Capítulo Trinta

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Largo o livro e escuto a gritaria no quarto dos meus... no quarto da minha mãe.

—Porque esse menino veio aqui? —Ela grita.

—Não sei, porra!

—Algum motivo ele teve!

Silêncio.

—Aquele merda não teve razão nenhuma! Vou mata-lo da próxima vez que o vi.

Deixo o livro de lado e me dedico a ouvir a conversa dos dois, que já não está nada baixa.

—Você fez alguma coisa com ele? Com esse menino?

—Lógico que não? Porque, sempre, você pergunta se fiz algo? O que acha que eu sou? Acha que eu fico procurando intrigas por aí? Eu fico em casa, se não isso, fico procurando emprego, Sarah. Para manter o meu filho e o seu.

Minha mãe fica calada por um tempo.

—Só tente não arranjar confusão com todo mundo, morei aqui quando criança, não quero que as pessoas fiquem falando da nossa família. Já estamos bastante sobrecarregados. Você pensou no que eu disse?

Robson resmunga.

—Estamos falando sobre Eric. Você deu a ideia de conversar com ele... Não lembra como... —essa parte ela começou a cochichar, mas minha orelha estava perto da porta o suficiente para ouvir tudo —de como ele apareceu com os olhos inchados como se estivesse chorando e eu nem sabia que ele conhecia o vizinho. Pai me disse o nome dele, Otávio alguma-coisa, mas Eric... Estamos preocupados com ele, não estamos?

Estamos.

Não ouvi a resposta de Robson; talvez ele não tenha respondido mesmo.

Continuei com a orelha esquentando pela pressão na madeira, mas controlava minha respiração para que ela não ficasse alta demais: inspire, prenda, solte pela boca em intervalos. Faça, refaça e escute.

—Conversei com ele no quarto antes... disso. —Posso imaginar ela apontando para o nariz roxo dele —ele ia me falar alguma coisa. Tenho certeza.

—O que você acha que ele iria falar?

Demora uma eternidade para que minha mãe forme as palavras que quer. Senti um frio amistoso na barriga, mas sabia que não podia parar agora e ficar com mais essa cratera de duvida na minha cabeça.

—Não sei. Acha que é algo esquisito?

—Eric é esquisito.

—Mas ele tem se comportado bem. Está até falando com outras pessoas. Minha nossa eu lembro quando ele me disse que continuar as amizades é difícil. Não acho que seja algo de tão importante.

—Aposto que é. Você não vê como ele age quando você está fora, Sarah, ele fica transtornado, fica se escondendo pelos cantos. E se ele fizer a mesma coisa que seu ex-marido?

—Ele não vai. —A voz da minha mãe é assustadora, mas eu percebi. Ela não tinha tanta certeza do que falava.

Tirei a orelha da porta e enxuguei o suor da palma das mãos na camisa. Peguei o livro que tinha jogado no sofá algumas páginas amaçaram, mas só.

Quando minha mãe e Robson saíram do quarto, fingi não ouvir a conversa toda por trás da porta.

—Tudo bem?

—Tudo.

—Tem certeza?

—Tenho. Posso ir ao cinema hoje?

—Pode... Vai com alguma menina?

Júlia e Raquel iriam. Não é mentira quando digo que vou com elas. Seria mentira se a pergunta da minha mãe seria se eu pretendesse beijar alguém lá.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora