CAPÍTULO 25

17.4K 1.6K 930
                                    

Por cerca de uma hora, andei de carro pelos arredores da cidade, sem saber o que fazer ou onde ir. Eu parecia ter entrado num mundo completamente diferente, que havia me tornado uma outra pessoa. Já não me sentia o mesmo Guilherme de três dias atrás. A mudança chegou rápido demais, sem qualquer aviso ou preparação. Era como se alguém apenas tivesse injetado algo em mim, fazendo com que uma semente de medos fosse plantada dentro de mim.

Eu ainda estava abalado com a discussão que havia tido com Felipe. As imagens de meu namorado transtornado pairavam em minha mente a cada cinco minutos e quando isso acontecia, apenas forçava minha cabeça a esvaziar qualquer tipo de lembranças que pudessem tirar minha concentração. Não podia permitir que nada me deixasse cair ou ser fraco. Tinha feito uma promessa para mim mesmo e nunca estive tão disposto para cumprir algo como aquilo, e talvez tenha sido essa força de vontade que fez com que eu chegasse até ali, no hospital.

O estacionamento parecia tranquilo. Faltavam poucas horas para o almoço e a àquela altura, meu pai ou Samantha deviam estar loucos, procurando por mim, mas desde que tinha saído do apartamento de Felipe, deixei o celular desligado, afim de sair daquele mundo por um instante. Então, decidido de que não podia ficar sentado, esperando as coisas acontecerem, entrei naquele hospital disposto a obter todas as respostas que eu precisava. Felipe não iria simplesmente desistir sem que eu pudesse tentar de tudo para ajudá-lo.

Fui cumprimentado por alguns médicos e enfermeiros que eram amigos de meu pai e tentei parecer tranquilo quando acenei, numa tentativa de mostrar que não estava ali para obter informações sobre o meu namorado que estava morrendo. Tudo o que menos queria, era que Doutor Augusto me flagrasse ali, e foi por isso que tive cuidado ao andar pelos corredores. Ao que tudo indicava, papai estava de folga, mas eu sabia o suficiente sobre a rotina de um médico para estar ciente de que isso não o impediria de aparecer ali naquela manhã.

- Oi! Você pode me dizer se Doutor Paulo está no hospital? – perguntei para uma enfermeira que parecia concentrada demais, rabiscando um prontuário. Ela demorou alguns segundos antes de erguer os olhos e me encarar.

- Ele está de folga. – ela disse, franzindo a testa por um momento e eu sabia o que aquilo significava, por isso tratei de desaparecer o mais rápido possível.

- Ok. Obrigado! – eu disse, torcendo mentalmente para que ela não soubesse quem eu era. Doutor Augusto era um médico conhecido no hospital, por isso, não fazia a mínima ideia de quem me conhecia ou não. Então, rapidamente, tratei de sair dali o mais rápido possível. Ainda queria ter mais informações sobre o tumor de Felipe, mas a única pessoa que podia esclarecer todas as minhas dúvidas era Doutor Paulo e ao que parecia, não tinha tido sorte em encontrá-lo.

Tentei ignorar o desânimo que caiu sobre mim naquele instante. Nada parecia funcionar ou caminhar de um jeito bom. Todas as minhas tentativas de ser útil estavam indo por algo baixo e eu simplesmente não gostava de sentir aquela sensação. A sensação de ser alguém inútil que não era capaz de ser quer entender o que estava acontecendo na vida do cara que amava.

- Ei! – eu estava caminhando por um dos corredores quando o escutei. Parei por um instante, olhando para trás e franzindo a testa ao notar que não havia ninguém ali, mas ao observar melhor e encarar a porta de um dos quartos, minha mente foi iluminada pela memória, por isso caminhei devagar até a porta de um dos quartos pelos quais havia passado. – Oi! – Lucas estava deitado na cama, com seu largo sorriso estampado no rosto. Ele ainda continuava com aquela coisa que imobilizava seu corpo, mas sua aparência parecia bem melhor do que no dia anterior.

- Oi! – eu disse, entrando no quarto e o observando. Por um instante, a lembrança de Felipe me vendo com Lucas invadiu minha mente e talvez por isso eu não me aproximei da cama. E Lucas, é claro, não deixou de notar isso.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora