- Está querendo desistir, Felipe? – provoquei, com um sorriso malicioso. – Achei que chegaríamos mais longe, tenho que confessar. – eu disse, rindo. Ele virou o rosto para mim e sorriu, mostrando todos os seus dentes.

- Não me subestime, baby! – ele disse, me puxando para mais perto de si e me abraçando pelos ombros.

- Vai dar tudo certo, amor. É só me garantir que você está usando um colete a prova de balas. – falei, já me desvencilhando dele e pegando minha mala. Caminhei em direção a porta da minha casa, mas parei quando cheguei até ele e percebi que Felipe não estava me seguindo. Ele continuava parado, me olhando da calçada com uma expressão muito pálida que me arrancou risadas. - Felipe! Estava brincando! – o tranquilizei, ainda rindo enquanto observava ele voltar a relaxar seus ombros. Em seguida, Felipe veio ao meu encontro.

- Você ainda vai me matar do coração! – ele disse, com uma careta. Eu apenas sorri com malícia e então entrei em casa, tentando esconder um pouco a ansiedade que estava sentindo.

A casa parecia silenciosa, já que ao chegar na sala, nós não encontramos ninguém. Tudo estava calmo e não tinha qualquer sinal de pessoa por perto. Era domingo e não sabia se meu pai estava de folga ou de plantão. Nós não tínhamos avisado quando voltaríamos de viagem, pois estava nos meus planos e nos de Felipe, prolongar um pouco mais as nossas férias, em algum lugar mais calmo e de preferência próximo a natureza, mas então veio o pedido de casamento e a urgência de Felipe para que nós fizéssemos aquilo o mais rápido possível.

Felipe e eu subimos para o meu quarto e ainda assim não topamos com ninguém pelos corredores da casa, mas ao passar por uma das janelas que tinha vista para o jardim de casa, vi que todos estavam na piscina. Eu os observei por um momento, sentindo um frio estranho na barriga. Amava a minha família mais do que qualquer coisa no mundo, mas algo dentro de mim me dizia que precisava de um pouco mais de liberdade e de ter o meu próprio mundo.

Nós deixamos nossas malas dentro do meu quarto e quando saímos novamente, me dei conta que desde que tínhamos entrado em casa, Felipe não tinha dito uma palavra sequer. Eu o entendia e até achava um pouco engraçado, mas no final das contas, era um passo importante o que nós estávamos fazendo e eu o conhecia melhor do que qualquer pessoa para saber o quanto ele tinha pensando sobre aquilo antes de tomar qualquer decisão. O que estávamos sentindo naquele momento, era apenas o medo de não sermos compreendidos. Além disso, tinha certeza de que Felipe achava que se papai não concordasse com aquilo, os nossos planos estariam simplesmente acabados e tudo iria por água a baixo.

- Está tudo bem? – perguntei quando nós chegamos até a cozinha. Já podia ouvir as vozes vindo do jardim.

- Ainda estou bem nervoso com isso. Acho que seu pai vai me matar. – ele disse e respirei fundo. Me virei para ele antes de sairmos para o jardim.