CAPÍTULO 24

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Na manhã seguinte, depois de ter passado a noite em claro, encarando o teto de meu quarto, levantei da cama assim que escutei o barulho vindo do corredor, o que me deu a certeza de que todos já deveriam estar de pé. Doutor Augusto pelo menos havia respeitado minha vontade de ficar sozinho, por isso não havia recebido visita de ninguém na noite anterior. Então, depois de respirar fundo e ter certeza de que tudo aquilo não era um pesadelo, obriguei minhas pernas a saírem na cama e fui até o banheiro, onde tomei um banho que durou quase meia hora.

Havia passado a madrugada inteira forçando minha mente a pensar numa solução ou numa maneira de salvar Felipe daquele inferno em que estava prestes a entrar. Não fazia a mínima ideia como faria isso, mas sabia simplesmente que eu tinha que fazer alguma coisa. Ele não podia passar por tudo aquilo sozinho, e foi pensando nisso que decidi fazer algo. Ainda não tinha certeza de como Felipe iria reagir a aquilo, mas não era mais uma escolha que ele poderia se dar ao luxo de fazer. Não era apenas a sua vida em jogo, mas a de todos que o amavam e se importavam com ele, então era simplesmente injusto que ele escondesse aquilo de todos, preferindo enfrentar aqueles demônios sozinho.

Saí de meu quarto disposto a começar uma luta pela vida do meu namorado, e foi pensando nas possíveis chances que tínhamos, que me senti ligeiramente mais forte, o que parecia ser ridículo naquele instante. Felipe não havia respondido nenhuma das mensagens que havia lhe mandado na noite anterior, mas não tentei me preocupar com isso. Ele havia me pedido um tempo e eu não fazia a mínima ideia do que isso significava, mas uma coisa eu sabia: Felipe não ia simplesmente esconder tudo aquilo de mim e depois me dar um chute na bunda. Se ele achava que ia me afastar dele, Felipe se quer imaginava como estava enganado.

Respirei fundo segundos antes de entrar na cozinha, onde encontrei todos reunidos num café da manhã. Maria estava organizando a cozinha com a ajuda de Clarisse, que como sempre, me ignorou. Eu já estava acostumado com aquilo desde a briga com Victor, por isso não dei importância. Um muro de concreto havia se erguido entre nós e eu não estava disposto a tentar derrubá-lo. E por falar em Victor, ele não perdeu a chance de soltar sua piscadela de sempre, que mais uma vez, ignorei. Pedro, Luke e Gustavo pareciam animados naquela manhã, o que só me deixou ainda mais nervoso do que já estava. Giovana engatinhava pelo chão da cozinha, numa tentativa de chamar a atenção de Gustavo e Pedro. Já Doutor Augusto, parecia ser o único a prestar atenção em mim ali. Ele estava com seu jornal na mão e a xicara de café na outra, enquanto seus olhos erguidos sobre os óculos de grau me analisavam descaradamente de forma séria. Eu apenas o ignorei enquanto me aproximava da mesa e pegava Giovana, que deu gritinhos e agarrou meu pescoço quando a coloquei em meus braços.

- Oi! – eu disse para minha irmãzinha, que exibiu seu primeiro dentinho que estava nascendo. Pedro, Luke e Gustavo me notaram pela primeira vez.

- Bom dia Gui! – Pedro disse, com sua animação de todos os dias. Um frio percorreu todo meu estômago. – Está tudo bem? – ele perguntou depois de ver meu silêncio. Eu havia me perdido em pensamentos durante alguns segundos. Eu só... Não fazia a mínima ideia de como fazer aquilo. Não estava preparado!

- Sim. – eu disse, depois de engolir o seco. – Um... Você está livre essa manhã? – perguntei, vendo Pedro franzir a testa.

- Claro! – ele disse, olhando em direção ao meu pai, que me encarava seriamente. Ele sabia o que eu estava fazendo. – Aonde quer ir? – Pedro perguntou e eu baixei o rosto antes de responder.

- No caminho explico melhor. – foi a única coisa que respondi.

– Tem certeza de que não aconteceu nada? Lucas está bem? – Pedro quis saber. A essa altura, todos já me olhavam com uma tensão em seus rostos.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora