27 de Dezembro de 2014. – Primeiro ano da faculdade.
A noite era fria e a neve ainda caía lá fora cobrindo a cidade que nunca dorme com seu manto branco. Já era noite e a única luz presente do lado de fora era a lâmpada fraca da varanda e a lua que dava formas assustadoras às árvores com galhos espessos e cobertos de neve que cercavam a residência dos Passos.
Sentados no banco de balanço da varanda estavam Adinan e Bárbara estudando um novo livro que o pai da garota comparara numa loja de livros usados, ele sabia que já tinham lido todo o estoque da prateleira da sala, então não hesitou quando viu o nome de Emily Dickinson na capa; seria a primeira poetisa que leriam e o homem não poderia estar mais animado com a ideia.
- Eis minha carta ao mundo, que a mim nunca escreveu singelas notícias que a natureza deu, com majestade e doçura, sua mensagem se destina. As mãos que nunca verei por amor a ela, doces conterrâneos, julgai-me com ternura.
Babi lia com seu pai a acompanhando com outro exemplar de poemas, eles revezavam a leitura e aquela era a primeira vez que Carol a ouvia recitar um poema. A garota estava encostada no batente da porta de entrada com uma xícara de leite quente em mãos e os olhos enterrados no perfil da figura que carregava seu coração. Babi não só tinha o dom da música, quando ela lia os sentimentos que eram expostos, junto às palavras tinha um grande poder sobre Carol que por um momento desejou poder ouvir aquela doce voz recitar poemas a ela pelo resto da sua vida. Ela amava tudo sobre Bárbara, desde seu fino nariz até seu maxilar trincado sempre que procurava por concentração. Os olhos castanhos... A brasileira dizia que os olhos de Carolina que a encantavam, mas ela não fazia ideia de que os seus prendiam a loira num mundo paralelo onde finais feliz es não eram uma opção ou sorte.
Eles apenas existiam.
- Espiando, Carolina? – a voz de Flaviana interrompeu seus pensamentos trazendo-a de volta à realidade da casa escura e fria. – Ah! Eles ainda estão aqui fora? Meu marido e Babi sempre perdem a hora quando se enfiam nesses livros de poesia. – riu mais para si mesma do que para a loira ao sentar-se na mesa de jantar da sala arrumando seu robe amarelo. Carol a acompanhou. – Você quer mais leite?
A loira negou com a cabeça oferecendo um sorriso à mulher que tanto lhe agradava. Era verdade que Flaviana tinha se tornado sua segunda mãe, ainda mais todos esses dias em que esteve hospedada na casa de Bárbara para o natal, a mulher sempre fazia questão de perguntar como ela estava e sobre sua família. E Adinan era seu pai, fazendo-a sentir-se confortável quando estava por perto, apesar das piadinhas sobre ela e Babi dormirem com a porta do quarto aberta, ficar todos estes dias naquela casa só aumentou a certeza da loira do quão próximos os dois eram, uma conexão que ela desejou poder ter com seu pai.
- Não, obrigada. – suspirou esforçando-se para ficar acordada e não desmaiar na mesa. Naquela manhã tinha ido pela primeira vez numa igreja com os pais de Babi, e à tarde os cinco foram patinar no lago congelado do Queen's. Ela poderia dizer que estava cansada e precisava dormir considerando que teriam muito a fazer no dia seguinte com a ideia de tomar café da manhã com Bárbara no The Village e a pequena festa de Arthur à noite. – Babi e Adinan sempre foram assim?
A pergunta escapou de sua boca antes que pudesse notar o que estava dizendo, mas Flaviana concordou com a cabeça cruzando as mãos em cima da mesa.
- Adinan fazia parte de uma banda sinfônica quando jovem - ela começou a contar observando a imagem do marido e da filha pelo vidro embaçado da sala. – eu o conheci ainda na faculdade, assim como vocês. Era o último ano e minhas amigas decidiram ir a um pequeno concerto, ele era o violonista e também o mais charmoso, se me permite dizer. – sorriu corando. - Meia hora depois do término da apresentação ele me chamou para sair, e nas semanas seguintes eu o estava apresentando aos meus pais. – riu com a lembrança. – Então eu fiquei grávida de Bárbara e Adinan decidiu que era hora de abandonar seus sonhos juvenis para se tornar pai de família. Eu sei que não foi fácil para ele deixar a música, sei disso porque durante toda a gestação ele insistia em tocar piano como se a menina fosse ouvi-lo. E acho que funcionou. – olhou em direção à porta com Carol seguindo seu olhar. Um suspiro cansado escapou de seus lábios. – No Brasil nós não tínhamos condições financeiras para criar Bárbara e seguir um sonho. Adinan precisou abdicar de um dos dois.
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The Red Bow - Babitan
RomanceQuando se é jovem geramos expectativas e sonhos muitas vezes maiores que nós mesmos, o amor é o extremo do perfeito e canta a melodia mesmo sem saber a letra. Babi e Carol formam o perfeito oposto, mas a pergunta é: Isso durará para sempre ou acabar...