CAPÍTULO 23 - Encontros e Combates.

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Eu nunca soube bem como era o inferno, porque eu nunca imaginei um caos com chamas ardentes. Mas toda aquela situação, era desesperadora. Eu mal conseguia respirar. Meus olhos, meus pulmões ardiam. Até que cheguei a uma rua, longe de toda cortina de fumaça, onde me lancei ao chão. Minha garganta estava seca e doía pelo tanto que gritei por Lux. Quando meus olhos se acostumaram um pouco com a ardência, pude ver um gramado e a um canto da casa, uma torneira. Me arrastei até lá e liguei a torneira, bebi a água avidamente. Espalhava ela em meus olhos. Senti uma presença. Me virei tão rapidamente, que assustei a moça de cabelos negros que se aproximava de mim. Deveria estar na casa dos 30, vestia um vestido azul e medieval, como aqueles dos camponeses.

- Espero que esteja bem. - Ela disse.

- Estou melhor, obrigado. - Respondi.

- Você me parece familiar. - Ela falou. - Você tem um cheiro familiar.

- Acho que é o cheiro de fumaça e pimenta. Acabei de fugir de um atrito policial duas ruas atrás.

Ela sorriu.

- Já sei de onde o conheço, é o filho do chefe, não é? - Ela perguntou. Pensei em dizer que não sabia se ainda era, mas não era importante.

- Sim, eu sou. - Respondi.

- Uh! Isso é interessante! - Ela exclamou.

- Porque? - Questionei. Ela olhou para trás, de costas para mim.

- Bom... Porque... - Ela olhou por cima do ombro. - Você é o último que falta!

Ela pulou contra mim abruptamente com um punhal, me derrubando no chão. Ela tentou o cravar em meu olho, mas desviei a tempo, a fazendo atingir o solo. A empurrei contra grama e levantei. Comecei a correr reunindo forças de onde eu não tinha. Ouvi um rugido monstruoso vindo de trás de mim. A moça começou a ter a pele de sua face, rachada como porcelana. De repente, sua cabeça explodiu. Dando lugar a um crânio flutuante num pescoço cuspindo fogo. O corpo começou a se contorcer, e eu não ia esperar para saber o que aquilo ia se transformar. Parte de mim sabia o que era, mas jamais entenderia o porque estava atrás de mim. Não conseguia respirar direito ainda, e quanto mais forçava meu pulmão, mais tontura me dava. Adentrei uma esquina escura, até que encontrei uma casa que não era iluminada pelos postes da rua. Me joguei a um canto, onde os arbustos poderiam me esconder. Mesmo naquele momento, orei que acima de tudo, Lux estivesse bem.

***

Eu tossia ainda após sair da multidão. Orfs veio ao meu encontro com os olhos muito avermelhados.

- Encontrou o Gaspar? - Ele perguntou rouco.

- Não... - Foi tudo que consegui pronunciar. Era dolorida, a porra toda. Toda aquela situação, me deixava indignada. Era desnecessária. Qual o problema em ser diferente?! Tudo aquilo ocorrendo, por causa de pequenas diferenças.

Orfs caiu no chão, tinha inalado muita fumaça. O atordoamento, complicava sua regeneração. Olhei para todos os lados e nada que eu pudesse tirar água. Tentei conjurar, mas a dor nos olhos estava insuportável e o cansaço impedia. Foi quando ouvi alguém gritar:

- ELES ESTÃO AQUI. - Era o padre, ainda com "Assassino" escrito em sua testa em latim. Logo os soldados chegaram e apontaram suas armas para nós. Estávamos cercados de todos os lados.

- Se rendam. - Ouvi uma voz dizer, uma voz que eu odiava com todas as minhas forças. - Não acha que já basta essa situação?

- Vai se foder, Marriet. - Respondi.

- Ah, pode deixar, Vest. Eu vou. - Ele dizia em tom sarcástico. - Com cada um de vocês.

- Você não vai tocar mais nenhum dedo em alguém da minha família! - Vociferei, tentei conjurar alguma magia, mas nada aconteceu.

- Então é assim que se encerra um ciclo... Com um estrondoso estrelismo. - Ele falou. - Está com algo que é meu, passe ele para cá.

Foi quando um lampejo verde cruzou por cima do meu ombro, indo em direção a Marriet, que desviou, mas não a tempo de um corte o atingir superficialmente o rosto.

- Eu não pertenço a ninguém, seu lixo imundo. - Orfs falou tentando se reerguer.

- O meu rosto... - Marriet disse, passando o dedo por cima da linha de sangue que escorria. Seu olhar foi de calmo a psicótico. Ele puxou uma pistola da cintura e apontou para nós. Eu não conseguia conjurar nada, precisava agir, precisava arranjar tempo.

- O chefe de vocês estão apontando uma arma para nós! Ele quer nos matar! Não vão fazer nada?! Não vão cumprir a lei?! - Questionei. Marriet riu.

- Achou que eu não ia vir preparado não é, Vest? Não há nada que faça, que possa alterar algo. Eles são como cães adestrados agora. O único comando que esses irracionais obedecem agora... São os meus.

- O que você quer com meu irmão?!

- Quero colocar ele dentro de outro caixão com baratas e escorpiões, para ele pagar por cada prejuízo que ele me deu!

Foi quando apanhei a pedra que estava na pista a minha frente e tentei acertar o olho de Marriet. Mas o reflexo dele foi mais rápido...

- Luxúria! - Orfs me abraçou e me virou de costas quando o estouro veio. Marriet disparou e o projétil acertou Orfs na costela. Eu sentia todo o som ao meu redor ecoar em meus ouvidos. Eu vi Orfs cair no chão com pesar. Vi a poça de sangue que se formava. Vi meu reflexo nela através da luz do poste. E vi quando em meus olhos, foram abandonados os últimos resquícios de sanidade. E Vagevuur...

***

E Vagevuur se tornou uma explosão de gelo. Me escondi através dos arbustos,  para me proteger do poderoso vento frio que vinha de todas as direções. Meus dentes se batiam de tanto frio. Neve cobria as calçadas e as plantas de forma muito veloz. Vi algo se projetar nos céus a 2 quadras de onde eu estava. Não sabia dizer se era um tornado ou uma nevasca. Saí de meu esconderijo de encontro a rua, apenas para dar de cara uma enorme criatura equina com brasas no lugar da cabeça. A famosa Mula Sem Cabeça, estava diante de meus olhos. Ela se ergueu para cravar seus cascos em mim, mas corri antes que pudesse o fazer. Corri em direção ao tornado de gelo que descia do céu e unia as nuvens. O ar era rarefeito por causa da imensa queda de pressão atmosférica. Mas eu não ia desistir, era uma questão de vida ou morte.
Ela vinha a todo vapor, ou no caso, a todo galope. Subi na calçada para dificultar a sua mobilidade caso ela subisse também. Ela trotava em minha direção e as labaredas em seu tronco eram diminuídas pelo vento gélido. Quando cheguei a rua de onde vinha aquele frio inteiro. Meu corpo começou a querer entrar em estado de hipotermia. O bicho ficava cada vez mais perto. Pude ver um homem segurando o próprio braço que começara ser congelado, segurando uma arma. Vi Orfs sangrando no chão e vi Luxúria provocando tudo aquilo. Me abaixei a tempo, quando a Mula se içou a frente para me atingir, e terminou atingindo o homem. Agora podia ver seu rosto, era Marriet. Corri em direção a Lux, mas o vento gélido queimava.

- LUX PARA! SE CONTINUAR COM ISSO, VAI MATAR O ORFS! - Gritei para ela, ela pareceu voltar a si e então caiu de joelhos com uma expressão perturbada. Em seus cabelos vermelhos, tinham duas mechas brancas. Vi o bicho se preparar para atacar de novo, mas dessa vez, não iria deixar se aproximar. - Creaturae! - Conjurei, porém não deu tempo de apontar para frente. Fui desarmado por uma Luxúria com insanidade no olhar. Um instinto assassino aterrorizante vinha dela. Eu conhecia aquela expressão. O amor da minha vida não tinha mais nada a perder.

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