CAPÍTULO 4 - Boneco De Neve.

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"Tá bom, pode me soltar". Foi o que ela me disse antes de saltar a janela do meu quarto. Foi uma situação assustadora, ver ela daquele jeito. Eu não conseguia pensar no que fez ela chegar naquele limite, mas agora eu tinha noção real de quanto era forte. Luxúria era como um broto numa tempestade, poderia vir ventos fortes e aguaceiro, nada a faria largar as raízes.
Me acordei no sábado de manhã com o meu telefone vibrando na cômoda ao lado, era Luxúria. Eu pisquei algumas vezes para o quarto entrar em foco e então atendi.

Luxúria: Bom dia fede a mijo. Dormiu bem?

Gaspar: O que você quer, Vest?

Luxúria: Tá afim de ir num lugar legal?

Gaspar: Onde?

Luxúria: Hospital Sonhos de Clarice.

Gaspar: Mas isso não é tipo, um hospital... pediátrico?

Luxúria: Sim, e daí?

Gaspar: O que você tá aprontando, Vest?

Luxúria: Apareça na Bloody Mary às 8 horas e vou te contando no caminho.

Gaspar: Ah, tá. Uhum, até parece que eu vou cair nessa sua ideia maluca. Alguma coisa tem. Fique a Senhora sabendo, que eu não vou em Bloody Mary coisissima nenhuma.

Luxúria: Tá.

Ela desligou.

***

Às 8 horas, eu estava em frente a Bloody Mary. Fui com minha nova bicicleta. Eu sei que eu disse que não iria, mas eu queria saber o que aquela louca estava aprontando. Em parte também, queria testar a bike nova e fazer um exercício. Por outro lado, queria ouvir o que Lux iria dizer. Mandei mensagem pra ela. Eu deveria ter questionado como ela conseguiu meu número, mas isso era meio óbvio. "Estou aqui fora", enviei. Ela abriu o portão e o fechou. Estava vestindo um macaquinho jardineira com uma cropped listrada preto e branco. Calçada com meia arrastão e All star. Fiz uma pose para me exibir com a bicicleta nova, esperando o elogio. Luxúria me olhou dos pés a cabeça com olhar de desdém.

- E aí? O que achou da possante nova? - Perguntei.

- Você tem 12 anos, Fiori? - Ela me respondeu revirando os olhos. Eu emburrei a cara.

- Porque precisa de mim pra ir num hospital pediátrico, e porque isso seria um rolê bacana?

- Eu precisava de alguém que soubesse tocar piano, e vamos nos apresentar. Todo mundo gosta de ser uma estrela famosa uma vez na vida.

- Vamos nos apresentar para quem?

- Para crianças com câncer, Gaspar. - Ela subiu na garupa da bicicleta e se segurou.

- E porque de repente, você decidiu ser boazinha? - Impliquei.

- Saiba o senhor, que faço isso sempre, 2 vezes ao mês. E eu sei como é lidar com a dor, você não pode acabar com ela, mas pode aumentar a distância entre vocês. É isso que vamos fazer hoje, aumentar a distância. Vamos?

Então eu pedalei.

***

O Hospital Sonhos de Clarice continuava da mesma maneira que eu me lembrava. Um hospital de 3 andares, grande em largura. Suas paredes internas, podiam ser vistas pela janela. Ainda pintadas em tons pastéis de azul, branco e rosa. Luxúria e eu chegamos por volta de 08h30, prendi a bicicleta no estacionamento enquanto ela abria a sua mochila marrom e tirava partituras. Parecia animada.

- Vai ser tão legal, preparei uma apresentação fantástica! - Disse ela empolgada. - Orfeus está lá dentro.

- Você quer que eu toque isso? - Perguntei olhando as partituras que ela acabara de me entregar.

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