Capítulo Vinte e Cinco

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—Oi.

—O que está fazendo aqui? —Levanto-me da cama em um pulo. Não acredito que ele está aqui ao mesmo tempo em que minha mãe e Robson estão! O puxo para dentro do quarto, mas não fecho a porta, isso levantaria mais suspeitas.

O coloco perto da janela.

—Otávio, você não... Pelo amor de Deus.

—Eu sei. Eu sei.

Ouço passos. Prendo a respiração e parece que meu corpo fica oco, escuto somente meu coração dando solavanco no peito e a cada segundo aumenta a velocidade. Não respiro até perceber que quem passou, foi ao banheiro.

Agarro o braço dele como Pedro agarrou o meu.

—Você não pode vir aqui. Não pode. Não quero que você venha.

—Eu...

—Não. Você não parece saber. Escute, minha família não é como sua mãe, eles não entendem, eles não querem entender. Minha mãe está com raiva de mim por causa do meu pai, meu padrasto é um sem-noção preconceituoso e está criando uma cópia dele em Ian.

—Seu avô...

—Não posso jogar isso nas costas do meu avô. É o pior momento.

Ele larga seu braço do meu, com ainda mais raiva do que sinto. Consigo perceber quando ele corou, quando suas mãos fecharam-se em punho, uma de cada lado. Estamos frente a frente, a menos de um passo, talvez. Tenho consciência de que tenho que me afastar porque nossa aproximação aqui é sinônimo de perigo. Consigo imaginar Robson entrando aqui e começando seu discurso preconceituoso sobre algo que não aconteceu, consigo imaginar ele olhando para Ian no momento em que fala como essa situação é terrível e má influência. Mas mesmo assim, meu corpo não quer se afastar do dele, nem um centímetro e isso me deixa desesperado, não pelo beijo ainda, mas apenas pela necessidade de não sentir medo dentro da minha própria casa. Quando disse que é o pior momento, não menti. Menti quando disse que não queria que ele vinhesse.

—Você não age como fala. —Diz.

Sinto meu peito afundar.

—Quando você está... Quando estamos sozinhos, você é uma pessoa diferente. Mas aqui dentro, é outra.

—Não pode me culpar por isso.

—Não estou culpando. Se quer estou jugando. Não percebe que você vê um julgamento em tudo? Sua insegurança é absurda, mas compreensível. Li as folhas com você, lembra? Não faço ideia do que se passa na sua cabeça, mas você pode contar comigo. Eu vou dizer só uma vez, Eric. Quando quiser que eu venha, pode dizer que sou apenas seu amigo.

Toco na mão dele. Dane-se minha família por ora.

—Isso é ridículo.

—Eu sei. Mas é a única opção para que eu possa vir ver você sem que fique com medo. Podemos disfarçar bem.

Rio.

—Otávio, você é um mentiroso tão ruim quanto eu sou péssimo em segurar a língua.

Separamos nossas mãos. Dei um passo para trás e por um instante esqueci que ainda estávamos no meu quarto, na minha casa. Mas esse momento de esquecimento passou tão rápido que quando lembrei, encolhi os ombros. As paredes podiam não guardar toda a conversa e se quiséssemos começar a mentir, que seja agora.

—Seu irmão estava saindo quando eu entrei. Disse que ia até a casa de Felipe.

Engulo em seco. Meu braço queima de repente ao me lembrar do arroxo de Pedro contra ele.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora