Capitulo 1

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- Gizelly, uma das meninas disse que o recheio daquele bolo de casamento não está legal. Está mole e na hora de colocar vai escorrer pelas beiradas. 
- Calma, deixa que vou olhar.

Gizelly correu pra ver o recheio, mexeu com uma colher de pau e acrescentou alguns ingredientes. Em minutos estava espesso e macio.

- Pronto, deixe ferver e desligue o fogo. – falou com a doceira e saiu.
- Ô mulher arretada!
- Se precisarem de ajuda me chama.
Gizelly voltou para seu escritório. Tudo nele era a sua cara, nada rebuscado ou exagerado. Os poucos detalhes que tinham, eram sóbrios e sérios. Não dedicava seu tempo a futilidades. Sentou e recomeçou o cardápio novamente, minutos antes de sair da sala haviam ligado pedindo um coquetel completo para um evento em uma empresa de publicidade, a Mc Gowan.
- Bom, eles pediram qualquer coisa com camarão, querem um canapé brasileiro, então vou usar carne seca. – falava sozinha. – No jantar acho que truta ao molho de...
- Falando sozinha, daqui a pouco é babar na gola e rasgar dinheiro. – chegou Rafaela falando com a amiga e chefe.
- Oi Rafa, estou construindo o cardápio do coquetel da Mc Gowan.
- Ui, que chique! Pra quando?
- Final de semana, sexta-feira, mais precisamente. Temos duas semanas pra isso.
- Moleza pra gente.
- Sabe que fiquei ansiosa? É a agência de publicidade mais famosa do país e esse coquetel deve receber gente de todo canto do mundo. Tenho que fazer bonito.
- Você sempre faz, fica tranquila. Seu nome corre o Brasil também ta?! Quem não conhece Gizelly Bicalho ?
Rafaela falou e saiu e a deixou totalmente nostálgica.
Gizelly havia saído de casa com dezessete anos, sua mãe havia descoberto sobre sua sexualidade. Nem seus pais e familiares mais próximos aprovaram, então ela se mudou de uma cidade do interior de Minas Gerais para Niterói. Sempre tivera talento na cozinha e seu primeiro emprego lhe rendeu a confiança do chefe, dono do restaurante. Com isso pode fazer cursos e se aprimorar, foi passando de lanchonete à restaurante da alta gastronomia até abrir seu buffet. Não quis abrir um restaurante próprio, mas um café e que se tornou um dos mais aconchegantes e frequentados do Rio de Janeiro. Agora com quase trinta anos, ela tinha uma vida consolidada, era famosa no ramo e carregava muitas conquistas em sua bagagem. Só faltava amar alguém de verdade. E isso pra ela estava fora de cogitação.
Rafa entrou novamente em sua sala e a interrompeu.

- Quero saber se hoje você vai a inauguração daquele restaurante?
- Claro, se eu não for Vitor me frita na chapa. – riu.
- Então vou confirmar sua presença. Eles tão ligando direito, ou tá muito cheio ou vazio demais. Pela insistência. – fez uma cara debochada.
- Com certeza está cheio, depois que jantar lá, nunca mais vai querer comer em outro lugar. Ele é o melhor.
- Seu concorrente!
- Não vejo assim, aqui tem espaço pra todo mundo e ele seguiu pela culinária italiana. Estou mais pra brasileirinho, feijão com arroz. – sorriu.
- Ah sim, se servisse feijão com arroz aqui, teria uma fila de 10 quilômetros na porta. – riram as duas. – Vou confirmar sua presença e a minha tá? Não serei crítica de gastronomia, mas aceito um pratinho pra experimentar. – brincou e saiu fechando a porta.

Gizelly achava graça das piadas de Rafa. Desde que montara o café ela era sua funcionária e sempre a surpreendia positivamente. Tanto que se davam muito bem juntas. À noite iriam ao restaurante de Vitor, amigo de muitos anos e Gizelly faria uma reportagem depois da inauguração para o jornal onde tinha uma coluna gastronômica. Tinha fama de ser implacável em suas criticas. Terminou seu cardápio e arquivou para providenciarem os ingredientes na semana seguinte. Gostava de sair para comprar a maioria das coisas do restaurante, mas algumas tinha que passar para os funcionários, caso contrário não daria conta de tantos compromissos.

A noite, em casa, se preparava pra sair quando Rafa ligou.

- Pode vir me pegar?
- Claro, passo em meia hora.
Olhou-se no espelho e como sempre fez uma careta, se achava baixa demais. Tinha perto de 1,58 e sempre usava saltos para sair, queria parecer mais alta. Mas não era isso que as pessoas notavam e sim seus olhos castanhos expressivos e o sorriso meigo, que sempre lhe transparecia menos idade. Quando pegou Rafa na porta de seu prédio, ela logo falou.
- Diria que está na casa dos vinte.
- E estou sua sacana. – fez cara feia.
- Eu digo no início dos vinte.
- Ah sei, mas não é. O fantasma dos trinta me assombra.
- Vai chegar neles arrasando. Se valoriza mulher, que você é um espetáculo.
Rafa era lésbica e totalmente assumida, sabia que Gizelly era lésbica e conversavam muito sobre o assunto. Não sentia absolutamente nada pela chefe, além de um imenso carinho.

MEDIDA CERTAOnde histórias criam vida. Descubra agora