O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)

Capítulo 10

O apartamento de Felipe soava calmo. Muito calmo. O lugar estava escuro e por um momento, deduzi que ele não estaria em casa. Eu estava decidido a seguir em frente, por isso respirei fundo antes de fechar a porta atrás de mim e acender a luz da sala. Larguei minhas chaves sobre a bancada de mármore da cozinha e então fiquei ali, parado e tentando organizar meus pensamentos.

O mundo inteiro estava girando dentro de minha cabeça. Ainda estava muito confuso, mas havia chegado à conclusão de que ficar pensando em uma decisão só me deixaria ainda mais perdido. Eu precisava agir, tomar uma atitude e ser corajoso para enfrentar e arriscar uma chance de ser feliz, e aquela era uma a primeira oportunidade que estava tendo, e estava disposto a não desistir dela.

O apartamento estava impecavelmente limpo e arrumado, como sempre. Não fazia a mínima ideia de onde Felipe estava ou quando chegaria, por isso decidi ir até seu quarto e esperar por ele lá, mas enquanto caminhava pelo corredor, me aproximando da porta, o som da central de ar me fez ficar imóvel na metade do caminho. O corredor estava escuro como na sala, minutos antes. A porta do quarto de Felipe estava aberta. Então lentamente, caminhei em sua direção e à medida que meus pés se aproximavam, um frio tomou conta de minha barriga.

Meu coração quase saltou pela boca quando avistei Felipe ali, deitado em sua cama, dormindo. Eu estava parado na porta, tendo toda aquela sensação de estar continuando de onde havíamos parado. O quarto não estava completamente escuro, pois havia um abajur ligado e isso foi o que facilitou minha visão de Felipe, largado sobre a cama, coberto até a cintura por seu cobertor. Ele parecia estar perdido num sono profundo, por isso hesitei um pouco antes de dar alguns passos hesitantes em sua direção. Eu não queria que ele acordasse. Não por enquanto.

O silêncio no quarto era absoluto e isso me deixou ainda mais nervoso, pois temia que ele notasse minha presença ali a qualquer momento. Eu estava parado diante de sua cama, o observando em seu belo sono. Os braços de Felipe estavam abertos, exibindo todo seu peito musculoso. Seu rosto estava virado para o lado e sua expressão era serena. Um sorriso tímido surgiu no canto de meus lábios quando notei seu cabelo desgrenhado. Podia contar nos dedos as vezes em que o vi daquele jeito.

Felipe não se moveu quando sentei na cama, de frente para ele. Respirei devagar, numa tentativa de não fazer nenhum barulho e em seguida, cruzei minhas pernas e fiquei ali, assistindo seu sono profundo. Mentalmente, torci para que as horas não passassem e eu pudesse ficar ali o resto daquela noite, apenas o admirando, pois ainda estava confuso pelo fato de não ter notado os sentimentos de Felipe antes. De não ter notado os meus sentimentos. Tudo pareciam tão óbvio agora. Os olhares, as conversas, as sensações... Como pude ser tão idiota? Como pude estar tão preocupado em esquecer Lucas quando aquele cara estava ali, esperando por mim, todo esse tempo? Mas esses pensamentos logo sumiram quando Felipe se moveu na cama. Meu corpo inteiro ficou tenso e eu fiquei imóvel. Um sinal de pânico começou a se apossar de mim quando tive certeza de que Felipe estava acordando, por isso olhei rapidamente para trás, para porta, estudando um jeito de fugir novamente, sem que ele sequer soubesse que estive ali, mas fui totalmente pego de surpresa quando voltei a olhar para Felipe e o encontrei ali, com os olhos arregalados, me olhando.

Felipe estava imóvel na cama, na mesma posição na qual o havia encontrado, mas agora ele estava acordado, e olhava para mim como se eu fosse uma assombração. Apesar da pouca luz que estava tomando conta do quarto, tive quase certeza de que ele estava pálido, e eu não deveria estar muito diferente.

- Oi. – eu disse, com a voz completamente insegura. Felipe piscou algumas vezes antes de falar algo.

- Você voltou! – ele disse, num sussurro. Um nó imediatamente se formou em minha garganta e me xinguei mentalmente por tê-lo abandonado antes.