- Será que todos poderiam parar de me olhar desse jeito? – Felipe resmungou, horas mais tarde, depois de ter passado por uma série de exames. Eu ainda estava em choque com o fato de sua repentina perda de memória. Não fazia a mínima ideia do que aquilo significava. Quando encarei Felipe ali, olhando para mim como se eu fosse um completo estranho, a única sensação que consegui sentir, foi a de medo.
- Está sentindo algo além da dor de cabeça? – perguntou Doutor Paulo, deixando de olhar as pupilas de Felipe pela quarta vez, o que parecia estar deixando-o um pouco irritado. Felipe continuava deitado na cama, com Marina e Doutor Paulo ao lado de sua cama. Eu estava mais afastado, encostado na parede, sozinho, enquanto assistia aquilo.
- Estou com muita fome, mas ninguém que me dar algo para comer. – ele disse, lançando um olhar ameaçador para a enfermeira que verificava os aparelhos. Ela o ignorou abertamente.
- Nós precisamos ter certeza de que tudo está bem, Felipe. – tentou tranquilizar Marina, parecendo ainda estar em choque.
- Já estamos aqui há várias horas fazendo exames e ninguém ainda me contou o que aconteceu. – ele reclamou, me lançando um olhar de esguelha, mas logo voltando a olhar para sua irmã. Doutor Paulo deve ter percebido aquele gesto, pois virou o rosto em minha direção e suspirou. Algo em seu olhar fez com que eu engolisse o seco rapidamente. Tinha alguma coisa errada com Felipe e tinha a sensação de que algo ruim estava por vir.
- Já estamos acabando, Felipe. – garantiu o médico, checando pela última vez a pressão de Felipe antes de respirar fundo a cruzar os braços. – Por enquanto, parece que quase tudo está em ordem por aqui. O que é muito estranho. – disse Doutor Paulo.
- O que quer dizer com quase tudo? – perguntou Marina, adotando uma expressão preocupada no mesmo instante, mas Doutor Paulo apenas fez um gesto, lhe pedindo um pouco de paciência e voltando sua atenção para o paciente.
- Felipe, qual a última coisa que você se lembra? – ele perguntou e eu prendi a respiração. Felipe encarou seu médico por um longo momento, como se estivesse pensando em sua última lembrança.
- Eu... Não sei! – respondeu ele, enrugando sua testa e parecendo confuso. Seus olhos correram rapidamente para Marina.
- Você sabe que dia é hoje? – perguntou Doutor Paulo, o observando com atenção. Felipe negou com a cabeça.
- Não faço a mínima ideia!
- Você sabe qual seu nome? – ao ouvir a pergunta do médico, Felipe bufou, revirando os olhos em seguida.
- Mesmo que não soubesse, vocês têm repetido ele diversas vezes, então... – zombou, fazendo com que eu me sentisse incomodado com o fato de estar agindo daquela forma estranha.
- O que está havendo? – Marina perguntou, percebendo pela primeira vez que seu irmão estava diferente. Eu não havia lhe contado sobre o fato de Felipe não me reconhecer. Quando a acordei, ela ficou tão agitada com o fato de que ele estava acordado, que se quer percebeu durante aquele tempo que eu estava me mantendo distante.
- Felipe, preciso realmente me ajude, ok? – insistiu o médico, depois de respirar fundo. Meu namorado se manteve calado, apenas encarando o teto do quarto, parecendo um garoto mimado. – Você sabe quem é ela ou porque está aqui no hospital? – perguntou ele, mais uma vez. Marina ficou séria no mesmo instante e então olhou em minha direção. Eu continuava imóvel, ainda sem ter certeza de como estava me sentindo de verdade. Felipe demorou um pouco para responder. Ele parecia estar pensando numa resposta ou simplesmente complicando as coisas.
- Ela é Marina, minha irmã. – cedeu ele, lançando um olhar para sua irmã que sorriu e em seguida olhou novamente para o médico. – E o que estou fazendo aqui? Provavelmente é porque você contou a ela sobre o tumor e me convenceu a fazer essa merda de cirurgia, não foi? - perguntou Felipe, lançando um olhar furioso em direção ao médico, que o ignorou e respirou fundo. Aquele foi o único sinal que precisei para saber que eu estava muito ferrado.
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O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - DECISÕES - LIVRO 03 (RASCUNHO)
Romance"Estar com Felipe era como esquecer o mundo e todos os problemas. Os pensamentos em relação a Lucas nunca entravam em minha mente quando estávamos juntos. Ele conseguia fazer com que todos os pesos que carregava nas costas se evaporassem em questão...