O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)

CAPÍTULO 34 - ÚLTIMO

GUILHERME

Quase um mês havia se passado desde a proposta de Lucas, para que saíssemos da cidade. Ainda era estranho pensar em viver do outro lado do mundo, num lugar onde eu não conhecia, com pessoas de culturas completamente diferentes das quais estava acostumado. A ficha realmente parecia não cair, pois quando Lucas me fez a proposta, eu havia passado a noite inteira em claro, mas dessa vez, não era por causa de Felipe. Pelo menos não só por ele. Eu estava analisando aquela ideia e buscando qualquer lucidez na proposta. Sabia que conseguiria dar a volta por cima e que podia fazer isso ali, na minha cidade, mas pensar em ir embora e construir a carreira que sempre havia sonhado. Como Lucas havia falado, aquela chance... Ela era única!

Foram dois dias depois que finalmente conseguir criar coragem de tocar naquele assunto com Doutor Augusto. Não fazia a mínima ideia de como ele reagiria aquilo, mas eu estava disposto a tentar, por isso o chamei em meu quarto depois do almoço, enquanto todos voltavam para o trabalho. Doutor Augusto parecia mais tranquilo em relação ao meu comportamento, já que desde nossa última conversa, eu tinha realmente resolvido seguir em frente. Ele só não desconfiava da forma que eu queria fazer aquilo, e quando descobriu, surpresa estampou seu rosto. Meu pai simplesmente me encarou com as sobrancelhas erguidas quando mencionei a ideia de entrar num programa de estudos fora do país, por pelo menos um ano. Eu estava aflito e tinha prendido minha respiração por um longo instante até papai respirar fundo e me olhar diretamente nos olhos.

- Tem certeza que quer fazer isso? – foi sua pergunta depois que lhe expliquei todo o plano. Eu encolhi os ombros e respirei fundo, tentando não demonstrar o quanto estava com medo de fazer aquilo.

- Você sempre quis que eu fizesse algo grande e acho que essa é minha oportunidade. Posso dedicar esse ano a aprender o que for preciso para entrar na faculdade de medicina. – expliquei, vendo ele pensar por mais um momento, enquanto eu mordia meu lábio com força.

- Um ano? – papai perguntou e eu encolhi os ombros mais uma vez enquanto o via passar as mãos preocupadas pelo rosto e só depois, levantar da cama, caminhando em direção a saída do quarto, mas antes de sair, Doutor Augusto olhou para mim por cima de seu ombro e sorriu rapidamente. – Vou cuidar de tudo. – ele falou, fazendo com que meu coração começasse a bater rapidamente enquanto eu afirmava hesitantemente com a cabeça, sentindo que a partir dali, estava traçando um novo caminho em minha vida.

A notícia sobre minha viagem foi anunciada dias depois, durante o almoço. Havia pedido a papai que esperasse até que tivéssemos certeza de que tudo estava ok e que a viagem fosse marcada, pois não queria correr o risco de que Pedro ou Samantha me fizessem desistir daquilo. O único que sabia daquele segredo, era Luke, que foi o responsável por conseguir minha hospedagem durante aquele ano, na casa de seus pais que ficaram eufóricos com a ideia de receber um brasileiro em sua família. Havíamos nos conhecido por telefone e pareciam ser pessoas incríveis, que agradeceram várias vezes por termos cuidado e recebido seu filho de braços aberto e por isso fariam o mesmo por mim. Então, quando achei que já estava na hora, falei para eles sobre minha decisão. A reação de Samantha não tinha sido nem de longe o que eu esperava. Ela gritou, pulou e dançou ao escutar as palavras saírem de minha boca. Minha melhor amiga estava em êxtase.

- Você vai adorar a América, Gui! É tão lindo, tão chique e divertido... – ela dizia, enquanto me abraçava e tagarelava, fazendo com que papai e Luke rissem, ao contrário de Pedro, que continuou sentado à mesa, mastigando seu café da manhã enquanto encarava a xicara de café diante de si.

Meu irmão mais velho havia reagido da mesa que eu tinha imaginado. Pedro simplesmente não acreditou que havia um motivo além de Felipe por estar fazendo aquilo. Ele não entendia que eu não estava apenas sofrendo com a rejeição de Felipe. Pedro não estava sendo capaz de perceber o quão frustrada minha vida estava se tornando e que dar um tempo, viver fora do país para ampliar meus conhecimentos era a grande chance que eu tinha de construir um futuro.