Sabe aquele momento em que você simplesmente sente que está agindo no automático? Aquele momento que apenas segue os comandos de seu corpo, onde suas pernas lhe guiam por um caminho qualquer e suas mãos simplesmente se negam a trabalhar? Então, era exatamente dessa maneira que eu estava me sentindo quando estacionei o carro no hospital. Por um segundo, fiquei imóvel, tentando assimilar o que estava acontecendo. Tudo parecia estranhamente diferente, como se eu estivesse num lugar desconhecido, mas da mesma forma que chegou, essa sensação logo foi embora, fazendo com que minhas pernas voltassem ao comando, fazendo-me correr para dentro do hospital.
O lugar parecia estar tomado por pessoas naquela tarde, o que só me deixou ainda mais confuso e perdido. Havia várias famílias amontoadas sobre o balcão da recepção, o que tornou impossível a minha aproximação para que eu pudesse descobrir algo sobre Felipe. As pessoas estavam agitadas e nervosas, mas foi quando vi algumas delas chorando e se abraçando, que senti como se o pânico tivesse tomado conta de mim completamente. Olhar para aquelas famílias, que provavelmente haviam perdido alguém importante, fazia com que eu tivesse a sensação de que estava me olhando no espelho, e estava tão em choque com a sensação, que demorei um pouco para entender que alguém estava sacudindo meus ombros.
- Guilherme! – sacudi a cabeça rapidamente, tentando voltar ao mundo real. Meus olhos caçaram rapidamente em volta, até que encontrei o rosto familiar de papai, que sem qualquer aviso, passou os braços em volta de meu ombro e sorrateiramente me tirou do meio daquela pequena multidão.
- O que está acontecendo? – perguntei, olhando para os lados e me sentindo ligeiramente tonto.
- Houve um acidente de trânsito. Por isso o hospital está uma loucura. – ele disse, ainda me guiando pelos corredores movimentados. Enfermeiros corriam de um lado para o outro e um pouco distante, pude ouvir gritos, que só me deixou ainda mais nervoso.
- Onde está Felipe? – finalmente consegui ter coragem de perguntar e fiquei um pouco aliviado quando chegamos a uma ala do hospital onde as coisas estavam mais calmas. O único barulho que restava agora, era de maquinas respiratórias. – O que aconteceu? – de repente parei, no meio do corredor deserto, ao me dar conta de que estávamos na uti. Doutor Augusto me olhou por um instante e então respirou fundo, logo enterrando suas mãos nos bolsos do jaleco, fazendo com que um frio tomasse conta de minha barriga. Papai sempre havia me falado que esse era um gesto que os médicos sempre faziam quando tinham que dar más notícias aos familiares.
- Felipe está bem... Por enquanto. – ele revelou, mas continuei imóvel, o encarando. – Felipe teve uma convulsão e está passando por vários exames agora. Paulo ainda não tem certeza do que aconteceu, mas acha que o tumor avançou um pouco mais, causando a convulsão, e se isso for confirmado... – Doutor Augusto não concluiu.
- O quê? – perguntei, engolindo o seco e sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Meu pai deu alguns passos em minha direção e então colocou suas mãos em meus ombros, fazendo com que eu o olhasse.
- Se o tumor tiver avançando, significa que não temos mais tempo. Felipe precisa ser operado com urgência. – disse meu pai, fazendo com que minhas pernas quase cedessem.
- Mas... Mas... A cirurgia não foi marcada! – eu disse, de forma desesperada, me dando conta de que não estava preparado para aquilo.
- Filho, nós temos que esperar até Paulo ter todos os resultados em mãos, mas se a situação realmente tiver piorado, você precisa estar preparado, entende? - ele perguntou, fazendo com que eu o olhasse com atenção. Doutor Augusto manteve seus olhos fixos em mim por um momento, como se estivesse me estudando, então em seguida, ele respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, deixando claro o quão preocupado estava com tudo aquilo. – Olha, você sabe que não precisa passar por tudo isso, não é? – ele perguntou. – Não quero ver o que meu filho vai se tornar caso o pior aconteça. – disse meu pai, enquanto eu apenas o encarei ali, permanecendo imóvel. Sabia o que aquilo significava, por isso apenas dei um passo para trás e respirei fundo.
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O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)
Romance"Estar com Felipe era como esquecer o mundo e todos os problemas. Os pensamentos em relação a Lucas nunca entravam em minha mente quando estávamos juntos. Ele conseguia fazer com que todos os pesos que carregava nas costas se evaporassem em questão...