VAGEVUUR

CAPÍTULO 15 - A Boneca.

- Parece que chegou finalmente a sua vez Luxúria Vest. - Cassandra falou. Seu andar serpenteava até Lux.

- Eu não vou. - Luxúria disse sem nenhuma expressão.

- Isso não foi um pedido, querida. - Uma veia saltou na temporã de Cassandra. Porém ela estava sorridente.

- Nossa, você é muito o biscoitinho do Shrek... - Lux debochou ainda sem expressão. Uma porta negra apareceu.

- Você não sabe com quem está brincando, Vest.

- E você sabe? - Luxúria questionou. - Devia aprender seu lugar assim como eu aprendi um dia o meu Cassandra. É isso que dá, quando se cortam os fios de uma marionete.

- ENTRE POR AQUELA MALDITA PORTA, AGORA! - Cassandra explodiu. Lux conseguiu a tirar do sério. Aquele lugar inteiro começou a estremecer, como se fossemos comida dentro de um... estômago. Estávamos no estômago do bicho Tutu. Olhei para Lux, que finalmente deu um meio sorriso. Conhecia aquele olhar, ela estava planejando alguma coisa. A porta foi mudando de preta para um marrom carvalho. Luxúria se levantou da cadeira.

- O que foi Cassandra? Está cega de ódio? - Luxúria brincou.

- Vai pro inferno! - Cassandra saltou em direção a Lux, a porta se escancarou.

- As vadias primeiro! - Luxúria retrucou, acertando um chute bem no meio do peito de Cassandra, a fazendo atravessar o batente da porta no meio da escuridão.

***

"Eu lembro da história, de uma bruxa má. Os aldeões falavam sobre ela".

VAGEVUUR, 1658.

"Era o inverno da minha vida. E o homem pelo qual eu me apaixonei era meu único verão. Lembro que a noite, eu deitava, sorria e cantava com ele. Eu era uma enfermeira, nada muito popular. Que tinha o sonho de se tornar uma grande boticário. Mas eu vi esse sonho se partir em mil pedaços que subiam com as brasas de uma fogueira para o céu noturno".

Estávamos num bosque. Uma versão antiga de Vagevuur. Onde uma casa de madeira e palha estava em chamas, criando uma enorme fogueira. Era possível ver do lado de fora, encarando a cena, uma mulher de longos cabelos negros e olhos castanhos com um vestido tradicional camponês. Ao seu lado, um homem a abraçava.

"Eu estava voltando da missa, quando tudo que eu tinha foi lançado ao fogo do inferno. Naquela época, corria pela região que minha família descendia de um Coven de bruxas muito antigo. Mas nunca acreditei que esse fosse o ponto. Na verdade, é que homens possuem medo de mulheres que voam. Sejam elas bruxas, sejam elas livres. Eu estava numa inteligência acima da média para uma mulher do meu tempo. Baltazar, meu marido, era o único que admirava o brilho em meu olhar com uma visão de grandeza futura e objetivo. De fato, minha mãe foi uma bruxa. E de fato, eu também era. Mas eu me negava com todas as forças a isso. Eu só queria uma vida comum. Queria criar meus remédios, talvez ter 3 filhos, e ir envelhecendo ao lado do meu marido num chalézinho a beira rio. Mas pouco tempo eu aprendi a maior e pior lição da bruxaria: Se você não escolhe a magia, ela escolhe você".

Olá, sou eu
Estava pensando se depois de tudo
Ainda quer me ver
E superar o que ocorreu
Disseram que o tempo cura
Mas não aconteceu com o meu

Olá, está me ouvindo?
Estou em Vagevuur sonhando com o que nós já fomos
Na juventude
Livres
Nem recordava como era antes do mundo cair

E a diferença
Conosco
São centenas de anos...

Bonecas de pano cantavam nas estantes da nova casa de Cassandra. Cassandra acordara no meio da noite. Havia uma mulher de longos cabelos negros que iam até seus pés, num vestido de seda cinza e um diadema com duas luas crescentes de costas uma para a outra e entre elas, uma lua cheia. Era prateada, quando a luz da lua que adentrava o quarto pela janela, refletia em sua coroa. A mulher começou a se deslocar pela casa e Cassandra levemente se levantou da cama para não acordar o esposo e a seguiu.