PARTE UM: Mergulhando no desconhecido e as seis coisas impossíveis

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Capítulo Um

Alguém está batendo na porta do meu quarto, tenho certeza disso. Não quero levantar e abrir para descobrir quem está batendo, se eu continuar deitado e de olhos fechados, sem me mover com certeza dormirei. Li na internet que se não nos movermos enquanto estivermos deitados em quinze minutos, dormiremos. Estou tentando dormir de novo para não ter que responder, estou tentando dormir de novo para que a pessoa que está batendo desista e me deixe sozinho no meu resto de domingo. Claro que isso não acontece, minha mãe não me deixaria no quarto o dia inteiro.

— Já vou!

As batidas cessam, finalmente. Levanto-me com um rosnado mal-humorado e instintivamente olhei para o calendário colado à parede. Semana passada, decidi mudar minha cama de lugar, antes ela ficava perto da estante de livros de quatro prateleiras, mas agora fica de frente, perto do guarda-roupa e da porta. Hoje é o dia em que meu padrasto chega de viajem. Ele tinha viajado semana passada deixando algum dinheiro para minha mãe e alguns brinquedos para o filho dele — Ian —, foram os melhores sete dias da minha vida nos últimos anos. Tirando a parte que tive de ir à escola a pé, mas é melhor que ir no carro dele ouvindo-o falar sobre qualquer coisa e na sua maioria, essas coisas eram de como minha mãe era teimosa, de como ele precisava de mais dinheiro para um carro novo e de como eu era estranhamente calado. Eu o ignorava a maior parte do tempo, meu avô me aconselhou a fazer isso quando Robson ameaçou jogar meu celular na parede de casa por eu esquecer de avisar sobre Ian sair mais cedo da escola.

— Eric!

Não me esforço para gritar uma resposta, visto uma roupa limpa e vou em direção ao banheiro, me apresso e saio em sete minutos. Encontro minha mãe e meu avô sentados no sofá. Minha mãe ainda usava o colar de asas de anjo que dei para ela no dia das mães. — Mas isso foi antes da nossa vida virar de cabeça para baixo.

Meu avô foi o que mudo mais dentre nós três: cabelos completamente brancos agora e usa óculos grandes e fica de meias sem sapatos, ele vivia reclamando que seus pés ficavam frios de repente. Minha mãe tem pavor da ideia de colocá-lo num lar de idosos por isso sempre morou conosco. — Mesmo que Robson tenha achado isso uma péssima ideia no começo, agora ele ignora meu avô como costuma me ignorar.

— Sente-se... Não, espere. Busque o controle da televisão. Seu irmão já acordou?

Nego.

— Está tarde, vá acordá-lo.

Entrego o controle a ela. Ela tinha prendido os cabelos num rabo de cavalo justo e assim dava para perceber que alguns fios pretos estavam se misturando aos brancos. Fui até o quarto de Ian. Ele tinha o quarto um pouco maior que o meu e do meu avô: Quando alugamos a casa ela só tinha três quartos e minha mãe deu a ideia de Ian e eu dividirmos um e deixar meu avô com o que sobrar. Claro que Ian não quis, ele não gostava muito de dividir e por isso meu padrasto falou com o dono da casa —pelo que sei, uma amigo de longa data dele, os dois tinha estudado juntos — e perguntou se mais um quarto podia ser feito sob os custos dele mesmo. Assim surgiram mais quatro paredes para Ian, o que diminuiu um pouco do quarto da minha mãe. Acho que ela não ligou para isso, tampouco Robson.

Quando abri a porta do quarto Ian ele estava jogando videogame, as janelas fechadas e a cama arrumada. — Ele tinha passado a noite em claro. De novo.

— Fecha a porta!

— Minha mãe está te chamando. Seu pai chega daqui a pouco.

Por um momento ele pareceu não ligar para o que eu disse, balançou os ombros como um boneco fantoche e ficou vidrado de novo. Então despertou de súbito e correu para o banheiro, pisando no meu pé.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora