Capítulo Dez

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Nos falamos apenas no sábado à noite.

Pela manhã nada de muito importante aconteceu: acordei, vi que minha mãe estava animada porque seu primeiro dia de trabalho seria amanhã — o que causava efeito contrário em Robson. Eles me pediram para ajudar Ian a lavar a piscina que ganhou antes de enchê-la e começamos isso às dez, terminando apenas às doze. Ian estava animado, disse que convidaria Felipe para vir tomar banho aqui. Pensar em Felipe me fazia atar o pensamento em Pedro o que já não era tão ruim assim, já me convenceu de que o que aconteceu foi uma tremenda besteira. Eu poderia encará-lo agora, tenho certeza disso. Após almoçar, meus pensamentos sobre beijos se aprofundaram. Beijar era sempre a mesma coisa, o contato e tudo o que acontece depois dele, mas havia sensações diferentes que só era possível ter com uma única pessoa, e de novo, te levavam a dois caminhos: bom e ruim. Beijar Pedro foi uma experiência interessante, mas não foi boa.

Com Otávio já foi diferente, eu sabia que queria e foi melhor ainda.

Logo depois de pensar nisso pensei na minha sexualidade. Odeio pensar na minha sexualidade porque os questionamentos não param! Gay? Bi? Pan? O que eu era afinal?

Me acalma saber que todo mundo já se fez essa pergunta. Me acalma mais ainda saber que faço parte do grupo que ainda não teve sua resposta, porque esse grupo com certeza existe.

Ao contrário dos outros pensamentos que levo mais afundo, a sexualidade não é um desses. A deixo de lado, sempre posso adiar os assuntos que não me dou bem.

À tarde eu estava na internet pesquisando sobre Hollywood, sobre a calçada da fama, sobre os estúdios da Califórnia. Lembro que disse a tia Sandra que morar com ela seria o pontapé inicial para minha carreira, isso no telefone, minha mãe e Robson estavam ao meu lado. Os dois perguntaram se isso era certo.

— Porque não seria?

— Porque vai ser muito difícil, Eric. — Robson ainda era cordial naquele tempo, mesmo que ainda me intimidasse.

— Mas não impossível. — Mamãe lembrou com um sorriso torto.

Naquele momento eu não soube o que todo aquele dialogo tinha sentido. Robson na verdade, estava apenas contando as falhas enquanto minha mãe tentava tirá-las do caminho, pouco a pouco, ela também começou a contar as falhas. Sempre prometi levar meu avô para lá também, quando minha carreira decolasse.

À noite foi quando ele me mandou uma mensagem.

"Ainda podemos nos falar?"

Franzi o cenho tão forte que doeu. Meus dedos digitaram várias respostas "sim", "sim, porque não?", "óbvio". Mas todas foram imediatamente apagadas.

"Por toda à noite" — Tinha digitado.

A resposta veio em seguida, como uma respirada eu quase pude imaginar a voz dele.

"Ontem foi uma das maiores loucuras que fiz, nunca tinha beijado um colega antes, mas podemos confirmar que você me puxou, certo? Essa versão é bem mais concreta que a minha de que eu pensei que ia sair correndo. Passei a maior parte da noite pensando no que você disse que foi errado. Eu não achei nada errado".

"Tem razão"

Nenhum de nós digitou por alguns segundos. Talvez eu quisesse que ele iniciasse outro assunto algo que não seja sobre aquele dia. Talvez ele deseje o mesmo de mim.

"Posso ir aí de novo?"

"Você visita seus amigos toda a noite?"

"Não".

Logo em seguida ele digitou: "Só os que eu queiro beijar".

Ele chegou rápido, considerei que tivesse corrido pelo jeito ofegante que vi quando abri a porta. Não posso julgá-lo, quando ouvi as leves batidas na porta eu dei um pulo do sofá e corri até a porta quase tropeçando nos meus próprios pés. Abri a porta e vê-lo pareceu uma eternidade, mas era real pelo menos.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora