"Eu não lembro quando exatamente fui criado. Eu perdi as contas em algum momento. Idade nunca funcionou muito bem para pessoas infinitas. Eu sei o porque eu fui criado. Minha mãe me fez para ser um presente ao filho de Asmodeus, Marriet. Eu nasci um Inccubu. Meu corpo deveria ser dos errantes, dos retirantes, até de quem não tem mais nada. Conheci Anthon Marriet numa convenção de bruxas. Um lindo baile de salão. Era impossível não o notar, com seus paletó bem engomado em tom de azul turquesa, sua máscara cinza e aqueles malditos e vibrantes olhos azuis como os de um Husky Siberiano. Sua presença me causava arrepios e eu não entendia o porque. Fui ensinado sobre o meu lugar, desde que fui criado. Eu era um Inccubu de luxo. Não poderia ser comprado, eu era de uso pessoal. Mamãe disse que me criara para ser presente de uma pessoa especial. Que por isso, eu era especial".
Era um enorme salão. Com colunas brancas e adornos dourados. Querubins pintados no teto como a Era Renascentista. O chão era de um mármore cristalino, que quase era possível ver o próprio reflexo. Tudo parecia familiar. Orfeus estava a um canto, vestido de veludo negro. Apesar de quando a luz batia, causava um reflexo arroxeado. O rapaz de terno turquesa se aproximou do mesmo. Seu rosto tinha a barba por fazer, mas estava bem aparada. Era um pouco mais alto que o mesmo. Era pálido e tinha lábios rosados. Orfeus imediatamente olhou para o chão. Orfs estava ao lado de uma mulher que eu conhecia bem... Era a mãe de Lux.
- Orfeus, meu filho, deixe-me te apresentar. Este é Anthon Marriet, filho de Asmodeus. - Ela falou. Filho... Lembrei de como Cassandra o chamou: "Orfeus Bradham Vest". Mas Orfs era um Inccubu e Luxúria não...
- Está uma noite agradável, não é Senhora Vest? Ser o filho do pecado da luxúria tem lá sua regalias. - Ele falou. Pecado da luxúria? Mas...
- Ah, que é isso, não precisa de tanta formalidade. Pode me chamar de Lilith. - Ela respondeu. Lilith... Luxúria e Orfs eram filhos de Lilith... A primeira mulher de Adão... - Orfeus, onde estão seus modos? Não irá cumprimentar Marriet?
Orfeus olhou levemente para cima, para olhar o rapaz, mas sem erguer a cabeça.
- Boa noite... Mestre. - Orfs falou. Marriet estendeu a mão para ele.
- Não quer dar uma volta? - Ele perguntou.
"Estender minha mão de volta naquele momento, foi o maior crime que cometi a mim mesmo".
Tudo entrou em breu.
***
As bonecas se aproximaram de nós, elas se ajoelharam com velas brancas acesas. A cera das velas escorria por sua base e caíam em suas mãos de fibra. Uma boneca de vestido rosa, rodado e brilhante cantou para aquela realidade.
Já cansei deste lugar
Reprimido por medos infantis
E se tiver que ir
Por favor, simplesmente vá
Pois sua presença ainda está
Aqui a me perturbarE nada se curou
E a dor é surreal
Com coisas que o tempo não apagou"Marriet me levara para morar com ele. Eu já estava lá a muito tempo quando tudo começou a desandar. Eu lembro que... As vezes ele batia na porta do meu quarto de madrugada e reclamava sobre ser um fracasso, ele deitava em meu colo aos prantos e eu acariciava os seus cabelos negros. Ele me abraçava a cintura. Eu enxugava suas lágrimas e dizia que tudo ia ficar bem. O que era ligeiramente irônico, porque eu não sabia realmente o verdadeiro significado de estar bem. Ele dizia que tinha medo de nunca ser bom o suficiente para o seu pai ou para o seu reino. Dizem que chorar alívia dores emocionais... Mas depois de um tempo, aquilo não se tornou suficiente".
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VAGEVUUR
Fantasía"Ela me transmitia uma sensação estranha, de sabedoria e amargura. Era fatal, quase não precisava falar, seu olhar transparecia. Tinha olhos hipnóticos, ligeiramente diabólicos. E eu via que ela não esperava nada de nada e nem de ninguém. Era absolu...