Gaspar estava a 3 dias arrasado. Eu estava começando a ficar preocupada. Ele não queria sair do quarto e quando saía, comia muito pouco. Quando eu chegava perto, ele sorria. Era como se alguém tivesse morrido. Eu até fiz uma brincadeira. Eu disse "Cê tá com uma cara que parece que alguém morreu". Ele olhou pra mim e disse: "E morreu, meu antigo eu. O tempo que perdi. Estou de luto pela criança que já fui. O bicho papão me ejaculou das bolas dele". Na noite do terceiro dia, ele se acordou gritando no quarto. Gaspar falou que havia algo em seu quarto, que ele vira uma enorme sombra de olhos vermelhos e brilhantes, do lado do guarda roupa. Checamos todo o quarto e a atmosfera enérgica dele, não encontramos nada. Ele poderia ter tido um sonho realístico ou, o que tiver visitado ele naquela noite, não era um obsessor. Cá estamos na quarta noite, e estou dormindo com ele. Coloquei sal na porta, janela e ao redor da cama. Sálvia queimava em um pires no canto do lado do guarda roupa. Ele dormia tranquilo com a cabeça próxima ao meu peito, até que começou a fazer barulhos estranhos. Eu o abracei e ele relaxou.
Foi quando ouvi uma melodia, como uma voz ecoando por todo o jardim, mas longínqua. Eu fui até a janela e a abri. Parecia um cântico guardião, como os que a Tha Nana cantava para gente. Levei um susto quando alguém encostou em mim: era o Gaspar. Parecia estar sonâmbulo, ia em direção a janela.- Protecton. - Falei o feitiço de proteção. Gaspar caiu de bunda no chão, espantado. Tocando o próprio corpo como se quisesse sentir que estava ali. Ele me olhou e me puxou, sentei em seu colo.
- Calma, tô aqui. Tá tudo bem. - Ele me abraçava.
- Tenho sonhado com uma voz me chamando de uma cachoeira. Todas as noites. Não consigo evitar de seguí-la. - Ele contou. - Me acordei quando ouvi sua voz.
- Como são estes sonhos? - Perguntei.
- É estranho... Sempre há um detalhe diferente. A primeira vez, vi uma cobra gigante, que nem a anaconda, daquele filme. Outra, eu corria as cegas na mata. Fugindo de um bicho grande de olhos vermelhos. Outra vez foi com uma coruja e agora... Era essa voz. Ela cantava e dizia algo parecido com "Criatura", "Criatuanda".
- Creaturae. - Falei.
- Isso! Era isso que ela dizia! O que isso significa?
- Significa "Criação", em latim. E também, era o nome de uma espada lendária.
- Uma espada? - Ele perguntou.
- É... Tem uma lenda que diz que Matusalém, o filho de Enoque, implorou a uma divindade para que lhe permitisse colocar seu nome inefável em sua lâmina. E essa espada teria a capacidade de matar demônios e entidades ruins. Capaz de exorcizar uma pessoa. Mas eu acho isso uma grande bobagem.
- Ué, você não é um demônio?
- Não da maneira como você pensa. - Eu sorri. - Demônios de onde eu venho, significa "Rebelde". Seres não submissos. E como todo ser existente, possuímos o bem e o mal. Cabe a nós decidir qual deixaremos aflorar em nós.
- Então não vieram do inferno? - Ele perguntou.
- Eu não disse isso. - Respondi. - Sabe, existem 2 tipos de inferno. O pessoal, que é aquele que está a todo momento dentro de você. Na cabeça, espírito e coração. E há o inferno físico, onde monstros sanguinários criam mentiras, guerras, estupram crianças...
- Monstros?
- Pessoas.
***
- Lux, tenho boas e más notícias, qual você quer ouvir primeiro? - Distúrbia falou assim que descemos para o café da manhã.
- Acabei de acordar. - Respondi.
- Ok, a boa notícia é que conseguimos dinheiro pra caralho ontem.
![](https://img.wattpad.com/cover/255545387-288-k11829.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
VAGEVUUR
Fantasy"Ela me transmitia uma sensação estranha, de sabedoria e amargura. Era fatal, quase não precisava falar, seu olhar transparecia. Tinha olhos hipnóticos, ligeiramente diabólicos. E eu via que ela não esperava nada de nada e nem de ninguém. Era absolu...