A chaleira apitou indicando que o chá que irradiava o aroma de hortelã pela casa estava pronto. Babi serviu duas canecas, as colocou numa bandeja de plástico e lançou um último olhar para Bruno que estava esparramado no sofá assistindo a reprise de Friends. A morena carregou a bandeja até o segundo andar na primeira porta a esquerda do corredor e bateu duas vezes antes de empurrar a porta entreaberta com o corpo, revelando um quarto mal iluminado pela janela fechada e o brilho da TV ligada. Flaviana Passos se encontrava sentada na enorme cama de casal com os olhos fixos na TV, revendo, que pelas contas de Babi era a 74° vez, alguns vídeos caseiros. Esse tinha se tornado seu novo hábito desde que Adinan faleceu, a forma que a mulher encontrou de sempre manter seu marido por perto, todos os dias. Sua depressão tinha melhorado muito desde que Babi deixara o emprego de garçonete para se torna professora e pode pagar o tratamento de mãe, os remédios e sessões tinham feito Flaviana voltar a conversar e compartilhar seus sentimentos. Ela ainda não saía do quarto, mas gostava de passar horas conversando com seus filhos. Bruno vinha sendo seu porto seguro cozinhando, limpando e cuidando da mãe com apenas 11 anos.
- Eu trouxe chá de hortelã, seu preferido. – disse Babi sorrindo para a mãe que retribuiu. A filha mais velha deixou a bandeja em cima da cama e subiu do outro lado ajeitando-se contra a cabeceira e entregando uma caneca à mulher. – Como está hoje?
Flaviana aceitando a caneca e encarou o chá por longos segundos e quando respondeu, seus olhos estavam perdidos na TV.
- Eu não tive pesadelos essa noite também... Talvez isso seja um avanço.
Os pesadelos de que ela falava se tratava dos sonhos sobre Adinan que tiravam seu sono e a deixava extremamente nervosa. O psicólogo disse se tratar do fato da mulher não deixar Adinan ir em memória, sonhar com ele se tornava uma forma de tortura para si mesma.
- Eu fico feliz por isso! – sorriu amplamente e bebericou seu chá, queimando a língua em seguida e praguejando-se por ser uma droga na cozinha. – Foi só trocar o calmante e a senhora voltou a dormir tranquilamente, aquele outro era fraco demais.
A mulher concordou com um aceno de cabeça e continuou encarando a TV. Ela não fazia por mal, era uma desatenção que tinha adquirido com a depressão e Bruno e Babi tinham consciência de que os diálogos com a mãe seriam monólogos até um avanço.
- Bruno ganhou o concurso de poesia ontem, ele deve ter contado isso. – disse casualmente e seguiu os olhos de Flaviana à TV. – Eu sempre soube que ele tinha talento com as palavras. Lembra do jardim de infância? Ele sempre fazia as apresentações primeiro por ser o mais inteligente. – riu com a lembrança de acompanhar os pais nas apresentações do irmão. Logo seu sorriso morreu e arrependeu-se de tocar no assunto, mas quando voltou seus olhos para a mãe, Flaviana parecia inerte ao mundo ao seu redor.
Suspirou. Sentia falta das conversas jogadas fora com a mãe, sentia mais ainda falta dos momentos em família que eram sempre importantes em certa época de suas vidas. Pensar nessa época trouxe as lembranças de Carol e seu encontro no dia anterior na sala de aula. Sentiu um frio no estômago ao lembrar-se de que Bernardo era filho de Carol. Filho. O garotinho de 4 anos tinha sido gerado pela pessoa que ela mais amou em seus 25 anos de vida.
- Eu encontrei Carolina. – soltou como se contasse sobre seu dia.
Flaviana virou o rosto para a filha e a encarou por um tempo.
- Carolina? – ela perguntou parecendo confusa, mas a verdade é que ela sabia muito bem de quem se tratava.
- Sim, minha ex namorada. – dizer isso soava tão estranho. Babi mal falou de Carol desde que fora abandonada, então se privou de usar esse termo quando se tratava da loira. – Ela é mãe de um dos meus alunos, louco, certo? – Flaviana não esboçou nenhuma emoção, então ela continuou. – Ela está noiva e tem um filho. – disse como se mal acreditasse nas próprias palavras. – Ontem o noivo dela, Logan, me chamou para um jantar hoje e eu aceitei. Eu estraguei tudo, não foi? – franziu o cenho e deixou a caneca na bandeja, assim como sua mãe. – Todo meu esforço para me manter afastada dela esses anos e agora eu simplesmente estrago tudo entrando em sua vida outra vez.
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The Red Bow - Babitan
RomantizmQuando se é jovem geramos expectativas e sonhos muitas vezes maiores que nós mesmos, o amor é o extremo do perfeito e canta a melodia mesmo sem saber a letra. Babi e Carol formam o perfeito oposto, mas a pergunta é: Isso durará para sempre ou acabar...