EPÍLOGO

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15 ANOS DEPOIS

Era véspera de ano novo e o hospital estava significativamente tranquilo naquele fim de tarde. Os corredores estavam vazios e os pacientes pareciam calmos. Todos haviam questionado o fato de eu estar ali, quando deveria estar em casa, com minha família. O fato, é que aquele lugar tinha se tornado meu segundo lar e os meus pacientes, meus filhos. Eu tinha que estar ali e comemorar com eles, mesmo que por uma hora, a chegada de um novo ano que podia chegar cheio de esperanças para todos eles, e era por isso que dizia a mim mesmo que todas as brigas em casa valiam a pena se fossem por fazer aquilo. Eu estava fazendo o que amava e não me arrependia um segundo ser quer por isso.

- Gui! – a primeira a me notar quando coloquei apenas minha cabeça dentro da sala de recreação do hospital, foi Yasmin. Ela estava sentava no chão, brincando com Annie, a sua boneca favorita, quando seus pequenos olhinhos se ergueram, me encontrando ali e fazendo com que os outros também erguessem seus olhares.

- Olá! – falei, contente ao notar que todos pareciam bem dispostos, já que largaram imediatamente o que fazia para correr até mim, fazendo com que eu me ajoelhasse no chão para que ficasse na altura deles.

- Você veio! – disse Will, o caçula de seis anos da minha turminha.

- É claro que eu vim! Não ia viajar sem antes ver como vocês estavam! – falei, sorrindo para eles, que me cercavam.

- Você trouxe mais presentes para nós? – dessa vez foi Alan quem falou, já com seus olhinhos brilhando de ansiedade. O garoto adorava receber presentes, quaisquer que fossem.

- O natal já passou, Alan, mas prometo que assim que voltar da minha viagem, vamos fazer algo bem legal! – eu disse, vendo ele afirmar animadamente com a cabeça.

Fazia quase um ano que finalmente tinha conseguido finalizar minha residência e me especializado em Oncologia Pediátrica e sete anos desde que havia me formado em medicina. Era difícil acreditar que agora eu estava ali, olhando para o rosto daquelas crianças. Isso sempre acontecia. Batava olhá-las para ter certeza de que tudo, todas noites em claro, todos os obstáculos e todas as dificuldade na vida pessoal valeram a pena, pois além de realizar meu sonho de me tornar um bom médico e poder salvar a vida daquelas lindas criaturas, me sentia um homem mais forte do que nunca. Mas todos esses pensamentos evaporaram de minha cabeça quando senti meu celular vibrar dentro do bolso. A àquela altura, eu já estava sentado diante de uma minúscula mesa infantil, participando do jantar de mentirinha que as crianças haviam preparado para mim, e ao tirar o celular do bolso e ver a mensagem de texto estampada na tela do aparelho, eu suspirei pesadamente.

Onde você está? Estão todos esperando por você. Não se atreva a fazer isso!

- Gui, onde está o bonitão? – quem perguntou foi Yasmim, que estava sentada em meu colo e acariciava minha barba, como sempre gostava de fazer. Eu tive que sorrir de sua pergunta.

- Ele não pôde vir hoje, mas logo vai aparecer para fazer companhia a vocês! – eu disse, piscando para as crianças que sorriram. Elas o adoravam e isso as vezes me deixava irritado. Ele se quer precisava se esforçar para que elas gostassem dele, enquanto eu tive que me vestir de princesa para conseguir suas confianças.

- Doutor? – uma das enfermeiras que cuidava das crianças chamou minha atenção, fazendo com que eu a olhasse. – Acho que temos visita. – ela disse, lançando um olhar em direção a entrada da sala, onde olhei e logo abri um largo sorriso ao ver Pedro ali, com os braços cruzados, me observando. Algo me dizia que ele e estava ali a algum tempo.

- Crianças, agora eu tenho que ir, tudo bem? Prometo que não vou demorar muito e quando voltar, quero todo mundo muito disposto como hoje, entenderam? – perguntei, levantando desajeitadamente do chão e vendo meus pequenos afirmarem com a cabeça enquanto acenavam, se despedindo de mim. – Oi! – eu falei para Pedro, que me abraçou fortemente quando me aproximei. Fazia algumas semanas que eu não o via e não tinha certeza se o veria naquela noite. – Por que diabos você está sempre sumindo? – perguntei enquanto nós dois começávamos a caminhar pelo corredor vazio do hospital. Pedro riu enquanto enfiava suas mãos nos bolsos de sua calça.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)Onde histórias criam vida. Descubra agora