PARTE DOIS: Nuanças

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Capítulo Dezenove



Otávio passou por mim no corredor. Nós trocamos olhares rápidos.

Não é estranho saber que a pessoa que você gosta esteja vendo você todos os dias, passando por você pelo corredor e mesmo assim você tem medo de segurar a mão dela? É uma tremenda merda.

Paramos à porta da sala de aula. O intervalo acabara há dois minutos e mesmo assim, nem mesmo o professor chegou ainda. Entro primeiro.

— Já pensou onde vamos gravar?

— Tenho ideia de um lugar, mas preciso pedir a minha mãe... E talvez acho que vamos ter que mudar um pouco o roteiro.

Deixo minha bolsa escorregar do ombro para a cadeira. Mesmo agora fazendo duas semanas que bati na porta dele, todo encharcado, eu ainda me ressentia em sentar perto do grupo dele; Raquel, às vezes, me chamava.

— Como assim? O que a gente vai ter que mudar?

Otávio senta-se próximo a mim, em cima da mesa. Faço o mesmo e contemplamos a sala vazia.

— Júlia não quer ser a protagonista.

— Raquel pode ser.

— Nenhuma das duas quer beijar Privada.

— Colocamos André no lugar dele.

Otávio ri. Ri como eu rio quando sei que Ian está pegando um caminho fácil para uma questão complicada de matemática: não é para juntar os números, dois mais um são três e não vinte e um.

— Eric, eles não querem se beijar.

As pessoas de quem estávamos falando entram na sala. Júlia segurando o braço de Raquel, ambas rindo de alguma coisa. Privada está no celular e André, por incrível que pareça, está sério e não fazendo piadas com a primeira coisa que vê; geralmente eu, geralmente o primo. Ou as pulseiras que Raquel tem no braço.

— Do que estão falando?

Mais uma vez levo um susto silencioso.

É surpreendente como eu ainda não estava acostumado com a ideia de que fazia parte desse grupo agora. Antes, no primeiro dia do trabalho, era tudo muito frio, o círculo perfeito deles tinha ficado como uma bola murcha quando eu estava, era cinco, um número bom que eles não queriam por nada mudar. Então, de repente, ainda me assusto ao perceber que o círculo está de novo perfeito e que aquela antipatia sumiu como fumaça há duas semanas. Agora somos seis.

— Sobre o trabalho — digo — como assim você não quer ser a principal? Achei que seu sonho fosse atuar.

Júlia enrubesce.

— É o meu sonho. Mas veja bem, achamos que a ideia de vocês seria melhor porquê...

— Vocês, quem?

Júlia acaba olhando para Otávio e quase posso confirmar que ela estava desesperada por falar algo que não devia. Não consulto a expressões dos outros, nem mesmo é necessário. Todos devem saber de algo que ainda não sei. O que me faz questionar se o círculo está mesmo perfeito... Não, não posso pensar nisso.

— Vocês, quem? — Pergunto de novo.

O silêncio me deixava nervoso.

— Achamos que, talvez, você e Oti formariam o casal no curta. Porque vocês... Como vou dizer isso...

— Porque vocês já estão acostumados a se beijarem, sabe... Assim... — O André que faz piadas retornou e agora está de costas fingindo beijar alguém invisível.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora