Seu vestido longo se arrastava pelo piso de madeira. Tinha algo viperino na forma como Cassandra se mexia. Não conseguia entender o que de tão diabólico possuía aquele olhar sem olhos. Não era a ausência dos glóbulos que me incomodava. Era aquela sensação de estar olhando para algo oco. Ela esticou o dedo indicador da mão esquerda e vagou pelo o ar. Sua unha parou em frente à Lux.
- Ainda não Vest. - Ela disse e soltou sua risada. A unha virou para a direita, onde estava Ayleen.
- Não. - Ayleen disse. - Prefiro morrer.
- Ah minha querida... - Cassandra deslizou o dedo pela face da mesma e afastou uma mecha de cabelo. - Viver de uma mentira, já é estar morta. Não está aqui para morrer, está aqui para reviver.
Uma nova porta surgiu. Uma porta roxa onde havia desenhos e adornos. Ayleen caiu para frente quando o feitiço que a prendia a libertou. Ela tentou usar alguma magia, mas não deu certo. A porta se escancarou e Ayleen avançou contra Cassandra que estava entre ela e a porta. Cassandra desviou usando a longa barra do vestido como um toureiro usa uma capa dizendo "olé!". Ayleen caiu no vazio através daquela porta. O chão sumiu para nós do quarto e então caímos no buraco e na escuridão.
***
Colidimos com a nova realidade. Apesar do barulho da queda, não nos machucamos. Estávamos sob um piso de mármore, muito lustroso. Ouvimos ressoar por ele, passos com som de salto alto. Os pés com salto pararam na altura dos meus olhos. Minha cadeira se ajustou novamente em pé, como se uma força invisível tivesse a erguido assim como as demais. Em pé, pude me encarar num espelho. Mas não foi meu reflexo que se refletiu e sim de Ayleen.
Seu rosto estava com uma maquiagem carregada, típica de eventos noturnos. Ela abriu uma pequena caixinha que tirara do bolso da calça de tecido vinil e tomou uma quantidade absurda de comprimidos que eu pensei certamente não ser á dose adequada.- "Tome um pouco de felicidade e encare a noite". - A voz dela ecoou pelo o que parecia agora observando, um banheiro. Mas ela não mexeu a boca nem um momento sequer.
Escolha uma personalidade
Grátis
Quando você se sentir
NinguémOuvimos a voz das bonecas cantarem de algum lugar. Alguém bateu a porta do banheiro, aquilo deixou Ayleen em alerta. Ela passou as mãos nos próprios cabelos, da raiz até as pontas e eles se tornaram loiros. Seus olhos antes negros, se tornaram um verde musgo.
De casa não quero mais sair
Quero ver o mundo explodir
Eu quero sangue e bolo também
E a bela farsa de alguémOuvimos as bonecas cantarem numa melodia totalmente nova, lenta e melancólica. O reflexo de Ayleen, deixou uma lágrima silenciosa escorrer pelo seu rosto, na qual ela logo enxugou e disse para si mesma:
- Você consegue. - Então, ela beijou seu próprio reflexo no espelho. Os saltos ecoaram de novo quando ela se dirigiu até a porta do banheiro. Ela segurou a maçaneta por um momento e respirou fundo.
Eu quero ser inocente
Uma puta do século a frente
Quero de novo minha virgindade
Para que eu possa sentir de novo liberdadeQuero beber até doer
Um grande erro cometer
Sangue, bolo e coragem
Eu vou vomitar tudo mesmo sem quererAyleen abriu a porta e estava num quarto com 9 homens. Vimos o rosto de Ayleen forçar um sorriso e a cena se apagar.
- Essa é a marca de escravidão de uma Succubu. A função de uma Succubu e um Inccubu, é servir. É ser usado como ferramenta de prazer. Somos feitos e comprados. Não somos nada sem um mestre. Estamos ali para entreter um público, desde a forma mais simples, até a forma mais sórdida. Somos acusados de vampirizar as pessoas, quando somente somos obrigados a atender seus desejos. Nos é negado comida a vida toda, para que só possamos nos alimentar de energia sexual. Que é quase como uma droga, muito difícil de lidar com o vício. Somos tratados como instrumentos a serem utilizados das formas mais abusivas. E ninguém liga pra o que somos, além disso.
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VAGEVUUR
Fantastik"Ela me transmitia uma sensação estranha, de sabedoria e amargura. Era fatal, quase não precisava falar, seu olhar transparecia. Tinha olhos hipnóticos, ligeiramente diabólicos. E eu via que ela não esperava nada de nada e nem de ninguém. Era absolu...