CAPÍTULO 26

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Pedro havia saído do quarto há poucos minutos, mas Felipe e eu continuávamos ali, em silêncio, nos olhando como se fossemos dois seres completamente estranhos. Eu continuava sentado em minha cama e fingi arrumar meus livros enquanto observava Felipe me olhar de forma ansiosa. Além disso, não pude deixar de reparar que aquela era a primeira vez que eu o via descabelado, que não fosse nada cama.

- Achei que queria um tempo. – foi eu quem falou primeiro e isso pareceu deixá-lo aliviado.

- Eu também achava. – Felipe resmungou, baixando a cabeça por um momento antes de voltar a olhar para mim.

- E o que te fez mudar de ideia? – perguntei, engolindo o seco. Ele demorou um pouco antes de falar.

- Quando eu te conheci... – Felipe limpou a garganta antes de continuar. – Quando te conheci e me apaixonei, jurei para mim mesmo que nunca iria te magoar e muito menos te fazer chorar por minha causa. – ele disse, fazendo com que eu me sentisse desconfortável na cama, por isso me movi, sentindo meu corpo me trair com o nervosismo e ansiedade. Estava disposto a não me meter em uma briga novamente com Felipe, por isso permaneci calado, apenas o observando enquanto ele voltava a falar. – E eu sinto que venho quebrando essa promessa desde que essa bomba foi acionada. E se apenas acioná-la já causou todo esse estrago, imagina quando ela finalmente explodir, o que vamos fazer? O que você vai fazer, Gui? – eu não estava preparado para aquela pergunta. Não vinda de Felipe, daquela forma, cara a cara. Talvez por isso eu tenha demorado um pouco para respondê-lo, pois sua presença fazia com que aquilo se tornasse ainda mais difícil.

- Essa bomba não vai explodir. – foi o que falei, mas minha resposta não pareceu agradar Felipe, que logo sentou em minha cama, ficando muito próximo de mim.

- Se você quer mesmo, de verdade, enfrentar essa coisa comigo, esse não pode ser o seu pensamento, Guilherme. – disse Felipe, de uma forma tão sério, que não precisei pensar duas vezes para ter certeza de que ele estava certo. Mais um vez eu estava sendo ingênuo.

- Então... – engoli o seco várias vezes e baixei minha cabeça. Não conseguia se quer ter previsto que as seguintes palavras quase cortariam minha garganta. – Acho que se essa bomba explodir, vou ter que aprender a me virar sem você aqui. – eu disse, sentindo todos os pelos de meu corpo se eriçarem. O simples fato de imaginar aquela possibilidade já fazia com que um incômodo se instalasse em meu peito.

- Assim está melhor. – Felipe disse, de repente segurando minha mão. Ao olhá-lo, tive vontade de socar a sua cara ao ver seu sorriso encorajador e amargurado, mas lembrar que ele estava doente me impediu de fazer isso. Então, em vez de socá-lo, eu apenas me ajoelhei na cama e fiquei mais próximo dele, que nos mesmo instante tirou seus sapatos e subiu completamente na cama, tirando seu moletom, deixando-o cair no chão e se aninhando em meu colo, enquanto eu começava a acariciar seu cabelo macio com meus dedos. – Me desculpa por ter sido um babaca e tratado você daquela forma. – Felipe falou depois de alguns minutos de silêncio. Seus olhos encaravam o teto de meu quarto e eu observava atentamente seu rosto. Havia apagado a luz do quarto e deixado somente o abajur ligado, deixando o cômodo a meia luz. Pedro devia ter informado a papai que Felipe estava ali e talvez por isso ninguém nos interrompeu. Meu quarto parecia calmo demais só com nós dois ali.

- O que nós vamos fazer a partir de agora? – perguntei, sentindo os fios de cabelo de Felipe nas pontas de meus dedos, mas antes que ele respondesse, nós dois fomos pegos de surpresa quando um relâmpago iluminou meu quarto e em seguida, gostas de chuva começaram a bater contra janela de meu quarto, deixando claro a tempestade que estava chegando.

- Acho que terei que pedir abrigo ao seu pai. – disse Felipe, erguendo seus olhos para mim com um sorriso malicioso. Retribui aquilo e levei meus lábios até os seus, feliz por finalmente poder senti-los novamente. Felipe também pareceu contente com o gesto, pois seus olhos azuis brilharam, e mesmo no escuro, eu conseguia vê-los perfeitamente.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora