CAPÍTULO 3 - Abstinência.

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- Luxúria!

- Sai! - Ela gritou de volta.

- Espera, eu quero conversar...

- Me erra porra! - Ela corria rápido pelo o jardim. Eu estava ficando ofegante, porém ela se descuidou. Luxúria tropeçou num regador e bateu com a testa numa pequena pedra no chão. Não a fez sangrar, mas tinha um galo bem redondinho no cenho.

- Isso não teria acontecido se tivesse esperado...

Eu não deveria ter dito isso, porque ela subiu sobre mim, me prendeu no solo com a grama molhada, apanhou a pedra na qual bateu a testa e ameaçou de enfiar na minha cara.

- Epa! Filho do chefe, lembra?! - Por um tris, quase perco um olho. Mas o comentário a fez cessar. Ela saiu de cima de mim e escondeu o rosto entre os joelhos.

- O que você quer? - Ela perguntou sem expor o rosto. Parecia irritada, mas calma.

- Eu não quero nada. Só quero ajudar.

- Não precisamos da sua ajuda. - Ela retrucou.

- Seu chefe gostou de mim. - Devolvi.

- Ele não é meu chefe. Ele é minha família. - Ela finalmente olhou para mim. O cheiro dela se intensificava, mas eu tentava me manter estável. Porque o cheiro dela me atraía tanto? E tinha aqueles olhos cinza gelo... aqueles malditos olhos cinzas gelo.

- Família? - Questionei.

- O que foi? Garotas não podem ter uma família num prostibulo? Vagabundas não podem formar uma família? Então quer dizer que o filho do chefe além de intrometido, é preconceituoso.

- Não é isso, eu só estava tentando saber...

- Saber o porque moro aqui? - Bingo. Ela sempre parecia estar a um passo a frente. - Bloody Mary abriga jovens artistas, em sua maioria LGBTQI+, entre outras variedades. Todos aqui, ou não tem família ou foram expulsos de casa, que dá no mesmo. Orfeus abrigou toda essa galera, para que elas não só pudessem por em prática os seus sonhos. Mas que aproveitassem o melhor do que essa vida poderia oferecer e de quebra, ter um lugar para chamar de lar.

- Então é por isso? Que estão tentando fazer o show beneficente? - Perguntei.

- Não estamos tentando, nós vamos fazer. E sim, é por isso. Podemos perder nosso lar e não temos para onde ir. Somos anjos nesse mundo de Deuses e monstros. Agora pode ir, vai lá falar para o seu pai e ele vir foder com a porra toda...

- Eu não sou um inimigo. - A encarei. - Eu falei sério, quando disse que queria ajudar. Então para de ser um pouquinho rabugenta e me deixa ser seu amigo também.

Ela se levantou:

- Eu não preciso de amigos. Já tenho minha família e eles são tudo.

- Luxúria! Para! - Estourei. - Para de ser uma babaca! Tá agindo feito às garotas mimadas e ricas da escola! Tá agindo como uma insuportável, porque que afastar as pessoas de você. Mas eu sei que você não é assim! Para de se sabotar! Para de querer fazer as pessoas te odiarem!

- CALA A BOCA! - Ela vociferou. Uma energia estranha cortou entre nós dois e me arremessou 1 metro a frente no ar, caí pesado no chão. Comecei a recuar me arrastando, tive medo de levantar e algo pior pudesse acontecer. O que era aquilo? O que estava havendo? Eu iria morrer?

- Calma...

- VOCÊ ACHA, QUE EU NÃO PERCEBO O JEITO COMO VOCÊ ME OLHA?! - Ela se aproximava, a sua saia esvoaçava e seus cabelos também. O cheiro que Luxúria emitia se intensificava. Era torturante, querer tanto segurar nas mãos e saber, que um passo em falso, algo de muito ruim poderia acontecer. Senti de repente, uma dor de cabeça insuportável que vinha do meio da testa, de dentro para fora. Mas o que me deixou estático foi a dor de queimadura que se expandiu sobre o meu braço direito. A dor travou em minha garganta, porém consegui jorra-la para fora com um grito que mais parecia estar sendo retirado de uma tortura. Segurei forte o braço direito, mordendo os lábios para sufocar a dor. A dor era presente e arrepiava. Meu corpo travou novamente e pude ver Luxúria próximo. Porém, a mesma também rolava e gritava no chão de dor, segurando o braço esquerdo. A sensação que eu tinha, era de como se algo circular e quente criasse uma queimadura de 3 grau na minha pele. Quando enfim olhei para o meu braço, havia claramente a imagem de duas cobras, uma engolindo a calda da outra. Minha visão turvou, foi a última coisa que eu vi antes de apagar completamente.

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