Capítulo Trinta e Oito

85 16 0
                                    

—Está doendo? —Otávio pergunta com a voz rouca de preocupação.

Nego com a cabeça enquanto nossa barraca nos cobre do resto de todos. Tento respirar fundo mais uma vez, mas a verdade é que está doendo, sim. Não achei que a segunda vez doeria tanto. Mas o que posso fazer se sou desastrado e coloquei outra farpa na minha mão?

Saiu um pouco de sangue porque a farpa mais parecia uma estaca na minha mão; abafei tantos gritos que suspeito que se abrir a boca de vez vou sair voando como bexigas não amarradas e cheias de ar.

A segunda farpa foi retirada e dei um gemido de alivio que mais pareceu um uivo.

—Prontinho.

—Obrigado. Fui o único a levar dois furos nas mãos?

—Foi —Otávio ri —, mas André pisou em cocô de cachorro.

—Eca. Porque você nunca se dá mal igual a todo mundo? É um superpoder?

—Ei, Einstein, olha a minha canela. —Quando olhei, mordi o lábio, ressentido. Havia milhões de arranhões na canela de Otávio e alguns já com sangue seco.

Não parecia doer tanto, mas senti como se as farpas fossem coisa besta. Como ele consegui aquilo e eu nem prestei atenção?

—Outra coisa, se eu tivesse que escolher um superpoder com certeza não seria não me dar mal. Que idiotice.

—E qual seria?

—Teletransporte ou congelar o tempo.

—Porque?

—Diz você que eu conto.

—Acho que eu escolheria... Voar.

—Muito simples, não acha? —Rimos.

—Pode ser, mas imagina a liberdade que deve ser e ainda mais se forem com asas ou como um jato. Eu voaria daqui para o exterior, depois quando me desse vontade eu voaria mais uma vez sem me preocupar com filas ou passaportes.

—Acho que tem relação com as minhas escolhas.

Não tivemos tempo para mais um daqueles momentos em que botamos tudo o que sentimos para fora de uma só vez, em um só fôlego. Isaac colocou a mão na nossa barraca e fingiu bater em uma porta e tive que abrir. O momento se esvaiu, foi guardado no bolso de trás por enquanto.

—Vou no mercado, querem alguma coisa?

—Vai comprar o quê?

—Vinho, cerveja e algumas coisas que as meninas pediram.

—Me traga chocolate. —Otávio diz.

—Beleza. Eric?

—Nada, mas valeu. —Isaac disse que poderíamos ficar fedendo se continuássemos só na barraca, o que deixou claro que ele queria que nós saíssemos para ocupar os outros.

E assim nós fizemos.

***

O pôr do sol foi laranja, rosa e roxo. Uma mistura que não tinham muito em comum, mas que juntas deixavam uma aquarela pacifica e maravilhosa no céu. O céu perfeito para uma foto.

—Vocês já pararam para pensar que não temos nenhuma foto juntos? —Júlia diz e faz com que nós seis parássemos o que estávamos fazendo para refletir.

—Caramba!

—Vamos tirar uma agora mesmo —Raquel diz animada —vou colocar no meu Instagram.

Nos posicionamos um perto do outro. Otávio segurou minha mão e André deu uma chave de braço no primo antes que a foto fosse tirada.

—Ficou perfeita! —Raquel grita e joga seus cabelos para o lado. —Assim que voltarmos eu vou compartilhar e vocês fazem o mesmo.

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora