CAPÍTULO 7 - Descendio.

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Me acordei com a porta de casa sendo escancarada. Ouvi meu pai jogar as chaves em cima da bancada. Desci as pressas, ele parecia nervoso. Eu o vi bebendo água com a mão trêmula, o copo escorregou de sua mão e se espatifou no chão.

- Merda! - Ele xingou.

- Calma, deixa que eu limpo isso. - Falei. - Tá tudo bem?

- 5! 5 Gaspar! 5 rapazes sumiram fora os outros 3! Pra piorar, a cambada de viado daquela garota da sua escola inventou de acordar todo mundo ontem. Levei um dos viadinhos preso e a corja de macumbeiros ficaram protestando na porta da delegacia. Eu interroguei o cara, mas ele não está afim de colaborar. Eu sei que essa corja está por trás disso, eu sei! O viadinho ficou zangado porque eu não cuidei do caso da invasão a casa dele e fez aquela palhaçada. E não fiz mesmo! Tinha coisa melhor pra fazer! Aí quando questionei, ele veio debochar da minha cara dizendo "Eu não tenho nada a ver com isso. E você também não pode fazer nada. Afinal, você não tem como provar".

Fiquei imaginando o tamanho da confusão que a Bloody Mary causou. Meu pai estava quase infartando de estresse. Limpei a cozinha e joguei os cacos do copo no lixo. Quando voltei para o quarto foi que percebi que tinha perdido o horário. As roupas que usei na Bloody Mary estavam jogadas no meu banheiro ainda. Apanhei para colocar para lavar e acabei sentindo o cheiro dela...
Lembrei do impulso que tive em beija-la. Foi como ir ao paraíso. Como caminhar sob as estrelas... mas as constelações se foram. Luxúria me achava um perrapado inútil. Um lado meu queria a odiar. Já o outro, me trazia a lembrança dela com um sentimento de pertencimento. Lembrei então da visão que tive com os soldados, lembrei dos gritos infantis. Afastei aqueles pensamentos após um banho. Me fitei por um momento no espelho, posso jurar que o reflexo sorriu para mim de forma maléfica sem eu ao menos alterar a expressão do meu rosto.

***

Meu pai havia saído novamente. O desfile feito por Lux e o pessoal da Bloody Mary passava numa reportagem na televisão. Estava muito bonito. Mas isso estava começando a ir longe demais. Eu precisava de respostas.
Apanhei o regador na garagem e o enchi de água na torneira. Fui lá fora regar as plantas. Um cheiro horrível começou a subir dentro dos arbustos. Me arrependi de ter ido checar. Havia um corpo de um rapaz. Estava decapitado e seus pedaços estavam presos nos galhos da cerca viva. Uma cruz invertida estava talhada na sua testa. Corri para dentro de casa e me tranquei. Peguei o celular e liguei para a delegacia. Foi aí que percebi, seja lá quem esteja fazendo isso. Está tentando chamar atenção do meu pai.
A polícia me segurou por um tempo em toda aquela situação, mas meu pai conseguiu fazer com que me deixassem em paz. Disse que não queria o filho dele metido em assuntos grotescos como esse. Eu pedalei até a Bloody Mary de forma mais atenta dessa vez. Os seguranças já estavam abrindo os portões quando me viram. Larguei a bicicleta no gramado e me dirigi a porta. Comecei a cutucar a campainha com ferocidade até que Celina atendeu.

- Você perdeu completamente o juízo? - Ela falou.

- Preciso falar com a Luxúria. - Respondi.

- Olha, não sei se ela quer falar com você. Levando em fato que seu pai prendeu o cara que ela considera um irmão.

- Celina, deixa ela decidir isso. Cadê ela? - Ela suspirou e revirou os olhos.

- Foi pra aula. Apesar dela odiar, disse que queria ficar sozinha num lugar que ninguém se importaria com a sua presença.

Chequei o relógio do celular: era quase 09h30. Significa que estava perto do intervalo.

- Valeu Celina. Se cuida! - Eu disse já correndo em direção a bicicleta.

- Manda a Vest te conseguir uma chave da próxima vez! Eu estava assistindo minha série! - Ela gritou de volta.

***

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